Cascavel (PR) - A paciência oriental dos fundadores Sumitomo Chemical - empresa de 111 anos e com meio século de operações no Brasil - moldou os executivos da companhia no País para lidar com mudanças repentinas no cenário financeiro do agronegócio.
O impacto de recuperações judiciais, volatilidade no dólar e restrição de crédito pela alta na Selic obrigou a companhia a revisar o planejamento financeiro do final de 2024 e para todo o ano de 2025.
A perspectiva de superar US$ 1 bilhão em faturamento nas operações Brasil, como imaginava Suellen Drumond, executiva da companhia, em agosto do ano passado em entrevista ao AgFeed não se concretizou. A disparada do dólar para entre R$ 6 e 6,20 no final de 2024 encareceu os custos e “desvalorizou” a receita da subsidiária brasileira.
Para completar, as seguidas recuperações judiciais de distribuidores de insumos e de produtores, além da alta na taxa básica de juros trouxeram problemas extras para a gigante do setor. Assim como fizeram concorrentes e bancos, toda a estratégia ligada ao crédito da Sumitomo Chemical foi revista.
“Vai ser um ano desafiador e é um pouco da mensagem que a gente tem passado para os nossos colegas lá fora. Mas esperamos que 2026, 2027 e 2028 sejam anos de vacas gordas”, afirmou Cassio Greghi, head Brasil da Sumitomo Chemical, em entrevista ao AgFeed durante o Show Rural Coopavel.
Para o executivo, as recuperações judiciais, quando surgiram, eram uma ferramenta boa para qualquer empresa se reerguer. No entanto, principalmente em Mato Grosso, garantias como propriedades e Cédulas do Produto Rural (CPR) foram excluídas de processos e de execuções de credores como a Sumitomo Chemical.
“Tudo aquilo que você tinha pra poder garantir uma operação foi visto de uma maneira diferente e a recuperação judicial se banalizou”, afirmou Greghi.
O reflexo, segundo ele, é direto no custo do crédito e na exigência de novas garantias para a concessão de dinheiro ou financiamento das vendas.
“Sofremos menos com as recuperações judiciais e, em grande parte das que aconteceram, a gente não estava. Em parte delas, a gente trabalha com o seguro, o que é um custo adicional”, disse o head Brasil da Sumitomo Chemical.
Outro ponto de preocupação da empresa é o ritmo lento de comercialização da safra brasileira de soja, acima de um terço do volume estimado. Para as indústrias, é um recado de que o produtor está segurando o produto para esperar preços melhores da commodity, que não virão, na avaliação de Greghi.
“Não estou dizendo que a gente não receberá, mas vai ser um ano que o agricultor vai falar, ‘espera um pouquinho que eu preciso deixar a soja subir mais’ antes de entregar”, afirmou.
Para completar o cenário, bancos e financiadores, como a própria Sumitomo Chemical, além de cobrarem juros mais caros, vão aumentar as exigências de produtores..
A estratégia da companhia para operações na próxima safra passa por “revisitar”, de acordo com o executivo, as operações estruturadas e ferramentas financeiras. Para ampliar as garantias, mais operações de barter serão feitas – o escambo é, na visão da empresa, uma forma mais segura para receber do cliente.
“Temos operações estruturadas e mais sofisticadas, onde você consegue, dentro do barter, contratos de opções, que garantam um preço mínimo”, explicou Greghi. Outra opção, de acordo com ele, é financiar via CPRs fiduciárias, que têm entrado como garantia em recuperações judiciais, ao contrário das CPRs tradicionais.
“Pode ser que as CPRs fiduciárias, ou essas garantias fiduciárias, passem a ser algo mais relevante para as operações”, disse o executivo.
Garantia, aliás, que vai ser mais escassa de um lado, com o ritmo lento de comercialização, e com uma maior exigência pelos bancos diante do crescimento risco no crédito.
“A gente entra em uma limitante, porque você precisa conceder crédito e, ao mesmo tempo, eu estou competindo com o banco agora e com todo mundo, porque todos aumentaram a barra”, completou Greghi
O head Brasil da Sumitomo garante que o que não será revisado na estratégia da companhia é o investimento de 6% a 7% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento.
Fundada em 1913 e com 50 anos no Brasil, a companhia mudou a estratégia ao adquirir, há cinco anos, a Nufarm e iniciar as operações no varejo no País.
A empresa prevê lançar 30 novas soluções até 2028 e apresentou sua primeira campanha institucional no País, batizada de “Agricultura Nos Une”.
“Caminhamos lado a lado com aqueles que fazem o agro acontecer, conectados pela mesma razão de existir e trabalhando para o sucesso de nossos negócios e da consolidação da agropecuária de forma sustentável e próspera”, concluiu Luciano Jaloto, diretor de Marketing Brasil da Sumitomo Chemical.