A semana passada foi agitada para Rodrigo de Miranda. O diretor geral da Plant Health Care (PHC) no Brasil teve que se dividir em cerca de 12 horas de reuniões com executivos da PI Industries, gigante indiana que comprou a PHC no ano passado, e um evento presencial na capital paulista.

De um lado, foi a primeira vez que a PHC, em uma década atuando no Brasil, teve um estande próprio no Congresso da Andav, encontro anual dos distribuidores de insumos.

Do outro lado, nas chamadas online, discutia, segundo ele, o futuro do portfólio da PHC no País e como os lançamentos para os próximos anos dialogam com as metas da companhia.

Praticamente um ano depois de ser comprada pela PI, numa transação de mais de R$ 230 milhões pela cotação na época, a PHC vive no país uma fase de expansão acelerada.

Desde então, contratou 42 profissionais, multiplicou canais de distribuição, diversificou culturas e passou a cobrir 60% do território agrícola brasileiro, com planos de chegar a 80% até 2026 e 100% até 2027.

No faturamento, a meta é chegar a US$ 150 milhões anuais no mercado local em três a cinco anos.

“Vivemos uma transformação profunda dentro da companhia. Todos os nossos sonhos estão aos poucos tornando-se realidade. Mas tudo ao mesmo tempo, então tem sido bastante, vamos dizer assim, intenso. São as dores do crescimento”, resumiu Miranda ao AgFeed, em conversa justamente no estande da PHC no Congresso da Andav 2025.

Nascida no laboratório da universidade de Cornell, nos Estados Unidos, há 30 anos, a PHC está no Brasil há praticamente uma década, mas atuava com seu portfólio de soluções biológicas de forma mais tímida.

Miranda conta que a empresa conta com uma biblioteca genômica com cerca de 700 peptídeos e que, no Brasil, atuava com apenas três produtos registrados. “Com a chegada da PI, temos 12 peptídeos em processo para atuar comercialmente”, disse.

As 12 horas de reuniões com os indianos serviram justamente para alinhar quanto dessa biblioteca de centenas de produtos pode entrar na esteira comercial nos próximos anos.

A intensidade dos últimos meses na qual Rodrigo de Miranda menciona pode ser notada pela ambição do novo controlador desde os primeiros dias.

“US$ 50 milhões em faturamento no Brasil em até três anos. Esse foi o primeiro número colocado na primeira discussão que tive na Índia, quando o CEO da PI, sentado na ponta da mesa, propôs essa meta. Eu falei: ‘Por que não?”.

“Fomos discutir o investimento, pois tudo é possível, desde que se aloque recursos, mas aí percebemos que não valia a pena. Era muito custo para arriscar logo de cara, então balanceamos o crescimento”, acrescentou Miranda.

Dessa forma, a PHC diluiu a meta de crescimento ao longo dos anos, mas o diretor geral da operação brasileira garante que foi feito um grande investimento já em 2025, apesar de não citar o valor, e então a meta foi revista.

Ele revelou apenas que só nos últimos três meses a empresa contratou 42 novos funcionários, todos focados na distribuição dos produtos em diversas regiões do País.

Além disso, saiu de ter só um distribuidor, a cooperativa Coplacana, para pouco mais de 40 revendas e cooperativas com os produtos da empresa.

Além da meta de atingir US$ 150 milhões em faturamento de três a cinco anos no País, Miranda cita que a PHC deve crescer 90% este ano, sem citar o número exato de receita projetada.

“Nos próximos três anos nós temos que dobrar o tamanho da companhia todo ano. Quando chegarmos nessa receita aqui, num aspecto global a PI chegará a um patamar acima de US$ 500 milhões em faturamento com biológicos no mundo”, disse.

O grupo indiano fatura, atualmente, cerca de US$ 1 bilhão, ou R$ 5,4 bilhões pela cotação atual, considerando as vendas globais de todo o portfólio. Segundo Miranda, a venda global de biológicos girou em torno de US$ 35 milhões no último ano fiscal, e que deve atingir US$ 60 milhões neste ano.

Das vendas da empresa no País, o “ecossistema soja, milho e algodão” deve representar pouco mais de 50%. A outra metade está praticamente ocupada pelas vendas na cana. Uma porcentagem menor fica para o café.

Um mercado “atrasado”

No curtíssimo-prazo, ou seja, na safra 2025/2026, a PHC tem que lidar com um “mercado muito atrasado”, segundo o próprio Rodrigo de Miranda.

“É um ano desafiador para todo mundo. O mercado está muito atrasado e o produtor pensando se vai investir ou não. O clima não está dizendo que vai ser ruim, então o que pode estar ruim? O preço de commodities. E é aí que você precisa reduzir o custo por saca colhida”, defende Miranda.

Essa presença maior nas revendas e cooperativas deve acontecer, segundo o diretor, em empresas menores. “Distribuidores pequenos que possuem de uma a três lojas, ou um pouco maior, que pegue uma região toda. Nas cooperativas pensamos muito em pools de compra por produtores”, resume.

Essa nova equipe contratada ajuda a PHC a chegar em regiões que não atuava. Na cana, por exemplo, a atuação era restrita à parte centro-sul do País, e agora, também conta com um funcionário alocado no Nordeste.

No plano de expansão geográfica, a última região a ser totalmente coberta deverá ser o Sul do País. “Lá a adoção é mais lenta e é mais fácil já chegar com seu produto alocado no Cerrado”, afirmou.

Além das culturas de grãos, café e cana, Miranda cita que ele “tem sido desafiado” por produtores de hortifruti.

“Nossas tecnologias e o fato de não deixarem resíduos melhora muito a qualidade do pós-colheita. Mas é tudo uma questão de custo e foco. Se preciso registrar um produto novo, eu registro na soja ou no pimentão?”explicou.

Com a nova escala financeira e geográfica que a PI permite, ele cita que a PHC deve, nos próximos anos, levar produtos também para essas culturas.

Além do tradicional portfólio de biológicos, a PHC no Brasil deve passar a vender também químicos da PI. No próprio estande da empresa no Congresso Andav estavam executivos dedicados ao tema conversando com o mercado. Miranda estima que esse portfólio chegue ao País entre três e cinco anos.

Resumo

  • PHC, comprada pela indiana PI Industries há doze meses, já cobre 60% do Brasil e planeja chegar a 100% em até dois anos
  • A meta inicial de fatirar US$ 50 milhões em três anos foi revista, passando a US$ 150 milhões em até cinco anos
  • Com 42 contratações recentes e expansão de canais, companhia aposta em biológicos à base de peptídeos e planeja lançar químicos da PI no mercado nacional