Há um mês, a canadense Acadian Sea Beyond, empresa que produz a partir da extração de plantas marinhas, com foco na alga Ascophyllum nodosum, fez alterações em estrutura interna na América Latina, de olho em acelerar os negócios no Brasil, hoje seu segundo maior mercado da empresa na região.

Mas, antes de explicar sobre as alterações internas da empresa, é preciso explicar um pouco do que sustenta essa estratégia. A Acadian fabrica bioestimulantes à base do extrato de algas marinhas, que preserva compostos bioativos e transfere às plantas cultivadas as mesmas capacidades adaptativas da alga, sobretudo em situações de estresse, como seca ou frio.

Isso acontece porque as algas crescem nas águas frias do Oceano Atlântico Norte, entre Canadá, Islândia e Groenlândia, alternando entre imersão em água salgada e exposição à desidratação, suportando variações drásticas de temperatura.

"Esse produto, podemos dizer assim, funciona como um "seguro" da lavoura. Se você fizer o uso desses produtores, com duas ou três aplicações na soja ou no milho, ou um pouco mais, cinco ou seis, em hortaliças, vai estar assegurando que vai passar por momentos turbulentos de forma mais saudável", exemplifica Gustavo Gonella, diretor de marketing da empresa na América Latina, em entrevista ao AgFeed.

Gonella traz mais detalhes também sobre a nova estratégia da companhia: a Acadian está presente em 13 países da região e, antes, sua gestão na América Latina era dividida entre as regiões "Latam Norte" e "Latam Sul".

Agora, a empresa vai centralizar toda a gestão da América Latina em uma divisão só, abrangendo todos os países onde tem atuação em apenas uma estrutura, com o brasileiro Daniel Forlivio à frente da operação.

Forlivio, que assume o cargo de vice-presidente comercial na América Latina, já era responsável pelo comando dos países do Sul da América Latina ao longo dos últimos cinco anos.

Ao lado dele, estão Gonella e Marcos Bettini, diretor de desenvolvimento de mercado, e outros quatro executivos liderando áreas específicas de atuação.

"Essa união é muito importante para otimização e eficiência operacional na região como um todo. Além disso, também vamos traçar aprendizados entre as operações dos países onde atuamos, que é um dos principais focos dessa reestruturação", explica Gonella.

Esse compartilhamento de experiências é considerado estratégico, especialmente porque a adoção das tecnologias da Acadian varia bastante entre os países. No México, por exemplo, o nível de adoção chega a percentuais como 70% a 80%. Na uva de mesa, segundo Gonella, 80% dos agricultores mexicanos usam a tecnologia.

Já no Brasil, esse índice é bem menor: cerca de 35% a 40% na soja, 30% no milho e menos de 20% de café. Hoje, a adoção na soja, por exemplo, é maior no Cerrado brasileiro do que no Sul do Brasil. “Deveria ser maior essa adoção no Sul do país, pensando na resiliência climática, e não é”, avalia Gonella.

"Ainda há bastante espaço para crescer, tanto nessas culturas como em outras, como tomate, batata, hortaliças, folhosas, citros e cacau", enumera Gonella.

No País, a comercialização dos produtos da Acadian é feita no modelo B2B. A empresa mantém uma parceria comercial com a Koppert, multinacional holandesa de biológicos, que vende o produto ao consumidor final sob três marcas diferentes.

A empresa trabalha também com o mercado de fomuladores no mercado nacional. "A gente vende para alguns clientes que compram a matéria-prima nossa e eles processam, e aí eles adicionam alguns produtos, como micronutrientes, por exemplo, e comercializam com a marca deles", diz Gonella.

A Acadian diz ser a maior empresa independente de colheita, cultivo e extração de plantas marinhas do mundo e também afirma que detém 80% das licenças de extração da alga Ascophyllum nodosum no mundo.

A empresa foi criada em 1981 no Canadá e hoje está presente em 80 países, com cinco plantas de produção espalhadas entre seu país-sede, Escócia e Irlanda.

A operação brasileira teve início há cerca de duas décadas, inicialmente em um modelo menor e voltado ao consumidor final (B2C).

Pertencente à família canadense Deveau, a Acadian não divulga dados exatos de faturamento. Gonella estima, porém, que o faturamento anual na América Latina esteja entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões (R$ 275 milhões e R$ 551,14 milhões, na cotação atual).

O Brasil responde por 35% desse montante, o que equivale a algo entre US$ 17,5 milhões e US$ 35 milhões (R$ 96,4 milhões a R$ 192,9 milhões, na cotação atual).

A perspectiva é de crescimento nos próximos anos. "A gente acredita que o Brasil vai passar o México e ser o principal mercado em dois ou três anos", projeta Gonella.

A expansão acompanha o crescimento esperado para o mercado de bioestimulantes, que hoje, segundo a empresa, gira em torno de 900 milhões de dólares (R$ 4,9 bilhões) na América Latina, sendo que as soluções compostas por algas marinhas representam 44% desse total, também segundo a Acadian.

Resumo

  • A canadense Acadian, especializada em extratos de algas marinhas, unifica gestão na América Latina e coloca brasileiro no comando regional
  • A ideia é de ampliar a presença no Brasil, que representa 35% do faturamento latino-americano da companhia; expectativa é de ultrapassar o México em até três anos

Pesquisadores da Acadian recolhem algas no Canadá