Na indústria de fertilizantes Cibra, com sede em Camaçari (BA), o momento é de reestruturar projetos, fortalecer algumas iniciativas e ouvir seus funcionários para faturar mais.

Depois de ter anunciado com pompa a criação do primeiro criptoativo do mundo vinculado a fertilizantes há três anos, em 2022, a companhia decidiu congelar a criptomoeda CibraCoin, ainda no ano passado. Agora, se prepara para relançar o projeto no ano que vem.

"A gente recomprou todos os tokens para fazer uma reformulação no funcionamento deles e lançarmos uma nova versão no ano que vem", diz Rafael França, diretor de planejamento estratégico e inovação da Cibra, em entrevista ao AgFeed.

A CibraCoin havia sido lançada em 2022. Era uma stablecoin - termo que identifica criptomoedas atreladas a algum ativo como moedas ou produtos – com lastro em fertilizantes como MAP, KCL e ureia e valor vinculado à cotação do produto equivalente ao preço CFR do respectivo fertilizante posto no porto de Paranaguá (PR).

Esses tokens podiam ser negociados por clientes da Cibra na exchange de criptoativos Foxbit ou ainda serem utilizados como vouchers, sendo trocados por produtos da companhia, caso o cliente achasse essa alternativa mais interessante financeiramente – funcionando como uma espécie de hedge contra eventuais mudanças de preço.

Entre 2022 e 2024, a companhia disse que havia negociado mais de 500 mil tokens, representando um giro de R$ 1,5 milhão, mas resolveu hibernar o projeto no ano passado. As operações na Foxbit foram encerradas em 16 de janeiro deste ano, segundo informações que constam no site da exchange.

"Interrompemos por uma questão de aderência de mercado que percebemos ao longo do tempo e, principalmente, aderência tecnológica", explica França.

Para exemplificar as dificuldades da tecnologia, ele diz que, para operar a CIbraCoin, era necessário que o cliente abrisse uma conta na FoxBit. "Então, a pessoa tinha de ir lá e transferir o dinheiro nessa exchange. Tinha uma questão tecnológica que tornava o processo um pouco mais burocrático", afirma França.

A ideia, portanto, é melhorar a experiência do usuário na nova versão do CibraCoin, que também deve ter um outro nome, explica França. "Tivemos uma disputa de patente envolvendo o nome do projeto, pois já existia um nome parecido registrado. Então, não poderemos usar o nome CibraCoin", afirma.

Ele evita dar detalhes sobre a nova versão do CibraCoin, ainda dá algumas pistas - ainda que um tanto genéricas. "Vamos ter uma novidade muito interessante que acho que vai balançar o mercado. Vai criar uma nova maneira de negociar fertilizantes", adianta.

Ideias de funcionários geram economia de R$ 4 mi

Ao mesmo tempo em que desenvolve um novo formato para seu criptoativo, a Cibra também continuou aperfeiçoando outras de suas iniciativas que misturam inovação, gestão de pessoas e economia de recursos – um mix que fez o faturamento da companhia saltar de R$ 70 milhões em 2012 para R$ 8 bilhões em 2022.

Um dos projetos que recebeu a novidade foi um programa de intraempreendedorismo da companhia, o Mandou Bem. Nessa iniciativa, criada há quatro anos, os funcionários da companhia enviam ideias de melhorias para qualificar o dia-a-dia da Cibra tanto na área operacional, quanto na corporativa.

"Quando identificamos uma ideia, formamos uma equipe para executá-la e damos o que chamamos de ‘banho de loja’. Esses colaboradores passam por uma trilha de inovação, com uma série de treinamentos para expandir seus conhecimentos", explica França.

No primeiro semestre deste ano, a Cibra rodou uma nova versão do programa chamada Mandou Bem Kaizen, com foco para desenvolvimento de ideias que gerassem ganhos operacionais nas 13 plantas da companhia pelo Brasil.

“Essas ideias da operação não eram tratadas dentro de um fluxo específico. Criamos um trabalho em conjunto com a área de operações e melhoria contínua para justamente trazer esse benefício para a empresa toda. E aproximar a área de inovação da área de operações porque isso dá vantagens, inclusive, culturais. A gente está levando conhecimento também de inovação para dentro da área de operações”, diz.

O processo foi bem sucedido. Ao todo, a companhia conseguiu uma economia de R$ 4 milhões ao adotar ideias aparentemente simples, mas de valor. França traz um exemplo concreto que uma funcionária desenvolveu para aplicação nos armazéns de fertilizantes da companhia, uma bica para ser inserida na descarga aérea.

