Quem olha atentamente o site de comunicados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) percebeu uma enxurrada de documentos informando a distribuição de proventos para os acionistas nos últimos dias.
O movimento tem relação com a tributação que os dividendos terão a partir de 2026, como parte do pacote do governo federal de aumentar a faixa de isenção de imposto de renda.
Por mais que haja a possibilidade de postergar o prazo até abril, a dúvida foi suficiente para companhias de diversos setores anunciarem essa distribuição. No agro, não tem sido diferente.
Nos últimos dias, Minerva, 3tentos, SLC Agrícola, Kepler Weber e companhias do setor florestal - Suzano e Klabin - somam mais de R$ 3 bilhões em distribuições de proventos anunciadas ou ainda em fase de aprovação com seus conselhos de administração.
As papeleiras Suzano e Klabin puxam o montante, com R$ 1,3 bilhão e R$ 1,1 bilhão a ser distribuído por cada uma, respectivamente.
Ambas as empresas estão passando também por um momento de aumento de capital. A Klabin prevê aumentar em R$ 800 milhões seu capital com a emissão de mais de 60 milhões de novas ações. Enquanto isso, a Suzano anunciou um aumento de capital no valor de R$5 bilhões.
Nas companhias de operação agrícola, a SLC vai distribuir R$ 400 milhões em proventos, sendo R$ 380 milhões em dividendos e o restante em juros sob capital próprio (JCP). Já a 3tentos vai levar ao conselho a proposta de pagamento de R$ 91 milhões em dividendos intercalares.
A Kepler Weber, líder do mercado de armazenagem de grãos, aprovou o pagamento de R$ 25 milhões em dividendos intercalares e intermediários. São R$ 18,4 milhões em dividendos intercalares e R$ 6,6 milhões em intermediários.
A Minerva foi outra que anunciou a distribuição de proventos, feito que não realizava há mais de dois anos, com um montante de R$ 162 milhões a ser distribuído entre a base acionária.
Ao AgFeed, o CFO da empresa, Edison Ticle, explicou que a companhia voltou a pagar dividendos porque retomou um patamar de alavancagem saudável após se endividar para comprar algumas plantas da Marfrig na América do Sul.
Depois de ver a relação entre a dívida líquida e o Ebitda chegar a 3,7 vezes em março, ao final de setembro a alavancagem chegou a 2,5 vezes.
A política de distribuição de proventos da empresa prevê um pagamento anual de, no mínimo, 50% do lucro líquido, e o movimento é uma antecipação de parte do pagamento.
"Estamos seguindo nossa desalavancagem, que deve ficar do patamar de 2,5 vezes para baixo. Para os dividendos intercalares e intermediários, o máximo que eu podia distribuir era esse montante, ao olhar para a reserva de capital do balanço. Estamos distribuindo o máximo que podíamos pagar. E vamos pagar em 2025, de forma antecipada", contou Ticle.
Segundo ele, esse adiantamento dá um sinal para os acionistas de que a Minerva está confiante em seguir sua "trajetória de geração de valor".
No acumulado dos nove meses deste ano até o terceiro trimestre - a Minerva já soma R$ 720 milhões de lucro líquido, relembrou Ticle, o que pode fazer com que a empresa pague mais dividendos à frente.
Muitas empresas têm anunciado nos últimos dias o pagamento de provento aos acionistas. O movimento tem relação com a tributação que os dividendos terão a partir de 2026, como parte do pacote do governo federal de aumentar a faixa de isenção de imposto de renda.
A lei prevê que a partir de janeiro de 2026, serão tributados mensalmente pelo Imposto de Renda uma alíquota de 10% para pessoas físicas domiciliadas no Brasil que, em um mesmo mês, obtiveram lucros e dividendos de uma mesma pessoa jurídica em montante superior a R$ 50 mil, ou cerca de R$ 600 mil por ano.
Apesar de entrar em vigor no ano que vem, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal aprovou um projeto de lei que altera a proposta inicial e estabelece que os lucros apurados até o ano-calendário de 2025, cuja distribuição seja aprovada até 30 de abril de 2026, estarão isentos do imposto de renda.
Na prática, o pagamento seria isento até abril, mas o lucro precisaria ser apurado até o final de 2025. Caso a alteração seja aprovada, permitirá às empresas que deliberem os lucros de 2025 até o final de abril do ano que vem.
"A lei permite que você pague até abril. Pode apurar e fazer pagamento até lá. Podíamos ter deixado pra fazer isso ano que vem, mas juntou as duas coisas: a sinalização da desalavancagem ao mesmo tempo que jogamos de forma segura em relação à mudança", finalizou Ticle.
Resumo
- A proximidade da tributação em 2026 levou empresas do agro a anteciparem proventos, somando mais de R$ 3 bilhões em distribuições anunciadas nesta semana
- Suzano, Klabin, Minerva, SLC, 3tentos e Kepler Weber puxam o movimento, aproveitando a possibilidade de isenção até abril de 2026 caso a mudança aprovada na CAE avance
- Na Minerva, o pagamento de R$ 162 milhões marca o retorno aos dividendos após a desalavancagem e antecipa parte da política anual antes das novas regras