A Nitro não para. Menos de um mês depois de lançar oficialmente sua nova fábrica de produtos biológicos à base de bactérias, que custou R$ 50 milhões, em Várzea Paulista (SP), a companhia produtora de insumos agrícolas está anunciando uma parceria com a agtech Symbiomics, de biotecnologia, para o lançamento de uma “nova geração” de produtos biológicos até a safra 2028/2029.
A ideia das empresas é desenvolver bioinsumos focados em nutrição vegetal para culturas como milho e cana-de-açúcar, nichos de mercado que são menos atendidos que outros cultivos como soja e feijão, que hoje são o foco da maioria dos inoculantes do Brasil, além de alcançar áreas sob estresse climático, como o Cerrado do país.
A Symbiomcs vai trabalhar no desenvolvimento de produtos a partir de microorganismos, atuando com a análise de dados e utilizando seu pipeline de 12 mil microorganismos isolados de diferentes ambientes do Brasil e a experiência de quem já explorou mais de 40 solos em expedições pelo país. "A ideia é que a Nitro tenha acesso à essa coleção", explica Rafael de Souza, CEO e cofundador da Symbiomcs.
Já a Nitro ficará com a etapa de formulação dos produtos a partir dos microorganismos estudados pela agtech e, posteriormente, também levando a tecnologia aos produtores, comercializando os produtos.
“A Nitro tem capacidade de fazer esse ativo descoberto virar um produto de forma rápida, e dentro desse trajeto, fazer o escalonamento da produção industrial. Sair de poucos milílitros no laboratório para um teste e transformar isso em uma produção em larga escala para acessar o cliente”, resume Celso Santi Junior, gerente de pesquisa e desenvolvimento da Symbiomcs.
Para fazer suas análises de quais cepas tem potencial para se transformar em um produto, a Symbiomcs utiliza microorganismos descobertos a partir de sequenciamento genético e edição gênica, processos que são feitos em computador com uso de inteligência artificial e algotimos.
"A gente criou um pipeline dentro da Simbiomics, que vai do microorganismo ao produto. Passando por uma série de ferramentas novas, como análise de genomas, ferramentas de machine learning, inteligência artificial, que permitem com que a gente descubra quais são os menores microorganismos, ferramentas de edição genômica para modificar o genoma desses microorganismos e tornar eles ainda melhores", diz Souza, CEO da Symbiomics.
A capacidade analítica da agtech e seu acervo de cepas foram diferenciais que atraíram a atenção da Nitro, segundo Santi Junior, gerente de pesquisa e desenvolvimento da empresa.
“O fato de eles terem fisicamente mais de 12 mil bactérias é algo muito valioso. E também a capacidade de sequenciamento genético, de transformar esse acervo biológico em dados. Uma parte de análise desses dados é feita via inteligência artificial, pipeline, algoritmos, o que acelera muito o processo de discovery, para encontrar organismos com bom desempenho”, afirma.
Como a Symbiomcs utiliza soluções digitais para fazer a análise dos microorganismos, a parceria também tornará o processo de desenvolver produtos mais ágil. Enquanto, pelos métodos tradicionais, um biológico pode levar até dez anos para chegar ao mercado, com a tecnologia da agtech esse tempo pode ser reduzido a um terço.
“No processo clássico, você isolava esses 12 mil microorganismos, para usarmos um exemplo, e demoraria pelo menos três vezes mais tempo para analisar tudo, fazendo vários testes na bancada para saber qual organismo é aquele. E muito provavelmente você nem chegaria no detalhe das cepas e tudo mais. Também seria necessário o teste de capacidade de cada cepa, com um teste sendo feito de cada vez e analisar o que se ia ter de resposta”, diz Santi.
“Mas, quando você sequencia o genoma, isso vira um dado de computador, aplica pipelines, algoritmos, inteligência artificial, e já vem uma lista toda ali, que diz: ‘Essa bactéria, ela tem capacidade para fazer essa função, produzir aquela molécula, então ela consegue ter um potencial X.’ É por isso que temos esse ganho de tempo”, emenda.
