Quem entrasse no estande da indústria gaúcha de rações AgroBella Nutrição Animal na Expointer, feira agropecuária que ocorre nesta semana no Rio Grande do Sul, encontrava dispostos sobre as mesas do espaço flocos de milho muito parecidos com o famoso cereal matinal Sucrilhos, da americana Kellogg’s.

A diferença é que, em vez dos flocos com a cobertura de açúcar típica do Sucrilhos, o que estava sendo apresentado era milho floculado puro, um insumo amplamente utilizado na ração de bovinos de corte e de leite nos Estados Unidos, mas ainda pouco difundido no Brasil.

A AgroBella trouxe essa tecnologia para o país ainda no passado e agora está comercializando o produto neste ano, ao mesmo tempo em que acaba de inaugurar uma nova fábrica em Frederico Westphalen, cidade ao Norte do Rio Grande do Sul, exclusivamente dedicada à produção de rações a granel, importante para os negócios.

Tudo começou com uma inquietação passou a mover a diretoria da empresa em viagens aos Estados Unidos, que tentava responder a seguinte pergunta: como os pecuaristas americanos conseguem produzir com tanta produtividade?

A resposta estava na ração dos animais. Isso porque os produtores americanos já usam, há mais de 40 anos, milho floculado para alimentar os rebanhos – aproveitando a farta disponibilidade do cereal no país, o maior produtor de milho do mundo.

O milho floculado melhora a digestão e absorção do amido do cereal pelos animais – saindo de uma faixa de aborção de 70% no milho moído para mais de 90% no floculado.

"É por isso que os americanos pegam esse ingrediente nobre, que é o milho, para fabricar a ração e, ao invés de simplesmente moer ele, eles fazem um processamento diferente, que envolve cozimento e laminação para tornar esse produto mais eficiente", explica Vinicius Perlin, gerente da AgroBella, em entrevista ao AgFeed.

“No fim, estamos falando de eficiência: com o mesmo quilo de milho, só que floculado, nós conseguimos fazer mais leite e mais carne.”

Ele explica que essa representa uma terceira geração de produção de rações. Inicialmente, em uma primeira fase, num processo mais simples, a indústria apenas fazia a moagem dos cereais, os misturava e entregava para os produtores.

Mais tarde, já em um segundo momento, emenda Perlin, começou a fase de ração peletizadas, na qual os ingredientes são moídos, passam dentro de uma peletizadora que vai calor e pressão e, dali, surgem os pellets.

“E agora, lançamos essa terceira geração, que é muito conhecida nos Estados Unidos e na Europa, que se chama texturização. Essa ração é a mistura de cereais, farelos e floculados”, resume Perlin.

Assim, depois de conhecer a tecnologia de produção, a AgroBella passou todo o ano passado focada no desenvolvimento da linha de produção de cereais floculados e, neste ano, passou a comercializar o produto junto aos produtores, fornecendo rações com milho e também soja floculada.

No futuro, a ideia é também agregar mais adiante o trigo, cultura comum nas lavouras gaúchas, no processo de floculação. “A nossa ideia é deslanchar também o trigo, mas isso vai ficar para depois”, diz Perlin.

A empresa diz que é a primeira do Brasil a trazer essa tecnologia nas rações que são vendidas aos produtores.

"Temos certeza de que estamos abrindo um caminho que outras indústrias vão passar. Ser pioneiro sempre é importante", diz Perlin.

A ração com milho floculado hoje é fabricada na unidade da AgroBella em Frederico Westphalen (RS), no Norte gaúcho, onde a empresa nasceu, há 27 anos, em 1998.

Antes da criação da AgroBella, o fundador da empresa, Benoni Sponchiado, criava e vendia porcos, e resolveu ir além no fim dos anos 1990, quando passou a fabricar rações fareladas para animais.

A empresa foi crescendo ao longo dos anos 2000, até que, em 2014, expandiu seus negocios, com a inauguração de uma mais fábrica de rações, na cidade de Caibi (SC), no Oeste catarinense.

Três anos depois, em 2017, foi a vez de uma nova estrutura no Rio Grande do Sul, com mais uma fábrica, localizada em Pelotas, na região Sul do estado. "O Rio Grande do Sul é grande e precisávamos de uma estrutura naquela região, com foco em equinos e bovinos de corte", explica Perlin.

Mais recentemente, em abril deste ano, a AgroBella inaugurou uma nova fábrica em Frederico Westphalen, totalmente dedicada à fabricação de rações a granel – as demais produzem também rações ensacadas.

Localizada às margens da BR-386, a planta tem capacidade de produzir aproximadamente 35 toneladas de produtos por hora.

"As fábricas já em atividade não tinham mais capacidade de produção. Veio, então, a necessidade de mais uma fábrica", diz.

A AgroBella fabrica rações para gado de corte, leiteiro, suínos, aves, equinos, ovinos, coelhos, peixes, entre outras espécies.

Perlin explica que a empresa possui duas modalidades de comercialização, com rações a granel e ensacadas.

Hoje, as rações a granel correspondem a uma parcela signficativa da receita da AgroBella, segundo Perlin. Nessa modalidade, a ração sai das indústrias da empresa direto para a propriedade do produtor, que armazena o produto em silos.

A outra parte da receita vem do "público mais urbano", segundo o gerente técnico, que compram os produtos da empresa em lojas – hoje, são mais de 1,3 mil pontos com as rações da AgroBella – que vendem os itens em sacos que vão de 5 kg a 4o kg.

"São consumidores que tem uma produção própria de frango de corte, um suíno no fundo do quintal, que tem coelho, codorna, e compra os produtos em lojas parceiras", explica.

No negócio de rações, a empresa hoje atende os três estados da região Sul – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – e envia também produtos para países como Argentina, Uruguai e Paraguai. O principal mercado ainda é o gaúcho.

Perlin diz que há a intenção de seguir com os produtos para outros mercados no Brasil em algum momento, ainda que a empresa prefira agir com cautela em uma possível expansão comercial.

“A AgroBella sempre faz um trabalho bem feito. Quando formos para uma nova região, queremos também fazer um bom trabalho. A gente às vezes vê empresas que expandem, mas ficam um tempo e não dá certo.”

Além das rações, a AgroBella mantém ainda um confinamento em Seberi (RS), que produz carnes premium com genética Angus e Wagyu, com uma média de 4 mil animais confinados por ano e acordos com os frigoríficos gaúchos Madu e Sul para comercializar a carne que produz.

No confinamento, a empresa busca adotar práticas de bem-estar animal, utilizando, por exemplo, cortinas para proteger os animais dentro da estrutura, sujeito às rápidas mudanças climáticas características do Rio Grande do Sul.

“Trata-se de um projeto bastante inovador, aplicando muita tecnologia para ter uma carne de qualidade e buscar um nicho de mercado especial”, resume Perlin.

Resumo

  • AgroBella Nutrição Animal está lançando no Brasil insumo já usado há mais de 40 anos nos EUA para aumentar a eficiência da alimentação de bovinos
  • Ao mesmo tempo, a empresa acaba de inaugurar uma nova fábrica em Frederico Westphalen (RS), exclusivamente dedicada à produção de rações a granel.
  • Com atuação no Sul do país e exportação para Argentina, Uruguai e Paraguai, a AgroBella mantém um confinamento de Angus e Wagyu, com foco em carne premium