"Basicamente se trata do seguinte: nosso fertilizante é colocado no chão, dentro do armazém por uma descarga aérea é uma esteira que vem por cima e vem jogando fertilizante como se fosse ampulheta. Vai jogando o fertilizante e espalhando ele, e uma pilha vai se formando", explica o diretor de planejamento estratégico e inovação da Cibra.

"O que essa colaboradora desenvolveu é uma bica móvel para a descarga aérea, na qual você muda a posição e consegue ocupar melhor o espaço do armazém. Com isso, aumentamos a capacidade de armazenagem naquele espaço. E, como armazenagem é custo, quanto mais eu consigo armazenar dentro daquele mesmo espaço, menor custo eu tenho de operação", emenda França.

Entre as soluções implementadas, algumas tiveram impacto direto na segurança operacional, segundo ele. “Fizemos um reposicionamento de câmeras dentro da unidade para melhorar a mobilidade dos big bags na hora de fazer o carregamento em cima dos caminhões. Antes era tudo muito visual, fora de ângulo, e isso atrapalhava o trabalho. Com o reposicionamento, conseguimos dar mais precisão e segurança”, explica.

Também surgiram ideias relacionadas ao funcionamento das máquinas. Em um dos casos, segundo França, foram feitas modificaçõs no elevador de caneca, que é o equipamento responsável por transportar o fertilizante para cima.

“Esse elevador tinha um rolo emborrachado que se desgastava muito rápido. A equipe, então, criou um novo modelo inspirado em uma pele de cobra, usando cerâmica, o que deixou o rolo mais eficiente e resistente, evitando rupturas frequentes”, afirma França.

Rede social e inteligência artificial

Outro projeto de inovação da Cibra que está recebendo melhorias, de acordo com França, é a rede social Jarilo, lançada há um ano pela companhia e que, de lá para cá, já conseguiu 20 mil usuários para sua base.

A plataforma faz uso de inteligência artificial para esclarecer dúvidas dos usuários, oferecendo desde sugestões sobre o uso de fertilizantes nas lavouras até informações sobre as cotações da soja na Bolsa de Chicago.

Acessível até então até via site, com a necessidade de utilização do navegador de computadores e smartphones, a Jarilo agora já pode ser acessada diretamente via aplicativo, que já está disponível nos celulares com sistema operacional Android – e, em breve, também deve estar acessível via iPhone, da Apple, com a futura estreia do aplicativo na App Store.

Melhorias também estão sendo feitas na funcionalidade do Jarilo. “Estamos desenvolvendo uma nova funcionalidade para análise de solo. A pessoa vai poder subir lá o PDF dela com a análise de solo e o Jarilo já vai trazer automaticamente a recomendação agronômica do que precisa aplicar”, antecipa França.

A empresa se prepara também para lançar uma nova versão da “Cibele”, assistente virtual da Cibra criada em 2021. “Acredito que já em novembro teremos algo, com a Cibele mais avançada do que é hoje”, diz França.

Também na área de inteligência artificial, a Cibra mantém o Iagro, programa de transformação em IA.

“Com o Iagro, nossa meta é acelerar todo o processo de utilização de IA dentro da Cibra e consolidar todos os projetos de transformação de inteligência artificial da empresa”, explica.

Assim, a Cibra já começou a desenvolver provas de conceito (POCs) de soluções que utilizam inteligência artificial para resolver problemas do cotidiano da empresa, em uma parceria com a Senai Paraná e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). “Contratamos mestrandos da UTFPR para desenvolver esses POCS para a gente”, diz.

Para além da tecnologia, França atenta também para o aspecto humano que está sendo abordado por esse programa.

“Quando falamos em IA, não podemos olhar apenas para a tecnologia. É preciso considerar também as pessoas, como isso vai funcionar no dia a dia, a governança, que envolve segurança, processos, legislação e LGPD e, claro, o pilar tecnológico”, diz.

“Esses três pontos precisam ser trabalhados juntos, enquanto avaliamos as oportunidades reais de aplicação da inteligência artificial que tragam ganhos tanto para a companhia quanto para os nossos colaboradores.”

Resumo

  • A indústria de fertilizantes Cibra se prepara para relançar, em 2026, seu projeto de criptoativo lastreado em fertilizantes que ficou em stand-by ao longo deste ano
  • Programa de intraempreendedorismo gerou economia de R$ 4 milhões no primeiro semestre deste ano, com ideias de funcionários aplicadas em áreas operacionais
  • Rede social Jarilo e a assistente virtual Cibele passam por upgrades com uso de inteligência artificial