Praticamente toda reportagem envolvendo o agronegócio produzida em 2025 tem um tema em comum: a escassez de crédito agrícola.
O cenário de juros altos somado a inadimplências e recuperações judiciais no setor azedou o clima de quem dá dinheiro, e o que era uma percepção de agentes de mercado agora se traduziu em números.
Uma pesquisa da Serasa Experian revelou que a concessão de recursos financeiros em linhas rurais e de agroindústrias recuou 16% no primeiro semestre de 2025 quando comparada ao mesmo período de 2024. Ao todo, foram distribuídos R$ 83 bilhões nos seis primeiros meses de 2025.
No mesmo intervalo de 2024, haviam sido R$ 99,7 bilhões concedidos. Já no segundo semestre do ano passado, foram R$ 123,1 bilhões.
Os dados utilizados para esse estudo foram analisados com base em cerca de 2,8 milhões de pessoas físicas mapeadas na população rural que contrataram financiamento rural ou agroindustrial e autorizam o uso de dados do Cadastro Positivo.
Em release enviado à imprensa, o head de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, atribui a queda justamente a essa cautela do mercado.
“O setor convive com desafios como a elevação gradual da inadimplência, eventos climáticos e critérios mais rigorosos de conformidade socioambiental”, disse.
Destrinchando os números do primeiro semestre, foram concedidos R$ 36,6 bilhões de janeiro a março e R$ 47,2 bilhões de janeiro a junho em crédito rural. Ainda de acordo com a Serasa, os números do segundo trimestre mostram sinais opostos no ticket médio e no volume de novos contratos.
O valor médio por CPF ficou em R$ 157,9 mil, uma queda de 22,1%, enquanto a quantidade total de contratos atingiu 343,6 mil, um aumento de 11,4% na mesma base de comparação.
Regionalmente, o Centro-Oeste registrou o maior valor por contrato (R$ 468 mil), número de contratos por CPF (1,37 na média) e um ticket médio por CPF também mais elevado, em R$ 639 mil. O montante total para a região ficou em R$ 12 bilhões.
A região Sul liderou frente ao montante de empréstimos, com R$ 15 bilhões, e no Nordeste, foi registrado a maior quantidade de CPFs com contratos (108 mil) e quantidade de novos contratos (111 mil).