No segundo trimestre, o agronegócio já havia sido apontado como o “vilão” da queda de 60% no lucro do Banco do Brasil. Três meses depois, o que já era visto como ruim ficou ainda pior.

O banco estatal acabou de divulgar seus resultados do terceiro trimestre ao mercado e, além de uma nova queda de 60% no lucro na comparação anual, para R$ 3,78 bilhões,  viu uma alta generalizada nos índices de inadimplências, além de um aumento expressivo nas provisões, reflexo de uma carteira de crédito que já viveu melhores dias, especialmente no agronegócio.

A inadimplência total do banco para dívidas vencidas em um período acima de 90 dias encerrou setembro em 4,93%. Na carteira agro, a inadimplência acima de 90 dias aumentou de 3,49% para 5,34% na comparação direta com o segundo trimestre.

O Banco do Brasil cita, no balanço, que o impacto se deu principalmente na cultura da soja e nas regiões Centro-Oeste e Sul do País e mencionou um “efeito dos pedidos de recuperação judicial no segmento”.

A deterioração se estende por todas as faixas de atraso: acima de 30 dias, o índice subiu de 5,53% para 7,22%, e acima de 60 dias, de 3,30% para 4,69%. Ou seja, em um trimestre, parcelas que antes figuravam nos atrasos de curto prazo passaram a ser classificadas como perdas prováveis.

A instituição também cita os efeitos da Resolução feita pelo Conselho Monetario Nacional (CMN) que determinou o reconhecimento antecipado de perdas esperadas e exige maior provisionamento diante de atrasos, mesmo em operações com garantias.

A carteira agro recuou de R$ 404,9 bilhões para R$ 398,8 bilhões no trimestre, um avanço de 3,2% na comparação anual, mas queda frente ao segundo trimestre, muito em função da postergação de novas concessões e a renegociação de dívidas em atraso.

Com a piora na qualidade do crédito, o agro voltou a ser o principal vetor de aumento das provisões. A despesa com perdas esperadas (PDD) subiu de R$ 17,3 bilhões para R$ 18,65 bilhões no trimestre, alta de 10,5%, levando o saldo total de provisões a R$ 170 bilhões. Desse total do trimestre, R$ 8,7 bilhões foram provisionados pensando em calotes vindos do agro.

Com isso, o Banco do Brasil informou que a perda esperada associada à carteira agro chegou a R$ 32,8 bilhões em setembro, o equivalente a 9,1% do total de R$ 398,8 bilhões.

O avanço é expressivo frente a junho, quando essa relação era de 7,2%, e se concentra nas operações de estágio 3 da resolução do CMN, que reúnem créditos problemáticos e dívidas com atraso superior a 90 dias.

Nessa faixa, as provisões cresceram 29,5% do segundo trimestre para o terceiro, chegando a R$ 20,3 bilhões, o que representa cerca de 80% do saldo dessas operações.

Nos demais níveis de risco, o reforço também foi significativo. No estágio 2, que abrange contratos ainda adimplentes, mas com maior probabilidade de atraso, as provisões subiram 23,5%, para R$ 6,6 bilhões. Já no estágio 1, de créditos em normalidade, houve alta de 13,3%, totalizando R$ 5,9 bilhões.

Do total da carteira agro, o BB destacou que 47,9% (cerca de R$ 173,2 bilhões) é formado por créditos classificados como sustentáveis. Como essas linhas costumam ter condições mais favoráveis a quem toma crédito, o banco vê uma mitigação de risco em praticamente metade da carteira.

Nas demais carteiras (PF e PJ), a movimentação foi distinta na inadimplência. Entre as pessoas físicas, em meio a uma carteira de R$ 350 bilhões, o índice subiu de 5,59% para 6,01% na comparação direta com o segundo trimestre. Na carteira PJ, que soma R$ 435 bilhões, a inadimplência recuou de 4,18% para 4,06% em três meses.

O resultado do balanço pode o discurso do BB de ser mais duro daqui pra frente na concessão de crédito agro. Há duas semanas, Felipe Prince, vice-presidente de gestão de riscos do Banco do Brasil, foi incisivo ao dizer que produtores rurais que pedem proteção judicial contra a execução de suas dívidas não terão crédito nunca mais vindo do banco.

Em entrevista à Bloomberg, afirmou que “os pedidos de falência são uma armadilha para os agricultores, pois eles perdem o acesso ao crédito e não conseguirão fazer a próxima safra”.

Resumo

  • Lucro do Banco do Brasil cai 60% no terceiro trimestre, para R$ 3,78 bilhões, pressionado por aumento das provisões e piora na qualidade da carteira de crédito
  • Inadimplência no agronegócio salta de 3,49% para 5,34% nas dívidas acima de 90 dias, com avanço em todas as faixas de atraso
  • Carteira agro recua de R$ 404,9 bilhões (2º tri) para R$ 398,8 bilhões (3º tri), enquanto as provisões ligadas ao setor sobem 10,5%