Num intervalo de apenas dois minutos, a Marfrig protocolou dois documentos na CVM que agradaram o mercado. Tanto é que, logo em seguida, na manhã desta terça-feira, 21 de novembro, os papéis da empresa avançavam por volta de 1%.

As decisões, que geram mais valor para acionistas e alongam as dívidas da empresa, foram definidas em uma reunião do conselho de administração, que tem Marcos Molina como presidente, na véspera.

A empresa primeiro anunciou o cancelamento de 28 milhões de ações que estavam em tesouraria e também a abertura de um novo programa de recompra, que pode chegar até 31 milhões de ações, o equivalente a 9,3% da quantidade de papéis que estão no mercado.

As duas medidas são consideradas boas para os acionistas. Isso porque menos ações em circulação trazem um aumento de participação de cada acionista nos lucros e ativos da empresa.

A Marfrig citou no fato relevante que o objetivo principal das medidas é “maximizar o valor para os acionistas, visando uma administração eficiente da estrutura de capital e o uso adequado dos recursos na compra dessas ações no mercado de valores”. O prazo para essas aquisições é de até 18 meses, iniciando imediatamente.

Na avaliação do analista Tiago Prux, sócio-fundador da casa de análise Capitalizo, a notícia é positiva para os acionistas, pois os programas de recompra e cancelamento de ações aumentam a participação deles na empresa.

“A companhia teve uma geração de caixa forte no terceiro trimestre de 2023, com uma entrada adicional de R$ 1,5 bilhão da venda de ativos, o que a mantém em uma posição mais confortável para realizar esse movimento de recompra”, ressaltou.

Igor Guedes, analista da Genial Investimentos, considera que o programa “não é pequeno” e vê um leve ganho para os acionistas ao dividir o valor de mercado da empresa, que está atualmente em R$ 8 bilhões, por uma quantidade menor de papéis.

A Marfrig também comunicou que levantou US$ 535 milhões, ou R$ 2,5 bilhões pela cotação atual, em uma operação de financiamento que teve participação do “Farm Credit System” e mais seis bancos internacionais. O empréstimo foi enquadrado na modalidade de pré-pagamento de exportação.

A empresa, dessa forma, consegue alongar o pagamento de suas dívidas. No terceiro trimestre deste ano, a dívida líquida consolidada da Marfrig estava em US$ 6,7 bilhões, ou R$ 33,5 bilhões.

“A administração da companhia afirma que essas transações fazem parte do processo de liability management e reforça que essas contratações estão alinhadas com seu compromisso com a disciplina financeira, alongamento do perfil de endividamento e a redução de despesas financeiras da Marfrig”, afirmou em fato relevante.

Além disso, a sua subsidiária americana National Beef também concluiu uma operação que dá liquidez e ajuda a alongar as dívidas.

Na operação, que também contou com bancos internacionais, a companhia aumentou seu limite de um crédito rotativo para US$ 1,1 bilhão e alargou o prazo de pagamento de 2026 para 2028.
Guedes, da Genial, vê a alavancagem da empresa em 3,9 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda. Ao considerar o montante a receber da venda de ativos brasileiros para a Minerva, que ainda dependem da aprovação do CADE, a alavancagem cairia para 3,2 vezes.

“Enxergamos ainda a companhia atingindo, ao final de 2024, uma alavancagem de 3 vezes, um patamar de fato mais saudável do que os 4 vezes que a Marfrig vem rodando atualmente”, diz.

Com a contratação da dívida e o aumento do financiamento da subsidiária, Guedes vê a Marfrig atuando para equilibrar melhor a dívida de curto prazo com longo prazo.

“No terceiro trimestre, a dívida de curto prazo representava 20% do total. Esse valor deve permanecer, mas o perfil médio deve ser empurrado cerca de 1,5 ano para frente, algo que a Marfrig precisa fazer, em nossa visão”, afirma o analista da Genial.

Ele calcula que o prazo médio da dívida da Marfrig era de 5,5 anos antes das mudanças, algo considerado curto frente à JBS, que recentemente estendeu o prazo para 12 anos. Com isso, a Marfrig deve encerrar 2024 com uma alavancagem próxima à da Minerva, um concorrente mais próximo.

O analista avalia que a Minerva está com uma alavancagem 0,3 vezes acima da Marfrig, porém com maior capacidade de geração de caixa em razão dos 16 ativos que teriam sido transferidos, dos quais 11 são no Brasil.

“Esperamos que o CADE aprove a operação ainda em tempo de a Minerva operar com o ciclo do gado em fase favorável”, acrescenta o analista da Genial.

No ano, as ações da Marfrig operam com estabilidade, mas nos últimos 30 dias, acumulam alta de mais de 30%. A Genial prefere se manter neutra em relação ao papel, por considerar um “ciclo do gado desfavorável nos EUA”, segundo Guedes.