Esteio (RS) - O clima entre arrozeiros gaúchos, representantes do setor produtivo e do governo estadual era de comiseração na tarde desta segunda-feira, dia 1º de setembro, na casa do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga), dentro do Parque de Exposições Assis Brasil, sede da 48ª edição da Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina.

Isso porque o Irga divulgou os dados finais da safra 2024/2025 de arroz e a primeira expectativa de semeadura para o ciclo 2025/2026. O estado, que é o maior produtor de arroz do Brasil, com cerca de 70% do total cultivado no País, deve ter redução de área produtiva no próximo ciclo.

O refluxo chama a atenção principalmente porque a temporada de arroz que está se encerrando fechou com uma produção de 8,7 milhões de toneladas, a mais alta das últimas cinco safras, com produtividade igualmente recorde, de 9.040 kg/ha. A área semeada total foi de 970,2 mil hectares.

Em tese, a supersafra de arroz seria motivo de festa para os produtores. Só que a oferta foi tanta que o preço caiu – na semana passada, era comercializado a R$ 67,27, segundo dados do Cepea/Irga, ante R$ 118 há 12 meses.

Associado a isso, os produtores também adotaram uma estratégia confessadamente equivocada do ponto de vista comercial, priorizando o mercado interno em detrimento das exportações. Com isso, os arrozeiros agora estão em crise.

“Estamos quebrando com os silos cheios”, resumiu Domingos Velho Lopes, vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), na coletiva de imprensa em que os números da safra foram apresentados na tarde desta quinta-feira.

Dessa forma, a solução será, por enquanto, diminuir a área semeada de arroz na safra 2025/2026, que começa a ser plantada no fim de outubro.

A expectativa é de que no próximo ciclo, a área de cultivo recue 5,27%, chegando a 920 mil hectares. Todas as regiões produtoras gaúchas devem apresentar quedas em suas áreas semeadas.

Para diversificar mercados e tentar valorizar o mercado, o Irga diz que está trabalhando junto ao InvestRS, agência de desenvolvimento do Rio Grande do Sul, para enviar o arroz produzido pelos gaúchos para fora do país.

“Estamos buscarmos trabalhar a exportação tanto do arroz em casca quanto do arroz beneficiado”, afirmou Eduardo Bonotto, presidente do Irga, citando também que a mesma aproximação está sendo feita junto à ApexBrasil, a agência de promoção de comércio exterior do governo federal.

Outra possibilidade que surge para os produtores gaúchos é ocupar áreas antes destinadas à produção de arroz com pecuária, lembra o Irga, aproveitando a expertise de criação de cabeças de gado na região Sul do estado.

Em paralelo, o instituto gaúcho do arroz também vai lançar uma campanha chamada "O arroz é a energia que une o Brasil" ao longo do segundo semestre, com ações publicitárias em emissoras de televisão, sites e redes sociais para incentivar o consumo do cereal.

Além dos esforços do Executivo gaúcho, ainda há mais uma possibilidade de escoar o excesso de produção dos arrozeiros, desta vez, pelo governo federal.

Mais cedo, antes da divulgação dos dados da produção de arroz na safra, o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, informou, também na Expointer, que iria disponibilizar mais R$ 300 milhões em leilões de contrato de opção de venda (COVs) de arroz ao longo da safra 2025/2026.

“É uma ótima sinalização de que o produtor vai contar com a mão amiga do governo federal”, disse Pretto. O presidente da Conab salientou também que o Executivo quer contribuir com o setor para abertura de novos mercados.

“O governo federal está com a mão estendida para quem produz, para o nosso mercado interno, mas nós queremos também buscar mercado externo”, disse Pretto.

Ele também mencionou que o México é um possível mercado de exportação, em referência a uma missão do governo brasileiro ao país na semana passada, visita que contou com a presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e outros representantes do governo federal.

Por enquanto, o presidente da Federarroz, Denis Dias Nunes, assumiu um tom de cautela em relação a eventuais novos leilões da Conab.

“No momento, a gente vai ter que analisar os dados. Nós não temos informações muito claras. Temos outras prioridades, temos a questão de crédito, a questão da área plantada, as exportações que a gente tem que realizar até o fim do ano até o começo da próxima safra. Vamos esperar o andar da carruagem [para alguma definição]”, disse o presidente da Federarroz, que vê com ressalvas a formação de estoques de arroz por parte do governo.

A Conab já havia feito, há duas semanas, um outro leilão, de R$ 181,1 milhões, que acabou bem sucedido. No certame, a autarquia do governo federal negociou cerca de 109,2 mil toneladas do grão em contrato de opção, o que representa 99,8% de um total de 110 mil toneladas ofertadas pela estatal.

Esse foi o terceiro leilão promovido pelo governo federal em pouco mais de um ano. O primeiro foi promovido em junho do ano passado, quando a Conab adquiriu 267,3 mil toneladas de arroz importado de outros países, após as enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul.

Na época, os arrozeiros gaúchos criticaram a ação, alegando que eram capazes de abastecer o mercado e que já sofriam com a concorrência de produtos importados “sem tarifas” de países do Mercosul. O leilão acabou sendo anulado por irregularidades no certame.

O segundo ocorreu em dezembro do ano passado, e teve pouca adesão dos produtores – com a negociação de 91,7 mil toneladas de um total de 500 mil toneladas. Agora, novos leilões virão – resta saber se os produtores vão aderir com a mesma intensidade.

Resumo

  • Safra 2024/2025 de arroz no RS bateu recorde com produção de 8,7 milhões de toneladas, segundo dados divulgados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) durante a 48ª edição da Expointer
  • Com superoferta e queda de 40% nos preços, a área semeada de arroz no Rio Grande do Sul deve se reduzir na próxima safra 2025/2026 em 5,27%
  • Governo estadual busca novos mercados externos e campanha para fortalecer o consumo; já a Conab, autarquia do governo federal. promete R$ 300 milhões em leilões de opção de venda para apoiar o setor