Os primeiros sinais de que o mercado de insumos agrícolas começa a respirar alívio têm sido notados por empresas como a UPL, uma das gigantes do setor no Brasil.

Depois de dois anos difíceis marcados por excesso de estoque, inadimplência e juros altos, o ciclo 2025/2026 tem cara de retomada, segundo o CEO da empresa no País, Rogério Castro. Mas sem euforia.

Desde outra conversa exclusiva de Castro com o AgFeed, em outubro de 2023, muita coisa mudou.

De um lado o mercado de insumos já deixou para trás a “ressaca” pós-pandemia de Covid e os preços dos grãos se equilibraram com os custos. Do outro lado, novos desafios se colocaram no mercado, como juros que voltaram a subir e os problemas de liquidez no agro brasileiro.

O discurso do executivo, contudo, é mais positivo. “Eu vejo o copo meio cheio. O mercado ainda não está livre da questão da liquidez, mas a gente passou pelo pior”, diz Castro.

Apesar do otimismo moderado, a projeção de crescimento da UPL por aqui ainda é conservadora. “Estamos falando de um dígito modesto. Em valor, especialmente, não tem como esperar muita extravagância. Talvez em volume, sim, a gente consiga crescer dois dígitos, mas o preço ainda pesa muito”, afirmou.

Segundo Castro, a safra 2024/2025 já começou a mostrar uma recuperação forte frente às temporadas 2022/2023 e 2023/2024, mas a questão financeira do setor ainda pesa.

“Vemos essa quantidade de recuperações judiciais no setor produtivo e também na distribuição de insumos. Ainda tem banco se ajustando, os CRAs, os Fiagros, o próprio Banco do Brasil, que tem apanhado com as ações super comprimidas. Tudo ainda está se recompondo”, conta.

A própria UPL não ficou isenta desse movimento. No plano de recuperação extrajudicial da rede de revendas Lavoro, que visa reestruturar dívidas de R$ 2,5 bilhões com fornecedores, a empresa de origem indiana está entre os credores e foi citada nominalmente pelo CEO da varejista de insumos como uma das companhias - ao lado de Basf e FMC que apoiavam a medida.

Apesar de os preços ainda travarem parte do crescimento, o “copo meio cheio” fala mais alto no discurso de Castro, que conversou com o AgFeed durante a edição 2025 do Congresso Andav.

Segundo ele, a temporada recém iniciada deve ser marcada por uma retomada na demanda por defensivos e novas tecnologias no campo.

Para o CEO da UPL Brasil, há um movimento mais ativo dos agricultores para retomar investimentos após um ciclo em que as compras foram cortadas ao mínimo.

“A gente percebe uma vontade de crescer, mas ninguém está tirando o olho dos problemas. Todo mundo ainda está se lembrando do que passou no ano anterior”, diz.

“Tem muito run off ainda acontecendo, empresas em RJ, operações travadas. Mas mesmo com esse cenário, a agricultura brasileira está buscando formas de se preparar melhor para a próxima safra”, diz.

A companhia, ainda assim, manteve o plano de lançamentos e, em 2025, deve colocar dez novos produtos no mercado brasileiro, sendo três biológicos e sete químicos.

Esse ambiente mais desafiador também travou parte dos investimentos da UPL nos últimos dois anos. Segundo Castro, a empresa adiou aportes e reavaliou prioridades enquanto o setor enfrentava excesso de estoque e pressão sobre as margens.

“Há dois anos a UPL fez uma ligeira redução de despesas no Brasil. Mas este ano a gente voltou a fazer algumas contratações. Esse é um dos sinais sinais dessa inflexão acompanhando a curva. Não temos grandes investimentos projetados neste ano, a não ser no portfólio”, contou.

O universo dos biológicos deve crescer dois dígitos nesta safra, mas isso se deve ao fato de que o setor ainda engatinha frente aos químicos.

O levantamento mais recente da CropLife Brasil, entidade que representa o setor, revelou que a utilização de bioinsumos cresceu 13% na safra 2024/2025 no Brasil. O crescimento médio anual do setor nos últimos três anos foi de 22%, taxa quatro vezes superior à média global.

Dados da consultoria Blink apontam que, em termos de faturamento, os bioinsumos ligados à nutrição e fisiologia das plantas atingiram R$ 3,8 bilhões na safra 2024/2025. O mercado deve praticamente dobrar e chegar a R$ 6 bilhões em 2028/2029.

Na UPL, a agenda dos biológicos segue forte. A empresa anunciou há alguns anos que pretende, até 2027, fazer sua receita ser dividida em 50% de produtos químicos tradicionais e 50% em produtos considerados "sustentáveis", como biodefensivos por exemplo.

Rogério Castro cita que, em momentos de “crise”, produtos como os biológicos, que ainda estão “sendo compreendidos e adotados de forma cautelosa”, acabam tendo sua adoção diminuída. “Os produtores ainda não conhecem o resultado específico na produtividade. Ele pensa: ‘não vou comprar a cereja sem ter o bolo”, diz.

“Quando o ciclo está positivo o agricultor tende a adotar mais tecnologias que são um tipo de ‘promessa’ para ele, mas que podem explorar um potencial nas suas culturas. Temos pesquisas que endossam que o manejo de químicos acrescido de soluções biológicas elevam o patamar de produtividade das culturas para um limiar muito maior do que o conhecido”, defende Castro, da UPL.

Em momentos de ciclo positivo, os biológicos tendem a crescer ainda mais, mas o X da questão ainda é esse nível de adoção. Por aqui, a meta dos 50% já foi superada, o que e reforça o País como um de seus principais mercados globais.

No ano fiscal encerrado em março de 2025, o faturamento da empresa atingiu 466,4 bilhões de rúpias indianas, o equivalente a US$ 5,3 bilhões na cotação atual. No balanço, não cita na vírgula a receita por região ou país.

Apesar disso, na época em que a UPL deu um importante salto no mercado brasileiro em 2019 com a compra da Arysta, executivos da multinacional estimavam que o Brasil representava um quinto do faturamento da "nova empresa". Se essa lógica fosse aplicada para os dias atuais, o Brasil estaria faturando pouco mais de US$ 1 bilhão.

Resumo

  • Depois de dois anos marcados por estoques altos, inadimplência e juros elevados, UPL projeta crescimento modesto para o ciclo 2025/2026
  • CEO da empresa no Brasil diz que retomada vem acompanhada de solavancos no crédito, com bancos e instrumentos financeiros ainda se ajustando
  • Mesmo com alta nos bioinsumos, adoção segue cautelosa; empresa mantém meta de 50% da receita em produtos sustentáveis até 2027