Se há um consenso no setor da proteína animal é que não houve monotonia em 2025 - principalmente nos segmentos de aves e suínos.
No noticiário corporativo, o mercado viu a criação de uma gigante global de proteínas: a MBRF, que juntou as operações de BRF e suas marcas, como Sadia e Perdigão, com a Marfrig, forte na carne bovina. A junção deu origem a uma empresa que, só no primeiro trimestre a divulgar os resultados consolidados, faturou mais de R$ 40 bilhões.
Além disso, as gigantes brasileiras do setor de ovos também se movimentaram. A Global Eggs, holding de Ricardo Faria, comprou empresas nos EUA e na Europa, chegando a uma produção global acima de 13 bilhões de ovos por ano. A principal concorrente nacional, a Mantiqueira, foi comprada pela JBS, e meses depois, fez uma aquisição também nos Estados Unidos.
O apetite empresarial é reflexo de um bom ano para o setor, que mesmo com percalços - vide os casos de gripe aviária - conseguiu aumentar sua produção e vendas.
Dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) mostram alta nos indicadores para a carne de frango, de suínos e ovos.
De acordo com a instituição, a carne de frango deve encerrar o ano de 2025 com uma produção de até 15,3 milhões de toneladas, uma alta de 2,2% frente a 2024. Nos suínos, a expectativa é de 5,5 milhões de toneladas, uma alta de 4,6% frente ao ano anterior. Por fim, nos ovos, a produção deve encerrar 2025 em 62,2 bilhões de unidades, uma alta de 7,9% frente a 2024.
“2025 foi o ano da influenza aviária. Nem nos meus melhores sonhos pensava no que estamos apresentando hoje: números positivos”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA durante a tradicional coletiva de imprensa de final de ano promovida pela associação há algumas semanas.
O mercado do frango foi diretamente afetado com os casos, principalmente por conta do embargo - que durou vários meses - de dois dos principais compradores: China e União Europeia.
De acordo com Santin, a expectativa há alguns meses era fechar o ano em 15,4 milhões de toneladas, mas o impacto da doença fez empresas redirecionarem a produção, além de uma diminuição no peso médio do abate.
A exportação de carne de frango deve chegar a 5,32 milhões de toneladas em 2025, uma alta de até 0,5% em relação às 5,29 milhões de toneladas de 2024, mesmo com os casos de influenza aviária no Brasil registrados na metade do ano.
Santin citou que o avanço se dará por conta do redirecionamento de exportação para outros mercados, mesmo que não os principais. “De 150 mercados, mantivemos 122 mercados abertos e, com isso, mostramos os resultados positivos na exportação”, disse Santin.
O presidente da ABPA estima que os casos de influenza aviária e os consequentes bloqueios comerciais tiraram de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões de vendas. “Mesmo assim, quando vejo o mercado dos EUA perdendo quase US$ 3 bilhões é uma vitória importante, que foi absorvida por outros destinos e ainda pode fechar o ano com uma perda ainda menor com os números de novembro a dezembro”, disse.
Olhando para 2026, a projeção é de uma alta ainda maior. Na produção, a expectativa é de 15,6 milhões de toneladas, uma alta de 2% em relação ao previsto para este ano. A exportação deve crescer 3,4% nessa mesma comparação, para 5,5 milhões de toneladas.
Segundo Santin, a conjuntura de demanda elevada somada a casos crescentes de influenza aviária e outras doenças em países exportadores e consumidores, como na União Europeia, pode ajudar o mercado brasileiro.
Ao avaliar o panorama dos concorrentes na exportação de frango, Santin cita que na União Europeia, as exportações caíram 1,4% de janeiro a agosto (últimos dados disponíveis). “Era uma região que previa crescer 1%, mas caiu e deve continuar a ter dificuldades. São o terceiro maior exportador mundial, mas infelizmente enfrentam muitos casos de influenza”, disse.
Nos Estados Unidos, o cenário não é tão diferente. De janeiro a junho, as exportações recuaram 7%. Santin vê que, mesmo com uma pequena retomada em julho, que pode equilibrar a exportação, casos de gripe aviária tem voltado ao hemisfério norte.
A receita também deve se recuperar ano que vem, com Santin avaliando justamente esse cenário de diminuição de oferta de outros países exportadores, como EUA e União Europeia. “O aumento de influenza nesses locais diminui a produção local, então a tendência é que os preços sejam realocados, recuperem a normalidade em 2026 e, alguns lugares, até subir por essa diminuição de oferta”, afirmou Santin.
Outro fator que deve ajudar o setor no ano que vem é o custo. A ABPA projeta que, mesmo com uma previsão de menor produção de milho, a safra ainda deve superar 140 milhões de toneladas. “Vai ter milho para todo mundo: frango, suínos, pecuária de leite, consumo humano, etanol e ainda um bom excedente de exportação”.
“Quando olhamos 2026, vemos que os fatores estruturantes fazem tudo para que seja um ano positivo”, acrescentou.
