Sediado em São Paulo, o Grupo Fictor tem operações diversificadas, que vão dos serviços financeiros, com atuação, entre outros segmentos, na concessão de crédito consignado, ao agronegócio.
Com a marca FictorAgro, atua na comercialização de grãos e oferece serviços de logística e armazenagem para pequenos e médios produtores rurais.
É, de longe, a área de maior receita no grupo, que registrou faturamento de R$ 2,1 bilhões no ano passado, com crescimento de 57%. O lucro líquido, segundo dados da própria empresa, chegou a quase R$ 190 milhões, crescendo mais de 40%.
O segmento agro, por sua vez, faturou R$ 1,8 bilhão em 2023, com crescimento de 45%, movimentando mais de 16,5 milhões de toneladas.
São números como esses que ilustram a estratégia inusitada da FictorAgro para ganhar mais mercado: buscar, através de consultores, pessoas interessadas em diversificar seus investimentos e aportar recursos do negócio, ingressando em um modelo de Sociedade em Conta de Participação (SCP).
“Nós temos relacionamento com consultores que buscam pessoas interessadas no nosso negócio de compra e venda de grãos. Hoje, temos cerca de 1,8 mil pessoas com aportes em nossa atividade de trading”, conta Rafael Paixão, Chief Sales Officer (CSO, ou diretor de Vendas) e sócio do Grupo Fictor.
No caso da FictorAgro, para participar do modelo de SCP é necessário um aporte de pelo menos R$ 30 mil. Oculto dentro da estrutura societária, quem adere ao modelo não tem qualquer obrigação administrativa com o negócio. O papel é desempenhado pelo chamado sócio ostensivo, que neste caso, é o Grupo Fictor.
Segundo Paixão, o plano de investimentos do Grupo Fictor para 2024 é agressivo, com previsão de R$ 2 bilhões, ante menos de R$ 1,5 bilhão em 2023.
Na FictorAgro, detalha, “serão R$ 70 milhões em silos, com a construção de uma nova unidade em Rio Verde (GO), e mais R$ 30 milhões no aumento da nossa frota própria de caminhões”.
No caso dos silos, a empresa opera, em parceria com cerealistas locais, um localizado em Balsas, no Maranhão, com capacidade de 300 mil sacas de grãos, e outra em Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, para 250 mil sacas, atualmente com capacidade limitada a 50% de sua área.
Segundo Paixão, a unidade de Rio Verde vai aumentar significativamente a operação da FictorAgro. “Serão 800 mil sacas de capacidade e o nosso plano é que o silo fique pronto para a safra 2025/2026”, diz.
A FictorAgro movimenta, de acordo com Paixão, aproximadamente 1,5 milhão de sacas de soja, milho e sorgo por mês, o que equivale a cerca de 70 mil toneladas.
No caso dos caminhões, a frota própria da companhia é de 60 veículos, e o investimento vai permitir que este número suba para perto de 100. “Nós utilizamos motoristas terceirizados, e o nosso sistema de pagamento à vista ajuda na captação destes profissionais autônomos”, explica Paixão.
Cerca de 40 profissionais são responsáveis por monitorar a oferta de grãos dos produtores por buscar os melhores preços no lado da demanda, principalmente de empresas processadoras de proteína animal, que compram grãos para alimentar os animais.
“Os grandes produtores possuem 70% da área de soja e milho do Brasil. Mas nós estamos atrás dos outros 30% que, sozinhos, não conseguem alcançar empresas como Seara e BRF, para quem vendemos”, diz o sócio do Grupo Fictor.
A empresa tem mais de 700 produtores cadastrados, que estão localizados na região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), e começando a avançar também para o Pará.
Com toda esta estrutura, o participante do negócio de trading da FictorAgro consegue, segundo Paixão, ter bons retornos. “A taxa que conseguimos fica em CDI mais algo entre 10% e 12% ao ano. Em 2023, o retorno foi de 22%”, afirma.
Os números são atraentes mas exigem atenção dos interessados em aderir ao negócio, que, diferentemente de outros modelos de investimento, não está sujeito às regras de mercado da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Luis Peyser, sócio do i2a Advogados, especialista em direito societário, explica que o SCP está previsto no Código Civil e é um sistema muito utilizado para levantar recursos de forma menos burocrática e mais pulverizada.
“Os contratos podem ser feitos de forma quase ‘artesanal’, é uma relação tipicamente comercial. As duas partes atuam sob contrato e, se houver algum problema, podem acionar a Justiça”, diz Peyser.
Ele afirma, entretanto, que há, no meio jurídico, uma discussão sobre se esse tipo de serviço financeiro deveria ser tratado como investimento, o que traria a necessidade de uma regulação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Peyser faz um paralelo com a criação do modelo de crowdfunding, que é supervisionado pela CVM, mas com uma estrutura mais simples e mais barata, com o objetivo de viabilizar operações de valores menores.
Em outra frente, o Grupo Fictor está sob o escrutínio da autarquia, já que faz também a estruturação de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) com os recebíveis gerados pela operação de compra e venda de grãos, que é feita a prazo, de até 120 dias.
O fundo é distribuído por casas de investimentos como Genial e Ativa e, segundo Paixão, gira em torno de R$ 50 milhões em recebíveis, com alguns vencendo e outros sendo gerados.
“O FIDC oferece um retorno de CDI mais 3% ao ano. O investimento mínimo depende da distribuidora, mas gira em torno de R$ 10 mil”, diz Paixão.