Em um momento de crise generalizada para as startup especializadas na produção de carne cultivada em laboratório, uma empresa da Holanda, que tem até mesmo o ator Leonardo DiCaprio entre seus investidores, está nadando contra a maré e, às vésperas do fim de 2025, conseguiu mais recursos para seguir adiante com suas operações.
Trata-se da Mosa Meat, criada há quase dez anos e que agora conseguiu mais 15 milhões de euros (US$ 17,6 milhões) de investidores para continuar adiante com o sonho de produzir carne cultivada. Na rodada, a startup contou com o apoio dos investidores de impacto estatais holandesas Invest-NL e LIOF, da produtora alemã de carne e parceira estratégica PHW Group e de Jitse Groen, fundador da Just Eat Takeaway, plataforma de food delivery que hoje pertence à Prosus, dona do iFood.
"O desenvolvimento dessa tecnologia exige paciência, rigor científico e uma visão de longo prazo", afirmou Mark Post, cofundador da empresa, ao site AgFunderNews.
A Mosa Meat nasceu do sonho de Post e do técnico de alimentos Peter Verstrate, que ainda nos anos 2000 vinham tentando desenvolver a produção de carne cultivada em laboratório.
Em 2013, os dois ganharam fama ao apresentar em Londres o primeiro hambúrguer feito com carne cultivada no mundo ao custo de US$ 250 mil, com recursos do cofundador do Google, Sergey Brin.
De lá para cá, os pesquisadores conseguiram botar de pé a Mosa Meat e chamaram a atenção de investidores, conseguindo cerca de 150 milhões de euros em aportes para desenvolver sua tecnologia, que consiste na produção de carne moída semelhante à de hambúrguer a partir de biorreatores que multiplicam células de vacas. A startup garante que pode produzir até 80 mil hambúrgueres a partir dessa amostragem de células.
Os primeiros aportes foram feitos dois anos após a criação da startup, em 2018, quando a Mosa conseguiu 7,5 milhões de euros, em 2018, numa rodada de investimentos do tipo série A.
Depois, em 2020, houve um salto e a empresa conseguiu angariar 61,9 milhões de euros em duas rodadas no mesmo ano, uma de 45,4 milhões e outra de 16,5 milhões, no qual contou com apoio da Mitsubishi, Bell Food Group e Blue Horizon Ventures.
No ano seguinte, 2021, foi a vez de o astro de Hollywood Leoanrdo DiCaprio entrar com recursos na startup. "A Mosa Meat foi pioneira em uma forma mais limpa e humana de produzir carne bovina de verdade com o primeiro hambúrguer de carne cultivada do mundo em 2013", disse DiCaprio na ocasião.
No início do ano passado, houve mais uma captação junto aos investidores atuais, no valor de 45 milhões de euros. Agora, chama a atenção o fato de a Mosa Meat ter conseguido um novo aporte em um momento difícil para o segmento de carne cultivada em laboratório, dias depois de startups como a holandesa Meetable e a israelita-americana Believer Meats terem encerrado suas atividades, e meses após uma empresa americana de carne plant based negociada na Nasdaq, a Beyond Meat, ter virado uma “meme stock” na bolsa, após enfrentar dificuldades financeiras.
Para Post, criador da startup, o momento atual é de amadurecimento do mercado em função da quantidade de empresas especializadas nesse setor que foram surgindo nos últimos anos.
Na Mosa Meat, a prioridade foi focar mais na tecnologia e na redução dos custos produtivos do que numa expansão acelerada como fizeram outras startups.
"Constatamos que os investidores apoiam uma abordagem racional de biotecnologia avançada que prioriza os fundamentos em detrimento da velocidade", disse Post ao site AgFunder News.
"Mantemos o foco na economia unitária da ampliação da produção. Embora tenhamos observado reduções drásticas nos custos de produção nos últimos dois anos, sabemos que é necessário reduzi-los ainda mais para atingirmos uma escala de produção em massa economicamente viável."
Maarten Bosch, CEO da Mosa Meat, vê perspectivas sob o copo meio cheio, mesmo com as dificuldades de mercado. “É claro que lamentamos ver empresas do mesmo setor enfrentando dificuldades devido a este ambiente econômico desafiador", disse ao AgFunder News.
"Mas testemunhamos um progresso significativo em 2025: dentro da Mosa Meat, mas também em todo o setor, no desempenho culinário dos produtos, na redução dos custos de produção e nos desenvolvimentos regulatórios. Portanto, continuamos bastante otimistas quanto às perspectivas de levar a carne cultivada aos consumidores", emendou Bosch.
A Mosa Meat hoje possui biorreatores com capacidade de até 1 mil litros em sua unidade industrial, localizada na cidade de Maastricht, no Sul da Holanda. "Isso possibilita uma primeira introdução no mercado em um conjunto selecionado de restaurantes. Atualmente, podemos produzir hambúrgueres com essa configuração a custos adequados para a venda em restaurantes", disse Bosch ao AgFunder News.
Há a possibilidade de expansão de capacidade se necessário, adicionando tanques de 5 mil litros ao longo do tempo, segundo Bosch, o que possibilitaria maior redução de custos. "Compartilharemos mais informações sobre os produtos à medida que nos aproximarmos do lançamento no mercado", se limitou a dizer o CEO.
Resumo
- Mosa Meat, startup holandesa focada em produção de carne cultivada, conseguiu aporte de 15 milhões de euros (17,6 milhões de euros) para seguir adiante com o desenvolvimento tecnológico de sua operação
- Uma das pioneiras no mercado, startup já conseguiu cerca de 150 milhões de euros com investidores, que incluem órgãos estatais da Holanda e até mesmo o ator Leonardo DiCaprio, astro de Hollywood