Um relatório recente do banco Rabobank citou que a tendência de crescimento na oferta global de carne de frango deve se consolidar por mais um ano em 2026. A instituição financeira cita que 2026 será marcado pela Copa do Mundo de futebol e por eleições presidenciais no Brasil, o que deve favorecer o consumo de carnes no segundo semestre pelo maior número de encontros sociais e por um aumento temporário do poder de compra da população.
“O fundo eleitoral de cerca de R$ 4,9 bilhões deve ter parte do volume se transformando em consumo de alimentos. 2026 deve ser mais um ano de expansão recorde na produção de carne de frango, com novo potencial de mais um recorde também no volume embarcado”, diz o Rabobank.
Bom mercado também na carne suína
Em relação aos suínos, Ricardo Santin, da ABPA, citou que a exportação deve bater 1,49 milhão de toneladas, avanço de 10% em um ano. Nos 10 primeiros meses de 2025, a receita bateu US$ 3 bilhões, uma alta de 22% em um ano. O volume subiu 12%, para 1,26 milhão de toneladas exportadas.
O presidente da ABPA destacou que mesmo com a China, um dos principais importadores históricos, comprando quase 30% menos em volume na comparação entre 2025 e 2024, o Brasil cresce as vendas por outros mercados, como Japão, que aumentou suas compras em 25%, e Filipinas, principal destino, com avanço de 56%.
Os concorrentes na exportação, como União Europeia e Canadá até crescem, mas já veem uma curva de crescimento perdendo fôlego. Assim como no caso das aves que sofrem com a influenza aviária, Santin relembra que o Velho Continente tem enfrentado a peste suína africana, que foi detectada em javalis selvagens por lá.
“A Espanha, que soma 23% do mercado europeu de exportação, já teve alguns países que fecharam o mercado. A China fechou oito plantas na Catalunha”, citou. Santin ainda vê um aumento do consumo interno de carne suína nos EUA como panorama positivo para o Brasil.
“É bem provável que o Brasil se transforme no terceiro maior exportador mundial de carne suína, porque nossas contas jogam o Canadá para uma faixa de 1,35 milhão de toneladas, e nós, com 1,49 milhão de toneladas. O Brasil conquista uma posição boa para a suinocultura, com 15% do market share global”, afirmou o presidente da ABPA.
Para o Rabobank, assim como nas aves, o consumo de carne suína por parte da população brasileira pode crescer no segundo semestre devido aos eventos sociais. Além disso, cita um avanço no preço da carne bovina “puxando” o preço dos suínos, favorecendo a indústria.
“As variáveis que vão manter a volatilidade do mercado global de suínos em 2026 devem ser uma continuação do que tem sido observado neste ano. Projetamos um novo recorde na oferta de carne suína, guiados principalmente pela demanda externa, que também deve atingir novo recorde”, diz o Rabobank
Sem quebrar ovos
Nos ovos, a exportação deve avançar 116% frente a 2024, chegando a até 40 mil toneladas de ovos, segundo a ABPA
Ricardo Santin acredita que está sendo criada uma “cultura exportadora” nesse mercado, e brincou que cumpriu uma meta que ele mesmo se atribuiu há 17 anos, quando chegou na ABPA, de fazer o Brasil exportar mais de 1% da produção nacional, o que vai acontecer neste ano.
“EUA chegou em números interessantes de importação na metade do ano, porque havia influenza aviária muito forte lá. Houve um pico em maio, até o tarifaço, e depois caiu. A tarifa inviabiliza a exportação. Já saiu a tarifa sobre a carne e café, esperamos que saia sobre o ovo, carne suína e tilápias”, disse Santin.
Para o ano que vem, a ABPA projeta uma produção de 66,5 bilhões de unidades de ovos, um avanço de 6,8% frente aos 62,2 bilhões de ovos de 2025. A exportação do produto deve avançar 12% em 2026, chegando a 45 mil toneladas. O consumo do ovo per capita deve chegar a 307 unidades por habitante no próximo ano, uma alta de 7% em um ano.
“Não vai faltar ovo para o brasileiro, quando avaliamos as matrizes já alojadas. Sem problema de grãos e doenças, vamos crescer na produção e exportação. Se os EUA voltar a importar ovos ano que vem, podemos até ver esse percentual aumentar”, afirmou Ricardo Santin.
Resumo
- Entre M&As e sanidade, 2025 consolidou a MBRF, acelerou a internacionalização dos ovos, enquanto a gripe aviária tirou o sono do setor.
- Mesmo com embargos, o Brasil ampliou produção: frango deve fechar 2025 em 15,3 milhões de toneladas (+2,2%), suínos em 5,5 milhões de toneladas (+4,6%) e ovos em 62,2 bilhões de unidades (+7,9%).
- Para 2026, ABPA projeta novo avanço nos três mercados, favorecidos por custos controlados e oferta menor de EUA e União Europeia, que sofrem com gripe aviária e peste suína africana