A 21 dias para o início oficial da safra 2025/2026, com um cenário de uma Selic em 14,75%, mas juros efetivos de 20% ao ano, a receita da Syngenta para o produtor ter lucro é produzir mais com tecnologia. Na prática, só o aumento na produtividade garantirá essa rentabilidade, na avaliação de executivos da companhia.
“Produzir mais dentro do mesmo hectare, com práticas sustentáveis, diluem o custo fixo e garantem a lucratividade para pagar juros de capital com captação no mercado que passa de 20%”, disse André Savino, presidente de Proteção de Cultivos da Syngenta no Brasil, durante conversa com jornalistas em uma das etapas do One Agro, evento organizado pela empresa em Campinas (SP).
Para o executivo, as incertezas financeiras e climáticas para a próxima safra deveriam amedrontar produtores, mas os aprendizados e desafios das últimas duas temporadas sinalizam que a pujança brasileira seguirá no agronegócio.
“Prova disso são os resultados do PIB do primeiro trimestre, com alta de 1,4% no geral e 12,2% na agropecuária. O agro puxou a economia brasileira no fechamento do primeiro trimestre”, disse.
Segundo Savino, o cenário macroeconômico é um problema crônico, o que atingiu empresas - por exemplo algumas do setor de insumos - que não se prepararam ou que cresceram desordenadamente em épocas de capital barato.
O executivo citou o período de 2019 a 2021, quando a demanda forte e o dinheiro barato trouxeram alta alavancagem para empresas que se expandiram, algumas sem planejamento.
“Quem tinha inteligência financeira, expandiu, cresceu e está firme. Para os mais alavancados, o custo subiu e a receita caiu, causando o que chamamos de efeito tesoura”.
Para Steven Hawkins, presidente global da Syngenta Proteção de Cultivos, mesmo com o problema crônico no cenário macroeconômico citado por Savino, as projeções de aumento de 2 bilhões de pessoas na população mundial até 2050 abrem oportunidades para a produção de comida no Brasil.
“A geopolítica e os fatores macroeconômicos fazem com que essa oportunidade seja mais rápida e maior. É uma oportunidade única para o Brasil”, afirmou o executivo, também presente no evento.
Hawkins minimizou os impactos das incertezas globais causadas pela política tarifária do presidente norte-americano, Donald Trump, na companhia, pelo fato de a Syngenta atuar globalmente.
“Nós nos organizamos para mitigar ou afastar essas questões de tarifas”, disse o presidente global da Syngenta Proteção de Cultivos, lembrando que Trump já havia adotado medidas semelhantes em seu primeiro mandato.
“Temos uma rede muito resiliente baseada nas nossas lições da primeira administração de Trump. Então, nós vemos um impacto mínimo, com certeza, em 2025. E vamos ver o que acontece em 2026”, completou.
André Savino avaliou que o tensionamento das relações comerciais, principalmente entre Estados Unidos e China, trará efeitos colaterais ao mercado, mesmo se houver algum acordo amplo entre os países. E um desses efeitos é o medo, o que pode ser bom para o Brasil.
“Por mais que haja uma conclusão, o efeito da ameaça é medo, o efeito colateral vai fazer com que todos os países revejam relação comercial com outros e o Brasil é saída para o tensionamento das relações comerciais”, afirmou
Biológicos
No evento, Hawkins e Savino comentaram também sobre o avanço dos produtos biológicos no portfólio da empresa de defensivos agrícolas. Ambos avaliam que o Brasil, pelo tamanho da agricultura e pelo impacto das pragas em até três safras por ano, é o principal mercado para esses produtos, o que demandará novos investimentos da Syngenta.
Para o presidente global da Syngenta Proteção de Cultivos, o segmento de mercado se desenvolve globalmente e “nós estamos muito ativos em continuar a crescer esse portfólio e investir”. Mas, na avaliação do executivo, os biológicos são uma tecnologia complementar aos outros defensivos e tecnologias.
“A posição da Syngenta em biológicos não é de substituição para proteções sintéticas, é complementar em uma oferta agronômica mais ampla”, afirmou, citando como exemplo o que ocorreu com a biotecnologia.
“Quando a biotecnologia foi lançada, foi assumido que substituiria a proteção sintética. Agora sabemos que a biotecnologia e a proteção sintética são complementares e nós vemos os biológicos semelhantes a isso”, disse Hawkins.
Savino citou que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento da Syngenta, de 10% do faturamento anual, levam o mercado de biológicos para outro patamar e que as pesquisas apontam que uma segunda geração desse tipo de defensivos será capaz de torná-los mais eficientes que os químicos.
One Agro
Hawkins e Savino participam em Campinas de uma das etapas do One Agro, que está na quinta edição. A série de eventos traz o debate com empresas, bancos, clientes, produtores, educadores, representantes do poder público e sociedade civil.
Na primeira etapa, a companhia reuniu grandes agricultores globais e, na realizada nesta terça-feira, 10 de junho, batizada de “The Customer”, cooperativas e agricultores foram convidados para debates sobre educação em um cenário de escassez de mão-de-obra e de necessidade de entendimento de narrativas entre os meios rural e urbano.
Segundo Savino, a próxima etapa será setorial e o debate será sobre os setores energético e de fibras.
Resumo
- Apesar do cenário macroeconômico adverso e das tensões geopolíticas, executivos da Syngenta veem o Brasil como peça-chave para atender à crescente demanda mundial por alimentos
- Com juros efetivos próximos a 20% ao ano, companhia aposta no aumento da produtividade com uso de tecnologia para manter a lucratividade do produtor rural
- Multinacional amplia investimentos em biolinsumos no Brasil e prevê uma segunda geração de biológicos mais eficiente do que os químicos