Esteio (RS) - Enquanto as montadoras de máquinas agrícolas foram atingidas em cheio pela crise vivida pelos produtores rurais nos últimos anos, que fez a comercialização de tratores e demais equipamentos retrair 19,9% somente no ano passado, segundo dados da Abimaq, empresas que fabricam tratores de menor porte viveram um momento diferente, com alta nas vendas.

É o caso da Agritech Lavrale, indústria de tratores e implementos agrícolas, que pertence ao Grupo Stédile, do Rio Grande do Sul, também dono da montadora Agrale.

"O ano de 2024 foi excelente para nós. Fechamos com 27% de crescimento", diz Cesar Roberto Guimarães de Oliveira, gerente de vendas e marketing da Agritech, em entrevista ao AgFeed.

Já neste ano a situação é um pouco diferente, explica Oliveira. O executivo diz que as vendas foram bem entre janeiro e maio, até que as primeiras notícias envolvendo tarifas do governo do Estados Unidos contra produtos importados do Brasil – inicialmente de 10% em abril e depois elevadas para 50% em julho – deixaram os produtores rurais mais cautelosos na hora de investir em novas tecnologias.

Assim, mesmo indústrias sem perfil exportador sentiram o tarifaço de Donald Trump operando como um freio nos seus negócios, desacelerando negócios. "A partir de maio, o mercado passou a apresentar retenção e, em termos de vendas, entrou em queda", avalia Oliveira.

Ainda assim, ele diz que a Agritech projeta um crescimento de 9% em suas vendas neste ano em comparação com 2024.

"Estamos mantendo as vendas porque estamos com uma gordura grande. A gente tem uma carteira grande. Tenho modelos para entregar até dezembro", explica Oliveira, que conversou com a reportagem no estande da companhia na 48ª edição da Expointer, realizada nesta semana no Rio Grande do Sul.

O foco da Agritech é a resiliente agricultura familiar, atendendo principalmente pequenos e médios produtores de café, de frutas como uva e pêssego, e de olericultura.

Para reforçar essa estratégia, a montadora aproveitou a feira agropecuária no Sul do País para lançar uma nova máquina, o trator 1185 Fruteiro, projetado, como o nome indica, especificamente para uso no cultivo de frutas.

A máquina possibilita o acoplamento de pulverizadores que requerem diâmetros determinados de turbina e volumes específicos de calda, assegurando cobertura uniforme e eficiência na aplicação em pomares.

Além disso, a empresa também lançou recentemente o AF14, um microtrator voltado para pequenos agricultores familiares, desenvolvido para atender propriedades de até 20 hectares.

A máquina pode ser adquirida por meio de uma linha de financiamento do governo federal, o Pronaf Mais Alimentos, destinada a produtores familaires com crédito de até R$ 100 mil para compra de máquinas e implementos, com taxa de juros de até 2,5%. Assim, a companhia dribla outra trava das vendas nos últimos meses, que são as taxas de juros proibitivas.

"A gente disse: 'Vamos produzir uma máquina com custo menor, para que ele também compre implementos e não ultrapasse o limite do financiamento'", afirma.

Essa iniciativa reflete um pouco da estratégia comercial da Agritech, que aposta na flexibilidade como diferencial competitivo, destaca Oliveira.

Os tratores da companhia, com potência entre 14 e 82 cavalos, possuem configuração modular que permite adaptações de acordo com a demanda.

“Se o produtor pede uma mudança no produto, nós ajustamos. Nossa característica é produzir de acordo com a necessidade do produtor”, afirma.

Hoje, a empresa possui mais de 80 revendas espalhadas pelo Brasil. Os principais mercados são as regiões Sudeste, atendendo produtores de café de estados como São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, e Sul, focada nos produtores gaúchos de uva, bergamota e pêssego. "No passado, a região Sul era a mais forte, mas hoje o Sudeste está na frente", diz Oliveira.

A Agritech também atua no Nordeste, onde atende produtores de uva da região de Petrolina (PE).

Cafeicultores e fruticultores estão, entretanto, entre os grupos afetados pelas tarifas de 50% impostas por Trump para exportação, daí a preocupação em avançar, por enquanto, com a renovação do parque de máquinas.

Já no Centro-Oeste, a presença da marca é mais limitada. Segundo Oliveira, o perfil dos produtores da região, com grandes propriedades que demandam tratores de maior porte e potência, restringe a penetração da Agritech no mercado local.

A Agritech iniciou suas atividades em 2001, quando a montadora japonesa Yanmar resolveu encerrar suas atividades de produção de tratores no Brasil.

"A Agrale comprou o direito de produção e uso da marca Yanmar", diz Oliveira, que está na empresa desde o começo da operação e acompanhou as mudanças ao longo dos anos.

Em 2018, a Yanmar resolveu voltar ao Brasil, em uma parceria com a fabricante indiana ITL, dona das marcas Solis e Sonalika. Com o novo acordo, a montadora japonesa encerrou a parceria que mantinha com a Agritech e passou a estampar sua marca nos tratores Solis.

Desde então, a empresa do Grupo Stédile passou a atuar em parceria com sua “irmã” Lavrale, indústria de implementos agrícolas que também pertence aos gaúchos.

A família Stédile é proprietária ainda da Agrale, tradicional fabricante de caminhões e máquinas agrícolas baseada em Caxias do Sul (RS), que opera de forma independente da Agritech, cuja linha de produção está instalada em Indaiatuba (SP). “Indiretamente, são nossos concorrentes na linha de tratores”, diz Oliveira.

Resumo

  • Depois de ver suas vendas crescerem 27% no ano passado, indústria de máquinas agrícolas Agritech Lavrale deve desacelerar, avançando 9% em 2025
  • Redução no ritmo das vendas ocorre desde maio, com impacto das tarifas dos Estados Unidos sobre o Brasil e produtores mais avessos a investir em novas tecnologias
  • Empresa mantém estratégia comercial de foco em agricultura familiar, atendendo pequenos e médios produtores das regiões Sul e Sudeste do Brasil