A Ideelab Biotecnologia, startup brasileira que desenvolve soluções biotecnológicas para empresas do agro, está de casa nova.
Depois de investir mais de R$ 30 milhões, a companhia inaugura nesta quinta-feira, 17 de julho, sua nova fábrica em Cambé (PR), na região de Londrina.
Equipada com biorreatores de 100 a 5 mil litros e sistemas automatizados, a nova fábrica de Cambé nasce com uma capacidade inicial de produzir 1 milhão de litros de produtos biológicos. A ideia, segundo Ronaldo Dalio, CEO e cofundador da empresa, é que em até três anos a unidade esteja produzindo 6 milhões de litros.
A Ideelab atua no desenvolvimento de soluções biológicas para o agro, e num modelo de negócio B2B baseado em royalties, vende para outras companhias de insumos distribuírem ao mercado.
O CEO explica que com a fábrica de fato funcionando, a Ideelab passa a se posicionar como um “CDMO”, sigla em inglês para Contract Development and Manufacturing Organization, usada para qualificar uma empresa que desenvolve e produz e entrega ao cliente final o produto já pronto para distribuição.
A denominação é comum no setor fármaco e, segundo Dalio, a Ideelab é o único CDMO da agricultura brasileira.
“Agora conseguimos ‘inventar’, produzir e o cliente só se preocupa em comercializar. Estamos muito felizes de chegar ao ponto de poder ter essa trajetória end-to-end”, cita.
Ele explica que quando a Ideelab foi fundada por ele e Sérgio Pascholatti, o propósito era desenvolver novas tecnologias e transferi-las para clientes.
Mesmo já num modelo B2B, Dalio percebeu que dois gargalos surgiram. De cara, quando a companhia desenvolvia alguma molécula e a transferia para uma indústria distribuidora, esse cliente precisava de um planejamento de custo de produção e shelf life.
Nesse momento, a companhia usou parte do seu caixa para criar uma pequena fábrica, chamada por Dalio de “facility de bioprocessos”. Além da questão de escala, o modelo de negócio baseado em royalties poderia não dar certo se o produto fosse usado no campo sem a rapidez e qualidade adequada.
“Se o cliente não colocasse ese produto no campo do jeito certo não receberíamos o resultado financeiro. Ele poderia estar com a fábrica 100% ocupada, ou sem condição de colocar o produto em alguma linha de produção, ou em certos casos, nem tinha a tecnologia adequada para isso”, disse.
“Foi aí que tomamos a decisão de investir numa unidade fabril”. Dalio havia adiantado a ideia ao AgFeed ainda em 2023, quando a unidade estava projetada para ser inaugurada em 2024. Alguns meses depois, nesta quinta-feira, o corte da fita aconteceu.
O investimento de R$ 30 milhões veio parte de um caixa próprio e parte de um investimento que a empresa recebeu da Inquima, fabricante brasileira de insumos foliares que fez um aporte na startup em 2022.
A Ideelab ainda tem um outro investidor, o WBGI, Venture Builder de Piracicaba, que apostou na empresa em 2020. O aporte de R$ 500 mil na época serviu para a agtech construir seu primeiro laboratório no parque tecnológico de Piracicaba.
Para saltar da capacidade inicial de 1 milhão de litros, Dalio considera abrir uma nova rodada para receber investimentos. “A fábrica já é dimensionada para os 6 milhões de litros, mas para chegar nessa capacidade demanda equipamentos novos, mais pesquisadores e mais linhas de produção. Vamos tomar a decisão de como fazer isso no futuro”, diz.
O foco da starutp está nas chamadas “novas gerações de biológicos”, com foco, segundo o CEO, em soluções que envolvem peptídeos, metabólitos e RNA.
Ronaldo Dalio cita que, desde que a empresa foi fundada, já transferiu 30 tecnologias para outras empresas. “São 11 produtos já no mercado com nossa tecnologia e, até o fim do ano, queremos dobrar a transferência para 60 tecnologias”, citou.
Um tempo rápido de desenvolvimento de produto é de dois anos. Depois, ainda é necesário passar por validações dos clientes e pelo processo de registro. Dalio cita que é a partir dessa safra que a companhia passará a gerar uma receita mais robusta também via royalties.
A Ideelab trabalha de forma customizável, a depender da demanda do cliente. Com isso, a gama de produtos já desenvolvidos é 60% defensivos biológicos e 40% promotores de crescimento. As culturas são as grandes do País: soja, milho, algodão, feijão, cana, café e citrus.
“A maior parte dos nossos clientes é uma empresa que veio dos fertilizantes químicos e quer ter portfólio de biológicos. Mas temos também empresas de fora do País com projeto em andamento para desenvolvermos portfólio completo. Há casos que demandam um biológico compatível com seus químicos”, afirma.
Além do desenvolvimento próprio, a Ideelab atua em conjunto com multinacionais para pensar em produtos. A empresa tem contratos firmados com ICL, Ginkgo Bioworks, Syngenta, UPL e Mosaic, todos com a premissa de desenvolvimento e produção na fábrica de Cambé. Alguns desses contratos são puramente para P&D, mas outros também tem acordos comerciais.
A nova fábrica dá robustez a outras estratégias na Ideelab, como a de internacionalização. A relação com o exterior se dá tanto enviando tecnologias biológicas brasileiras para fora quanto recebendo esses clientes que querem começar a atuar no agro nacional.
No início do ano a Ideelab contratou um profissional alocado em Boston, nos EUA, região próxima do MIT, para desenvolver esse plano.
“Exportar e trazer empresas que queiram entrar no mercado brasileiro já com tecnologias tropicais desenvolvidas e produzidas aqui. Há muita empresa que desenvolve biológicos em clima temperado e o produto não funciona aqui”, diz.
Resumo
- Com investimento de R$ 30 milhões, a Ideelab inaugura fábrica em Cambé (PR) com capacidade inicial de 1 milhão de litros de biológicos por ano
- A nova planta foi projetada de forma a, com novos aportes, ampliar a produção até 6 milhões de litros
- Fundada por pesquisadores da Esalq , startup desenvolve tecnologias para multinacionais como ICL, Syngenta,UPL e Mosaic, e empresas brasileiras