Chegar ao fim de 2025 com expectativa de crescimento não será fácil. O ano começou com incertezas econômicas, climáticas e políticas, tanto em nível nacional como internacional.
A conjuntura combina elevação de juros, pressões por sustentabilidade (ganhando força com a COP30), limitações orçamentárias para as políticas de crédito e de seguro rural, bem como cenários climáticos adversos. Além disso, riscos de insolvência e dificuldades na gestão financeira aparecem como fatores preocupantes para produtores de diferentes tamanhos. Abaixo, destaca-se um panorama dos principais pontos de atenção.
Plano Safra 2025/2026 e ambiente de juros elevados
O Plano Safra 2025/2026 será elaborado em um contexto de taxas de juros elevadas, o que apresenta desafios consideráveis para o setor agrícola. Com a taxa Selic projetada para 15% ao final de 2025, o custo com a subvenção das taxas de juros do crédito rural tende a aumentar significativamente.
Com isso, é possível que haja redução no volume de recursos equalizados disponíveis, necessidade de ajustes nas taxas de financiamento ou no volume total de crédito ofertado.
O governo terá que equilibrar cuidadosamente a necessidade de apoio ao setor com as restrições orçamentárias, possivelmente buscando alternativas inovadoras de financiamento, como tem feito com o Programa Nacional de Recuperação de Pastagens (PNCPD) instituído em 2023.
O problema volta para o orçamento, pois é preciso travar a oscilação cambial dos empréstimos cuja fonte seria em dólar.
Limitações no seguro rural
O seguro rural enfrentará desafios significativos em 2025. Para o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) mudanças no percentual de cobertura, limites para enquadramento, dentre outras, passaram a valer a partir de 02 de janeiro de 2025, segundo normativo publicado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no final de 2024.
Essas mudanças visam reduzir e limitar as despesas orçamentárias com o programa, que atingiram R$ 8 bilhões em 2023. A expectativa é que parte desse público migre para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), no entanto seria necessária uma suplementação de quase R$ 2 bilhões no PSR, frente aos R$ 947,5 milhões previstos para este ano. A natureza orçamentária
Agenda de sustentabilidade e COP30
Com a COP30 programada para novembro de 2025 em Belém, o Brasil terá uma oportunidade única de demonstrar sua liderança em questões climáticas e de sustentabilidade. Entretanto para atingir esse objetivo, o setor precisa de uma ampla articulação para definir uma agenda comum para ser negociada com o Ministério da Agricultura.
O setor precisa também apoiar a construção do Plano Clima Setorial, que inclui eixos voltados à mitigação das emissões de gases de efeito estufa e à adaptação aos impactos das mudanças climáticas. O Plano Clima trará ainda estratégias transversais para a ação climática, que definirão meios de implementação (como financiamento, governança e capacitação) e medidas para a transição justa, dentre outros pontos.
Clima
O quadro climático para o Brasil em 2025 continua apresentando desafios. Apesar do padrão La Niña continuar se manifestando, o país está enfrentando temperaturas acima da média em todo o território nacional.
O Rio Grande do Sul mais uma vez está enfrentando uma redução significativa nas chuvas, e períodos prolongados sem precipitações. Perdas na agricultura voltam a ser contabilizadas.
No Centro-Oeste, em especial no Mato Grosso, o excesso de precipitação afeta o ritmo da colheita da soja e com isso reduz a janela ideal de plantio para o milho. O aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes veio para ficar. A política de seguro rural deve ser um indutor de tecnologias que aumentem a resiliência do setor às mudanças climáticas.
Desafios econômicos e geopolítica
A volatilidade no câmbio e a previsão de alta na taxa de juros continuam pressionando os resultados. A valorização do dólar e a dependência de insumos importados elevam os custos de produção, enquanto a inflação e a pressão sobre a renda dos consumidores podem reduzir a demanda por produtos de maior valor agregado.
Esse cenário exige que os produtores busquem diversificação da produção e inovações para reduzir custos.
No cenário internacional, as tensões comerciais, especialmente entre EUA e China, impactam os mercados globais.
A implementação da Lei Antidesmatamento da União Europeia e as exigências ambientais mais rigorosas podem afetar as exportações brasileiras, mas foram suspensas até 2026. Isso ressalta a necessidade de investir na certificação de produtos agropecuários para garantir acesso a mercados exigentes.
Além disso, o Acordo Mercosul-UE, ainda em fase de adaptação, pode trazer novos desafios e oportunidades para o comércio agrícola.
O agronegócio brasileiro em 2025 de fato enfrenta um cenário complexo, pautado por juros altos, pela necessidade de reforçar a política de seguro rural, demandas crescentes por sustentabilidade e riscos climáticos.
O Plano Safra 2025/2026 será construído nesse contexto, exigindo equilíbrio entre disponibilidade de recursos e viabilidade econômica para produtores.
A oportunidade de sediar a COP30 coloca o Brasil em evidência no cenário internacional, reforçando a importância de pautas como redução de emissões e adoção de práticas sustentáveis.
Paralelamente, a adoção de estratégias de financiamento mais diversificadas e o fortalecimento de políticas de mitigação de riscos serão cruciais para assegurar competitividade e resiliência ao campo brasileiro.
Guilherme Soria Bastos Filho é o coordenador do Centro de Estudos em Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), atuando como consultor e profissional sênior, por mais de 30 anos, no setor agropecuário nacional.