Esteio (RS) - Depois de sofrerem com estiagem e mais uma quebra de expectativa de produção de soja na safra 2024/2025, os produtores da oleaginosa no Rio Grande do Sul devem finalmente ter um momento de alívio ao longo da safra 2025/2026, ainda que as condições de financiamento da produção permaneçam difíceis.

É que a produção da oleaginosa deve crescer 57,1% no estado ao longo da safra 2025/2026, chegando a 21,4 milhões de toneladas, ante 13,6 milhões de toneladas produzidas na safra 2024/2025.

Trata-se da primeira estimativa feita pela Emater-RS para esta temporada, que foi apresentada por técnicos da empresa de assistência técnica gaúcha em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, 2 de setembro, na Expointer.

Acompanhando o aumento da produção, a produtividade da soja gaúcha também deve crescer 58,2%, saindo de 2 mil kg por hectare para 3,1 mil kg por hectare nesta safra. Já a área plantada deve continuar estável, com leve recuo de 0,8% em relação à temporada anterior, totalizando 6,74 milhões de hectares.

Para o milho, a projeção é de crescimento de área plantada, chegando a 785 mil hectares na safra 2025/2026, alta de 9,3%. A expectativa é de que áreas antes destinadas à soja sejam ocupadas pelo milho na temporada.

A produção também deve crescer, chegando a 5,7 milhões de toneladas, crescimento de 9,4% em relação à safra anterior. Já a produtividade deve se manter estável, com pequeno recuo de 0,03%, atingindo 7,3 mil kg por hectare.

As condições climáticas devem ajudar os produtores ao longo desta safra de grãos, com chuvas acima da média ao longo do segundo semestre – ainda que a expectativa da formação de uma nova aparição do fenômeno La Niña deixe os produtores em alerta.

Mas nem tudo são flores, no entanto. Como já era de se esperar, como os produtores estão vindo de sucessivas perdas de safras e estão endividados, as condições de crédito dos produtores estão limitadas neste momento, explicou Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater-RS.

“É um momento bastante sensível. Os produtores não estão conseguindo acessar crédito rural conforme os últimos anos”, diz.

Os produtores gaúchos vivem um momento de dificuldades financeiras. Só as dívidas com vencimento neste ano devem chegar à R$ 27,7 bilhões. Mas o montante total de débitos dos agricultores gaúchos, considerando aqueles com vencimento em diferentes anos, é bem maior, chegando a R$ 72,8 bilhões.

As perdas dos produtores como um todo já ultrapassam R$ 106 bilhões nas últimas safras, segundo dados da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul).

Célio Alberto Colle, responsável pela área de crédito rural da Emater-RS, estimou que, historicamente, em torno de 40% a 43% das áreas plantadas de soja no Rio Grande do Sul e 60% das áreas de milho são financiadas ao longo da safra.

Mas, até o momento, esses percentuais estão bem mais baixos, de acordo com dados colhidos pela Emater junto ao Banco Central. “Temos 18% da área de milho financiada e entre 9% a 10% das áreas de soja financiadas. Era para ser mais alto”, disse Colle.

Situação semelhante vivem os produtores de trigo gaúchos, cujo plantio já foi finalizado, afirmou Colle. Dos cerca de 1,190 milhão de hectares de trigo plantados neste ano, 530 mil hectares foram financiados. “Geralmente entre 850 a 900 mil hectares são financiados, ou seja, a procura foi menor”, disse o extensionista.

Os bancos também confirmaram à Emater-RS que a demanda está menor, disse Colle.

“A gente faz uma rodada com o pessoal dos bancos, uma conversa informal, e eles estão também percebendo que tem uma menor procura pelos produtores”, afirma o extensionista.

Colle também disse que há possibilidade de que a tomada de crédito por parte dos produtores esteja represada neste momento em função dos juros altos e de possíveis movimentos de renegociação de dívida. “O que a gente estima é que, talvez com essa questão das renegociações, securitização, o pessoal esteja aguardando ainda um pouco”, disse.

Os produtores gaúchos se mostraram insatisfeitos até o momento com as medidas anunciadas pelo governo federal em maio para mitigar a situação crítica.

Na ocasião, o Executivo federal anunciou que iria prorrogar o prazo de pagamento de financiamentos para custeio e investimentos firmados por agricultores gaúchos utilizando os recursos equalizados do Plano Safra.

A decisão foi divulgada em resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), de nº 5.220, de 29 de maio. Nas operações de custeio do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), a prorrogação foi de até três anos. Já nas linhas de investimentos, o prazo para pagamento foi esticado em 12 meses. As linhas do Pronaf já permitiam renegociação.

Os produtores, no entanto, defendem a securitização das dívidas ou outras medidas alternativas. Os agricultores esperam que o governo federal apresente soluções já durante a Expointer, expectativa reforçada pela visita do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, prevista para a próxima sexta-feira, dia 5 de setembro.

Resumo

  • Depois de quebra de safra, soja gaúcha deve ter recuperação na temporada 2025/2026, com alta de 57,1% na produção e produtividade 58,2% maior, enquanto a área plantada se mantém estável
  • Produção de milho também deve crescer no Rio Grande do Sul, com expansão de 9,3% na área plantada e produção estimada em 5,7 milhões de toneladas
  • Produtores gaúchos seguem endividados e com pouco acesso a crédito e esperam soluções por parte do governo federal a serem apresentadas ainda durante a Expointer