A Adecoagro informou, em comunicado nesta quinta-feira, 27 de março, que firmou acordo de transação com a Tether Investments para a venda de ações, até que a companhia especializada em criptomoedas atinja 51% do seu controle acionário. O negócio, quando finalizado, deve movimentar US$ 615,5 milhões.

No documento, a Adecoagro informou que a Tether iniciará imediatamente a oferta pública para a compra de até 49.596.510 ações ordinárias da empresa, por US$ 12,41 cada título, “representando, quando adicionado às ações já detidas pela Tether, aproximadamente 70% das ações em circulação da empresa”.

A empresa agrícola informa ainda que o fechamento da transação “está sujeito a certas condições”, incluindo a oferta válida e a retirada de um número de ações ordinárias que, somadas às ações já detidas pela Tether, “representam pelo menos 51% das ações ordinárias em circulação em uma base totalmente diluída”.

Assim que o acordo foi fechado, as ações ordinárias da companhia atingiram a máxima desde setembro de 2023, em US$ 11,67. A máxima dos papéis foi de US$ 13,05, em 14 de abril de 2022.

Em comunicado, o CEO e cofundador da Adecoagro, Mariano Bosch, informou estar “muito animado com esta transação e com a oportunidade de ter um acionista significativo como a Tether, que compartilha o espírito empreendedor que nos levou a criar a Adecoagro há 23 anos e que continua presente em nossas decisões do dia a dia”,

Segundo o executivo, a entrada de uma empresa de tecnologia no controle acionário da Adecoagro “é um impulsionador relevante” na estratégia da empresa de agronegócios de reduzir custos.

“Ter nosso maior acionista entendendo a importância da tecnologia e apoiando nossos projetos existentes e empreendimentos futuros, nos coloca em uma posição privilegiada para continuar expandindo nossa cultura e trabalho”, relatou Bosch.

O CEO da Adecoagro informou, sem detalhar, que “alguns membros” do conselho de administração da companhia seguirão nos cargos e se beneficiarão “das novas ideias que os novos diretores adicionais fornecerão”. O acordo, segundo ele, inclui um plano de retenção específico para a gerência.

“Acho que chegamos a um acordo que respeita e protege os acionistas minoritários e estou muito feliz com isso. É por isso que decidi não vender nenhuma das minhas ações, a menos que seja necessário para prosseguir com a transação e permitir que a Tether atinja o limite mínimo”, informou.

Também em comunicado, Emilio Gnecco, diretor financeiro da Adecoagro, relatou que o negócio deve gerar uma “plataforma sólida a partir da qual podemos expandir nossos negócios atuais e potenciais novos e a incorporação de um acionista como a Tether nos permitirá buscar um plano de crescimento mais ambicioso.”

O acordo tem o JP Morgan como consultor financeiro exclusivo e os escritórios Davis Polk & Wardwell LLP e Elvinger Hoss Prussen como consultores jurídicos da Adecoagro. O escritório McDermott Will & Emery LLP atua como consultor jurídico da Tether.

Histórico

A companhia negociadoras de stablecoins - moedas digitais atreladas a ativos reais, neste caso o dólar americano - a Tether lançou, em 14 de fevereiro, a oferta hostil para ampliar a participação na companhia nascida na Argentina, com sede em Luxemburgo e operações no setor sucroenergético brasileiro, com três usinas.

Fundada pelos italianos Paolo Ardoino e Giancarlo Devasini e pelo holandês Ludovicus Jan Van der Velde, a Tether se tornou acionista da Adecoagro em setembro do ano passado, com a compra de cerca de 10% das ações, por US$ 102 milhões. Em seguida, ampliou a participação na agropecuária e agroindústrias para em torno de 20%, se tornando o maior acionista minoritário.

Entre os negócios da Tether estão 15 unidades de mineração de criptomoedas no Uruguai e usinas eólicas e solares para a produção de energia elétrica, principal insumo para a mineração das moedas digitais.

Fundada em 2002 por um um grupoi de empresários liderado por Mariano Bosch, a Adecoagro cresceu, comprou terras e expandiu seus negócios naquele país, no Uruguai e no Brasil. Foi listada na Bolsa de Nova York em 2011, com a abertura de capital.

A Adecoagro possui 210.400 hectares e plantas de processamento na Argentina, Brasil e Uruguai. Opera plantas de moagem de cana-de-açúcar para produção de açúcar, etanol e bioenergia e de processamento de milho, trigo, soja, girassol e amendoim.

Com 9 mil funcionários, a empresa atua também no varejo de laticínios, arroz e biscoitos, relatou faturamento de US$ 1,476 bilhão em 2024, alta de 2,4% sobre 2023. No ano passado, a Adecoagro relatou lucro líquido ajustado de US$ 202,5 milhões, alta de 32% sobre os US$ 153,4 milhões de 2023.

No Brasil, a Adecoagro tem 193 mil hectares cultivados com cana-de-açúcar de cana, com capacidade de moagem acima de 14 milhões de toneladas, produção de 956 mil toneladas de açúcar, 780 milhões de litros de etanol e geração de 950 mil MW de energia.

As operações estão em um cluster com duas usinas em Mato Grosso do Sul - Angélica, com capacidade de moagem de 5,6 milhões de toneladas por ano e Ivinhema, com 7,4 milhões de toneladas por ano - e na Usina Monte Alegre, em Minas Gerais, com capacidade de processar 1,2 milhão de toneladas por ano.