O acordo entre as duas empresas é baseado em transferência tecnológica, modelo de negócio adotado pela Symbiomics. "Somos, basicamente, um time de pesquisadores, de cientistas, de bioinformatas, de agrônomos que fazem validações dos produtos, e licenciamento das tecnologias para as empresas de químicos que querem construir um portfólio biológico ou empresas de biológico que já tem um portfólio, mas que querem criar um diferencial trazendo tecnologias novas", explica Rafael de Souza, CEO da Symbiomcs.
O know-how da agtech em criar novos produtos foi um ponto que chamou a atenção da Nitro, explica Breno Marques, head de inovação e novos negócios da Nitro.
“Estamos buscando produtos com diferenciação na área de biológicos e o que a gente casou muito bem com o que a Symbiomics tinha pra oferecer. A Symbiomics foge dos organismos tradicionais que já existem no mercado. Estamos a gente está trabalhando com outros tipos de cepas, outros tipos de tecnologia, e isso agrega e faz muito sentido para a gente.”
Além da Symbiomcs, a Nitro mantém também uma parceria com outra startup, a Regenera Moléculas do Mar, que explora moléculas encontradas no fundo do mar e possui um banco de células com mais de 4 mil organismos. Essas moléculas são utilizadas pela Nitro de forma exclusiva no agro para a criação de novos produtos biológicos.
A tendência, segundo Marques, diretor de inovação da Nitro, é seguir investindo em parcerias para ampliar a oferta de produtos diferenciados no mercado. “É fazer isso em parceria, não só com agtechs, com startups, como é o caso da Symbiomics, mas com universidades, com centros de pesquisa, utilizando linhas de fomento à inovação”, afirma.
A Symbiomcs despertou a atenção não só da Nitro, mas também de investidores importantes ao longo dos últimos anos. Em 2023, em uma rodada pré-seed, a empresa já havia captado cerca de R$ 15 milhões, agregando nomes como o fundo global The Yield Lab e a Arar Capital, gestora criada pela Baraúna Investimentos, family office de famílias tradicionais do agro paulista.
Agora, há pouco mais de um mês, a gigante de insumos Corteva se juntou a esses investidores, ao liderar uma rodada de investimentos série A da startup por meio de seu veículo de investimentos, a plataforma Catalyst. A startup já havia fechado anteriormente um contrato com a Stoller, empresa focada em biológicos controlada pela Corteva.
Com essa nova rodada, cujo valor não foi divulgado, a Symbiomics pretende expandir suas operações. "Como temos um time pequeno, há um certo limite das parcerias que a gente consegue estabelecer, mas agora com esse investimento da Corteva, vamos expandir nossa capacidade, fazendo parceria com diferentes empresas e também expandindo o portfólio", explica Souza.
A Nitro, por sua vez, também acabou de dar um passo importante para a expansão de seus negócios. No começo de julho, a companhia fez a inauguração oficial de sua nova planta dedicada à fabricação de produtos biológicos à base de bactérias, que está operando desde janeiro deste ano e tem capacidade operacional de produzir 1 milhão de litros ao ano.
A ideia da empresa é de que a nova indústria, um empreendimento de aproximadamente R$ 50 milhões, traga um crescimento de até 30% ao ano ao portfólio de biológicos.
A nova planta paulista nasceu com um módulo industrial, com biorreatores e tanque de formulação, mas tem espaço para ter outros cinco módulos. “É uma indústria que foi montada para acompanhar a nossa expansão. Nós podemos ir expandindo módulos a cada ano, conforme a nossa onda de crescimento”, explicou Jonas Cuzzi, diretor de marketing de agro da Nitro, ao AgFeed no começo de julho.
Resumo
- A companhia de insumos agrícolas Nitro está firmando uma parceria com a agtech Symbiomics para desenvolver insumos biológicos focados em milho e cana, com lançamento previsto até a safra 2028/2029.
- A Symbiomics contribuirá com seu acervo de mais de 12 mil microorganismos e tecnologia baseada em inteligência artificial para acelerar o desenvolvimento de produtos.
- A Nitro ficará responsável pela formulação, produção e comercialização dos produtos, para levar a tecnologia aos produtores rurais