O Brasil tem observado um crescente debate sobre a alta da inflação, impulsionada pelos preços dos alimentos, que tiveram uma variação expressiva ao longo de 2024, impactando diretamente as famílias mais pobres.

Enquanto a inflação ficou em 4,83% em 2024, vimos produtos como o café, considerando o preço ao consumidor, aumentar 34%. Na carne, a alta foi de mais de 20% e diversos outros itens subiram, fazendo com que inflação dos alimentos atingisse 7,69% no período.

A preocupação com a garantia de alimentos básicos na mesa dos brasileiros é legítima e deveria mobilizar todos os setores da sociedade, não apenas o setor público.

Esse debate, porém, algumas vezes traz uma busca por culpados. É mais simples pensar que algum elo da cadeia está levando vantagem e atribuir responsabilidades ao produtor rural, por exemplo, ou as exportações de produtos da agropecuária.

Nós produtores rurais temos trabalhado arduamente, enfrentado desafios climáticos cada vez maiores e operando com custos altos de produção e margens muito apertadas.

Por isso, um dos caminhos evidentes para baratear alimentos é o incentivo à produção por meio da oferta de crédito a juros razoáveis.

É fundamental a disposição do governo em olhar com atenção para o próximo Plano Safra, para que o produtor tenha acesso ao crédito, com taxas de juros mais baixas, para produzir mais. É isso que vai gerar comida em quantidade e preços razoáveis para nossa população.

Um ponto positivo nas medidas anunciadas recentemente é a tentativa de reduzir o ICMS cobrado pelos estados aos produtos da cesta básica, antecipando algo que já deverá ocorrer quando for implementada a Reforma Tributária. Por outro lado, vimos medidas que devem ter um efeito muito limitado, como a redução das alíquotas de importação de alguns produtos.

É necessário entender que as causas da forte variação de preços são bem mais amplas. Passam pelo ciclo das commodities globalmente – a disparada do café, por exemplo, ocorre no mundo, em função de um descompasso entre oferta e demanda, não é um problema só do Brasil.

No mercado da carne bovina, por exemplo, enquanto ainda se discute a alta no preço ao consumidor, pecuaristas nas últimas semanas passaram a ter forte preocupação com uma possível queda de preços. Três grandes unidades de frigoríficos brasileiros tiveram as vendas suspensas para a China e sabemos que este tipo de embargo nem sempre é simples de ser retirado. É fator de pressão para preços que no final do ano passado estavam finalmente remunerando o produtor.

Outro ponto importante na questão da inflação dos alimentos é a variação da taxa de câmbio, a forte desvalorização do real vista recentemente e a taxa básica de juros elevadas. Os temas da macroeconomia influenciam e muito a atividade agropecuária, podendo levar aos movimentos de alta nos preços.

Enquanto isso, entre nós produtores, a ordem é seguir buscando cada vez mais eficiência, com atenção a novas tecnologias que possam nos ajudar a expandir a produção com viabilidade econômica.

E só nos restar torcer – e muito – para que o clima, nosso principal sócio, seja favorável em 2025. Afinal, se a água e o fogo, como vimos no ano passado, voltarem a causar prejuízos e quebra de safra, não há medida governamental capaz de segurar os efeitos no mercado. Hoje sabemos que a mudança climática é uma realidade e estamos atentos para lidar com ela.

Teresa Cristina (Teka) Vendramini é fazendeira, socióloga e conselheira da Embrapa. É ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB).