A dificuldade para cumprir as metas obrigou a Plantae Agrocrédito, instituição financeira voltada exclusivamente ao setor agropecuário, a subir a régua e a reestruturar seu portfólio de clientes.
Em um cenário de juros altos e incerteza sobre os investimentos para a produção, saem as arriscadas culturas anuais de grãos, sob uma indústria de recuperação judicial, e entra a prioridade na carteira por produtores de culturas perenes e pecuaristas.
Segundo revelou Wolney Arruda, fundador e CEO da instituição financeira em entrevista ao AgFeed, 80% dos seus clientes atuais são produtores de cana, laranja, eucalipto e pecuária.
“A gente está tirando muito o pé no setor de grãos, aumentando muito a régua ali para conceder crédito. Grãos você só tem uma safra e o risco é grande e cana, por exemplo, você tem cinco safras”, explicou Arruda.
Há um ano, a meta da Plantae era encerrar 2024 com R$ 220 milhões de carteira e R$ 380 milhões em originação de crédito, uma recuperação após duas safras sofridas, com estiagens e excessos de chuva. No entanto, com o processo de enxugamento da carteira e redução de riscos, foram R$ 170 milhões de carteira e R$ 320 milhões de originação no ano passado.
Para 2025, o cenário é de estabilidade, com entre R$ 180 mihões e R$ 200 milhões em carteira e R$ 300 milhões em originação.
O sinal para elevar a régua e reestruturar a carteira veio da inadimplência para dívidas vencidas há mais de 90 dias, que saiu de 0,4% para 1,5% em 2024 e com perspectiva de se manter estável em 2025.
“O grande pulo nosso vai ser para 2026, quando a gente espera resolver esse ‘gap’ de inadimplência e ter uma perspectiva bem melhor”, afirmou Arruda. As projeções no próximo ano são de, no mínimo, R$ 250 milhões em carteira, R$ 450 milhões em originação e inadimplência, entre 0,5% e 1%.
Para o CEO da Plantae, os resultados positivos virão porque a instituição financeira “fez a lição de casa” e também superou o impacto no balanço das novas regras do Conselho Monetário Nacional, com a elevação as Provisões de Devedores Duvidosos (PDDs) e diminuiu a exposição aos grãos.
O “grande pulo”, segundo Arruda, já começou e conta com a ajuda da parceria entre a instituição financeira e agroindústrias em operações de triangulação e de “blended finance” para originação de crédito agropecuário.
No primeiro modelo, o executivo cita um grande grupo sucroenergético, como é o caso da Tereos, segundo ele. A companhia solicita à Plantae um limite de crédito pré-aprovado para para proprietários e arrendatários fornecedores de cana-de-açúcar.
Com o limite pré-aprovado, em até cinco dias o dinheiro está na conta do produtor, mesmo sem garantia real. Essa garantia está no momento em que a companhia processadora paga pela cana entrega às usinas.
O dinheiro passa pelo caixa da Plantae, que desconta o financiamento e repassa a diferença ao produtor. “A gente faz o contrato que é uma CPR, Cédula de Produto Rural, com a garantia dessa cessão”.
Já a operação de blended finance, como o termo em inglês diz, é um financiamento misto, no qual o crédito é dividido entre as agroindústrias parceiras e a Plantae.
“Temos indústrias parceiras que têm recurso, mas não conseguem atender os clientes devido às limitações operacionais que a gente consegue suprir, como monitoramento de lavouras e uma série de ferramentas para garantir que aquele produto vai ser entregue”,
De acordo com Arruda, com a parceria, agroindústria e Plantae dividem a cessão de crédito e as grandes companhias assumem a metade inicial do prejuízo de uma possível inadimplência.
“Estamos conseguindo fechar duas ou três grandes parcerias nesse sentido e, obviamente, que ela (agroindústria) só me traz fornecedor de rating AAA para não ter risco de inadimplência”, explicou.
As principais linhas da Plantae são de crédito para capital de giro, com juros de 1,7% a 1,8% ao mês e prazos de 18 meses, “bem mais em conta”, na avaliação de Arruda, do que as de bancos tradicionais que ainda exigem garantia real.
Segurança
Além de subir a régua no crédito, a Plantae iniciou parceria com a plataforma Davi, especializada em segurança digital, para alertar sobre e proteger os clientes de golpes digitais.
Por meio da ferramenta, os 700 clientes da instituição financeira, todos produtores rurais, têm os CPFs e e-mails monitorados e protegidos contra fraudes e golpes 24 horas por dia com ajuda da inteligência artificial.
De acordo com Arruda, o investimento anual de R$ 100 mil para ceder gratuitamente aos clientes o benefício tem retorno garantido. “A economia é muito maior porque tem a fidelidade e os benefícios aos clientes”, concluiu.
Resumo
- Instituição teve dificuldades em cumprir metas nos últimos anos e decidiu rever carteira de clientes
- 80% da carteira da Plantae já está em culturas perenes e pecuária, reduzindo exposição a grãos e inadimplência
- Expectativa para 2026 é de um salto para R$ 250 milhões em carteira, R$ 450 milhões em originação e queda da inadimplência para até 1%