Satoshi Nakamoto provavelmente jamais imaginaria que sua invenção, o Bitcoin, de certa forma estaria sendo utilizada por produtores rurais brasileiros.

Criado em 2008 por Nakamoto – provavelmente um pseudônimo usado por um grupo de programadores – o Bitcoin foi a primeira criptomoeda do mercado. Contudo, apesar de ter virado sinônimo de cripto para o público geral, o Bitcoin hoje não é a única moeda virtual existente, muito pelo contrário. No mercado, hoje existem várias criptomoedas e um tipo delas tem chamado a atenção de empresas, investidores e também dos órgãos reguladores do mercado: as stablecoins.

As stablecoins são criptomoedas atreladas a moedas estáveis, geralmente o dólar americano. A paridade é de 1 por 1 – ou seja 1 stablecoin é igual a 1 dólar, por exemplo. Assim, essas moedas mantêm mais estabilidade em seus preços em comparação com criptomoedas como o Bitcoin, além de trazer mais segurança a quem as compra.

Unindo forças, a fintech Onda Finance e o banco de câmbio Braza Bank estão trabalhando para fazer a inserção de empresas do agro e produtores rurais no “mundo novo” das criptomoedas ao viabilizar pagamentos internacionais com a stablecoin BBRL, lastreada no real e que foi lançada neste ano pelo Braza.

A Onda Finance está fazendo a captação de clientes, depois os insere em sua plataforma e oferece o stablecoin, enquanto o Braza presta suporte técnico e também dá liquidez às operações.

De acordo com Nildson Alves, co-founder e CEO da Onda Finance, as primeiras operações feitas estão trazendo resultados interessantes envolvendo clientes do agro, demonstrando o potencial da stablecoin.

“Um cliente movimentava cerca de R$ 10 milhões por mês em operações internacionais. Hoje, com a estrutura da Onda e o uso do BBRL, esse volume mensal saltou para R$ 30 milhões”, conta.

Alves acrescenta que, com a adoção crescente da tecnologia e a liquidação imediata fornecida pela blockchain, a expectativa é que o volume mensal ultrapasse R$ 200 milhões nos próximos seis meses.

Em outro caso, Alves menciona o caso de um importador de pescados no Nordeste, que enfrentava dificuldades recorrentes para efetuar pagamentos ao exterior.

Utilizando os serviços da Onda Finance e o BBRL, as operações passaram a ser liquidadas instantaneamente, garantindo o fornecimento de mais de 40 contêineres de produtos até o final do ano.

A Onda tem a expectativa ainda de fazer operações entre Brasil e Paraguai e mira também transações com a Ásia, com expectativa de expansão para exportadores de grãos e proteína animal.

No lado do Braza, a procura por criptomoedas e stablecoins tem aumentado no período recente. “Entidades patronais, especialmente setores de importação, portuário e despacho aduaneiro, vem nos procurando, querendo entender como funciona”, diz Giuliano Kohler Silva, head de cripto do Braza.

Para o executivo do Braza, as stablecoins devem atrair cada vez mais o interesse de produtores que exportam commodities, além de também auxiliá-los nas operações de trade finance.

“Quando você faz um financiamento e exportação, por exemplo, em um banco para financiar a produção de soja e exportar essa produção, você depois precisa pegar aqueles dólares que vai receber e usar para liquidar a operação de crédito, certo? Em um futuro breve, será possível usar stablecoins, por exemplo, para liquidar operações de crédito”, explica Silva.

Esses outros usos das stablecoins devem dar um salto a partir da regulação por parte do Banco Central, que deve entrar em vigor a partir do dia 2 de fevereiro de 2026.

Até aqui, empresas privadas como o Braza vinham fazendo emissão de stablecoins, mas ainda não havia um mercado regulando suas operações.

A partir de agora, essas empresas vão ter de se enquadrar nas regras do Banco Central, que prevê que pagamentos e transferências internacionais feitos com ativos virtuais, liquidações de obrigações decorrentes do uso de cartões no exterior e transferências para carteiras autocustodiadas passam a ser enquadradas como operações de câmbio.

O Banco Central pretende criar as chamadas prestadoras de serviços de ativos virtuais (PSAVs), categoria que deve incluir empresas que já atuam com criptomoedas, criptoativos e stablecoins. Uma vez autorizadas a operar no mercado de câmbio, essas PSAVs poderão oferecer também serviços com ativos virtuais dentro desse ambiente regulado.

Também terão de cumprir alguns requisitos como proteção e transparência nas relações com os clientes, prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, governança, segurança, controles internos e prestação de informação, entre outras obrigações e responsabilidades.

As stablecoins vêm ganhando impulso nos últimos anos. Segundo a empresa de análise de blockchain Chainalysis, o Brasil movimentou US$ 318,8 bilhões em criptoativos entre julho de 2024 e junho de 2025, o maior volume da América Latina. Desse total, 90% correspondeu a transações com stablecoins, ainda segundo a Chainalysis.

Outro estudo, da Iporanga Ventures, aponta que somente as stablecoins lastreadas no real movimentaram R$ 5 bilhões apenas no ano passado.

Resumo

  • Stablecoins estão ganhando espaço no agro brasileiro como alternativa para pagamentos internacionais, com destaque para o BBRL, lastreado no real
  • Parceria firmada entre a fintech Onda Finance e o banco de câmbio Braza Bank já mostra resultados práticos no setor graças à liquidação imediata via blockchain
  • O avanço do uso de stablecoins tende a se acelerar com a regulação do Banco Central a partir de fevereiro de 2026, integrando esses ativos ao mercado de câmbio e ao trade finance