Muita coisa pode mudar em dois anos. A subsidiária brasileira da americana Brandt, fabricante de insumos para agricultura, teve que reajustar um plano de investimento milionário para se adequar ao mercado.
Em 2023 a empresa anunciou que investiria R$ 100 milhões em uma biofábrica no Paraná. A ideia na época, segundo afirmou ao AgFeed o próprio CEO da empresa, Wladimir Chaga, era surfar o mercado de biológicos e escalar o faturamento da empresa para R$ 1 bilhão na temporada 2025/26, a atual.
Porém, o que aconteceu não foi bem isso. “Vimos que existe hoje uma capacidade ociosa no mercado de biológicos, isso em empresas de todos os tamanhos. Além do fato do próprio agricultor fazendo produção on-farm, e com isso demos um passo para trás no sentido de reavaliar o mercado”, disse Chaga, em nova entrevista ao AgFeed nesta semana durante a edição 2025 do Congresso da Andav, realizado em São Paulo.
Com essa conjuntura, a empresa percebeu que terceirizar a produção seria um processo mais econômico e decidiu investir o montante em outras vertentes. “Existe fábrica ‘sobrando’ e um acesso a mercado que custa caro, cada dia mais, então vimos que fazia sentido investir no acesso ao mercado”, acrescentou.
Com isso, a companhia aumentou sua força de vendas no campo, que hoje conta com 88 RTVs (Representante Técnico de Vendas) além de 15 especialistas em desenvolvimento de mercado espalhados pelo País, praticamente dobrando a força de trabalho de três anos atrás.
A fábrica própria ainda faz parte dos planos, mas em uma escala menor. Chaga revelou que a empresa deve investir numa unidade de biológicos, mas com um investimento de somente 30% do inicial, algo em torno, portanto, de R$ 30 milhões.
Isso porque, pelos termos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), se uma empresa quer ter produtos biológicos no seu nome, precisa de uma fábrica, por menor que seja, vinculada ao seu CNPJ.
“O investimento será menor, mas nossa necessidade, que é o acesso ao registro, será suprida. Aí podemos terceirizar a produção com o registro sendo nosso”, disse.
“Outro destino do investimento foi para M&As. Neste ano, a Brandt comprou uma participação na Techduto, uma empresa brasileira que atua com drenagem agrícola subterrânea.
A tecnologia serve para recuperar solos úmidos e é amplamente difundida em outros países, como os EUA, onde mais de 25% da área cultivada é drenada, mas que ainda engatinha no Brasil.
O CEO da Brandt no Brasil citou que a empresa comprou uma participação minoritária, mas já está em conversa para aumentar seu percentual de participação no capital nos próximos meses.
“São opções de mercado para diversificação. Então aquele investimento de R$ 100 milhões recebeu um grande reajuste”, citou Chaga.
“Esse reajuste de rota veio junto com a queda no mercado brasileiro de insumos, principalmente na safra 2023/24 que foi quando começou o problema de rentabilidade no mercado, guerra e forçou desinvestimentos”, acrescentou.
Um mercado melhor em 2025
Wladimir Chaga citou que esses movimentos deixam a Brandt “mais bem posicionada” para surfar um mercado que deve ser melhor na safra 2025/26 em comparação com as temporadas anteriores.
Ele também disse que a projeção atual de pedidos em carteira está melhor do que nos últimos anos, e que a partir de agora, o faturamento da empresa tende a crescer e se alinhar com o budget para o ano.
“Atualmente as revendas e cooperativas clientes estão abastecidas de sementes, glifosato e outros produtos de maior volume. Na medida em que esses produtos vão ‘saindo’, o nosso vai chegando”, afirmou Chaga.
Chaga preferiu não abrir a meta de faturamento para o ano, mas citou que a Brandt no Brasil deve crescer 22% em relação ao ano passado. Em volume, a projeção é crescer 18%.
Ele citou que nos dois últimos anos a empresa registrou crescimento, mas de um dígito, abaixo do projetado no início das temporadas. E nada melhor do que voltar a crescer com mais intensidade para coroar uma data especial. Fundada em 1953, a Brandt completa 10 anos no Brasil em 2025.
Para coroar essa “maturidade”, a subsidiária passou a ganhar novas responsabilidades nos últimos meses. Em janeiro deste ano, a filial local passou a atender outros países da América do Sul, que antes eram atendidos diretamente via Estados Unidos.
“A gente tinha uma equipe de quatro pessoas no restante da América do Sul, e esse ano já estamos com 10. Estamos dobrando em tamanho de pessoas e atendendo um mercado importante para nós, principalmente o da Argentina”, disse.
Hoje a empresa tem presença em todo o País, com destaque para o Centro-Oeste e Nordeste. Em culturas, a força maior de vendas vem da soja, milho, algodão e trigo. Na sequência, café, citrus e fruticultura.
Como resultado do aumento da força de vendas, recentemente passou a atender produtores de cana-de-açúcar. “Não que nós não tivéssemos o produto. É que nós não tínhamos gente trabalhando nesse mercado”, contou Chaga.
Hoje, cerca de 5% das vendas são diretas para produtores, 30% cooperativas e o restante revendas.
Chaga citou que a empresa tinha como cliente a AgroGalaxy e, com o processo de recuperação judicial da rede, teve que se reposicionar com novos parceiros comerciais em algumas regiões em que a empresa atuava no Mato Grosso.
Resumo
- Com mercado mais desafiador, Brandt do Brasil reformulou plano de R$ 100 milhões, reduziu investimento industrial e apostou em força de vendas e aquisições estratégicas
- Subsidiária completa 10 anos com novo escopo: além do Brasil, passa a atender países da América do Sul, como a Argentina
- Crescimento de dois dígitos deve vir em 2025 após dois anos abaixo do esperado, com destaque para vendas para produtores de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar