O mercado de insumos agrícolas no Brasil deve atravessar 2025 em ritmo mais favorável que no ano anterior, mas ainda caminhando a passos tímidos para uma recuperação total.
A leitura é de Nairo Piña, presidente da Sumitomo Chemical para a América Latina, que vê sinais de melhora no câmbio, maior estabilidade nos preços e uma retomada gradual da demanda melhorando o setor.
“2025 está performando um pouquinho melhor que 2024. Vejo que 2026 ainda será marcado por uma transição, mas já começando uma recuperação forte no mercado brasileiro de insumos”, disse o executivo durante o Congresso Andav 2025.
Luciano Jaloto, diretor de marketing da Sumitomo Chemical no Brasil, citou que os anos de 2023 e 2024 foram “muito duros pro agricultor”, e que as consequências de safras difíceis respingaram no mercado de distribuição e na indústria.
A própria operação da Sumitomo Chemicals no Brasil, por exemplo, teve uma queda na sua receita de 2023 para 2024. Em 2023, chegou a faturar US$ 1 bilhão por aqui, e numa entrevista da empresa ao AgFeed em agosto de 2024, a projeção era de um ano com crescimento, o que não ocorreu.
“A remuneração ficou muito prejudicada. Vimos RJs, uma seca difícil no Sul. 2024 foi complexo e 2025 começa num cenário melhor, de câmbio mais estável e as commodities, talvez com exceção a soja, também com estabilidade, isso ancora a expectativa de um ano melhor”, disse Jaloto.
Apesar disso, o diretor de marketing já vê algumas “inseguranças” que podem afetar o restante do ano, como as tarifas de Donald Trump e uma instabilidade nas relações comerciais dos produtores lá fora. “Até agora a perspectiva é boa, mas começam a aparecer essas inseguranças”, acrescenta.
A América Latina, em especial o Brasil, é um local estratégico para a maior empresa de defensivos agrícolas do Japão. No ano fiscal de 2024, a Sumitomo Chemical faturou algo próximo aos US$ 20 bilhões.
Considerando a operação no agro, são US$ 3 bilhões, sendo que desse total, cerca de um terço vem das vendas no País. “Têm sido anos difíceis mas nada tira o fato de que o Brasil e o continente continuarão a ser o ‘celeiro do mundo’. Todo aumento de produtividade e áreas de expansão estão aqui, por isso continuamos investindo na região”, afirmou Piña.
“Esse é um ano de resiliência, de revisar estrutura processos e estar junto com parceiros e junto com agricultor. O fato é que o agronegócio vai continuar crescendo no País”, acrescentou.
Sem entrar no detalhe, comentou que na última semana, aprovou junto à direção novos investimentos para aumentar a capacidade de produção do portfólio chamado de “BioRacionais”, soluções que envolvem produtos biológicos e químicos mais “premium”.
Além disso, mencionou que a Sumitomo deve aumentar a área do seu centro de pesquisa e desenvolvimento, também na intenção de acelerar o lançamento de novos produtos. A empresa projeta lançar 30 novos produtos nos próximos cinco anos.
A presença da Sumitomo na Andav 2025 revela ainda um outro traço da estratégia da empresa. Apesar de estar no País há 50 anos, a companhia sempre atuou numa estratégia B2B, vendendo suas formulações para multinacionais.
Tudo mudou em 2019, quando a Sumitomo adquiriu a operação da Nufarm na América do Sul, e com isso, entrou também no B2C. Hoje, a venda direta aos clientes finais é mais representativa na operação, e explica a presença em um evento destinado ao mercado da distribuição de insumos.
“Com a compra da Nufarm demos passo pra frente para levar as tecnologias para o mercado de forma mais acelerada. Por ano, investimos mais de 7% do nosso faturamento global em pesquisa e desenvolvimento”, disse Piña.]
Quando a Sumitomo passou a atuar com as revendas, investiu R$ 50 milhões em 2020 na sua unidade em Maracanaú (CE). Com esses novos investimentos projetados, Piña citou que a empresa avalia utilizar o Brasil como um centro de exportação para outras regiões da América Latina e até os EUA.
“Mais proximidade com o produtor”
Aproveitando a presença na Andav e em linha com a projeção de um mercado se recuperando, a Sumitomo anunciou um programa de incentivo aos seus clientes distribuidores.
Batizado de “Programa Yen”, o nome faz uma referência ao conceito japonês de “prosperidade coletiva”, segundo a própria empresa. A ideia é oferecer aos distribuidores uma série de “ferramentas para expansão comercial conjunta”, explica a empresa na nota de apresentação do programa.
Na prática, a Sumitomo oferecerá aos clientes, baseado num sistema de pontuação, gatilhos e metas, uma série de funcionalidades que essas revendas e distribuidores podem oferecer ao agricultor na ponta final.
Entre elas estão um serviço de medição de pegada de carbono e comercialização de créditos ESG, um software de gerenciamento de emissões de GEE para controle de inventário de carbono, uma certificação que atesta boas práticas no manejo nas culturas de hortifruti, uma certificação para pastagens regenerativas e um programa de suporte para quem deseja recuperar pastagens degradadas.
Nas culturas de grãos, a empresa vai oferecer uma certificação RTRS (sigla em inglês para Mesa Redonda de Soja Responsável) para que os clientes tenham acessos a mercados premium. O mesmo será aplicado ao algodão, com outro tipo de certificação atestada pela Sumitomo.
Luciano Jaloto, diretor de marketing da Sumitomo Chemical no Brasil, cita que a ideia é trazer mais sustentabilidade ao agricultor na ponta final. “O maior bem do distribuidor é o agricultor. Mas como ele vai ser tão exitoso quanto a capacidade de gerar valor dentro desse produtor? Trazendo uma recomendação coerente e sustentável para que o produtor produza mais e melhor”, cita.
Jaloto ainda disse que “os problemas da agricultura aumentam a cada ano”, e cita uma proliferação de doenças fúngicas e um aumento da resistência de cultivos à químicos tradicionais, e cita parte do portfólio da Sumitomo, como os BioRacionais, como uma solução para esses problemas.
Resumo
- A Sumitomo Chemical vê melhora gradual no mercado de insumos no Brasil em 2025, com câmbio mais estável e retomada da demanda, mas alerta para inseguranças como tarifas e comércio internacional
- A Sumitomo Chemical faturou cerca de US$ 20 bilhões no ano fiscal de 2024, sendo US$ 3 bilhões provenientes do agronegócio, com cerca de um terço desse total vindo do Brasil.
- Empresa lançou “Programa Yen”, que apoia distribuidores com ferramentas sustentáveis e certificações para melhorar a produtividade e acesso a mercados premium