O noticiário econômico não tem sido carinhoso com o Banco do Brasil. O motivo? A instituição financeira tem apresentado balanços com seu lucro em queda frente ao registrado em 2024.
No primeiro trimestre, o BB apresentou uma baixa de 20%. No segundo, que teve seus resultados apresentados ao mercado nesta quinta-feira, 14 de agosto, o recuo foi ainda mais expressivo: 60% em relação ao mesmo período do ano passado.
Nesse cenário, o agronegócio tem sido apontado como o “vilão” dos resultados. Historicamente, o setor sempre foi uma fortaleza dos resultados do Banco do Brasil, já que a instituição atua com uma capilaridade invejável e presença de agências em todos os rincões do Brasil há décadas.
Não à toa, a instituição hoje é dona da maior carteira agro dentre o setor bancário, com R$ 404 bilhões. O mesmo agro, porém, tem sido considerado o peso a puxar para baixo os resultados do banco por conta dos indicadores de inadimplência.
No balanço do segundo trimestre, a proporção de maus pagadores do agro chegou a 3,49% da carteira, algo em torno de R$ 12,7 bilhões, isso considerando os inadimplentes com atrasos acima de 90 dias. Há um ano, essa inadimplência era de 1,32%.
Esse patamar de tempo faz os bancos considerarem o ativo como “problemático”, já prevendo uma dificuldade maior na recuperação desse crédito.
A maior parte desses calotes está na operação de custeio, que saiu de 1,03% há um ano para 3,37% em junho de 2025. A inadimplência superior a 30 dias está em 5,53%, patamar que mostra um avanço de 3,1 pontos percentuais em um ano, mostrando que o banco tem recebido “novos calotes”.
Ao mesmo tempo que a carteira agro atingiu um recorde histórico negativo para a instituição segundo a própria CEO, Tarciana Medeiros, quando se olha o resultado como um todo, a carteira de crédito do BB tem linhas com inadimplências ainda maiores.
Considerando a inadimplência de pagamentos acima de 90 dias, a carteira PJ tem um calote de 4,18%, e o das pessoas físicas, 5,59%.
Essas carteiras têm proporções parecidas dentro da carteira de crédito de R$ 1,29 trilhão da instituição. São os R$ 404 bi para o agro, R$ 342,6 bi para PF e R$ 468 bi para PJ.
Um dos poucos analistas a perceber que o mercado estava atento a somente algumas linhas dos balanços foi Daniel Vaz, do Banco Safra. Em um relatório escrito por ele em 9 de julho, projetando o segundo trimestre, Vaz disse:
“Acreditamos que o mercado esteja se concentrando principalmente no risco do agronegócio, dada a recente deterioração evidenciada pelos dados do Banco Central sobre a inadimplência de curto prazo. Ainda assim, pode estar ignorando uma ameaça extremamente urgente neste trimestre: o crédito corporativo (especialmente para PMEs)”.
Nesse relatório, Vaz citou que o NPL (Non Performing Loans sigla em inglês para um crédito não produtivo, ou inadimplido), do crédito corporativo já mostrava um avanço nos calotes acima de 30 dias, o que deveria fluir para os calotes acima de 90 dias neste trimestre, exatamente o que ocorreu.
Esse movimento de aumento nas inadimplências de toda carteira fez com que o BB aumentasse seu PDD, sigla para Provisão para Devedores Duvidosos, nada mais do que uma reserva contábil para cobrir calotes e que, no fim do dia, acabam pressionando os lucros da instituição.
As despesas com PDD do Banco do Brasil saltaram 80% em um ano, e somaram R$ 17,3 bilhões no segundo trimestre. No ano passado, foram de R$ 9 bilhões. Desde janeiro, essas despesas já somam quase R$ 30 bilhões.
Mesmo com a inadimplência não sendo mais alta no setor, é justamente no PDD que o agro pode ser considerado “vilão”. O Banco do Brasil justifica que a inadimplência agro está ligada a um “estoque de operações não pagas da safra 2024/25”.
A instituição diz que há um cenário positivo para a safra agrícola deste ano, uma colheita recorde e um percentual de garantias elevado nessa carteira, mas cita que esse estoque não pago da safra que se encerrou em junho vem em linha com as recuperações judiciais no setor, que “exigem maior provisionamento sob a nova regulação”.
Essa nova regulação é a resolução 4.966/21 do CMN (Conselho Monetário Nacional), que entrou em vigor este ano e determina uma rigidez maior das instituições financeiras a antecipar provisões no balanço.
A ideia do CMN é que os balanços dos bancos reflitam com mais fidelidade a realidade econômica das suas carteiras, e a ideia é fazer isso com um reconhecimento maior de perdas projetadas, além de mais detalhes sobre o que o banco pretende fazer para combater essas perdas.
A resolução instituiu um modelo de perda esperada em três estágios, onde cada um diz respeito ao tamanho do risco de inadimplência.
Um levantamento do BTG Pactual calculou que calotes acima de 30 dias poderiam exigir provisões de aproximadamente 30%, enquanto os com mais de 90 dias, uma média de 70%.
É nesse ponto que a “fortaleza” de resultados do BB, o agro, pressiona o PDD, porque por mais que as inadimplências PJ e PF estejam maiores, os atrasos de pagamentos no agro cresceram mais e exigiram mais provisões com a nova norma.
Pressão longe de acabar
Em relatório publicado nesta sexta-feira, 15 de agosto, o analista da XP Investimentos que cobre o setor financeiro, Bernardo Guttmann, citou que, mesmo com o fim da safra em junho, junto do segundo trimestre, o banco ainda tem vencimentos relevantes entre julho e setembro por conta do início tardio do Plano Safra passado.
“O banco tem investido na liquidação das operações em andamento, mas a pressão deve persistir nos próximos dois trimestres. Apesar disso, a produção segue elevada e as margens tendem a se recompor gradualmente, com início de recuperação de rentabilidade prevista para o início de 2026 e inadimplência de cerca de 2,5% ao final da safra, em julho de 2026”, apontou Guttmann.
O próprio CFO do Banco do Brasil, Giovanne Tobias, admitiu que os indicadores continuarão pressionados. Em um vídeo publicado pelo banco em que seus executivos comentam o resultado, ele citou que esses problemas “não se resolvem num passe de mágica”.
Guttmann, da XP, acrescentou que os vencimentos do terceiro trimestre devem se assemelhar aos do segundo, com a diferença que o BB ganha mais poder de barganha com o início da safra.
Resumo
- Lucro do Banco do Brasil caiu 60% no 2T25 em meio à alta da inadimplência, com o agro atingindo 3,49% da carteira (R$ 12,7 bi) acima de 90 dias
- Índice de inadimplesntes no agro é maior nível da série histórica, mas fica abaixo do verificado nas certeiras PF (5,59%) e PJ (4,18%)
- Pressão no PDD foi recorde: provisões somaram R$ 17,3 bilhões, alta de 80% em um ano, com impacto maior do agro devido a novas exigências do CMN