Chapadão do Sul (MS) - No mundo corporativo, poucas empresas mantêm a família fundadora à frente da administração. Nesse sentido, o agronegócio é diferente, já que é muito comum os negócios passarem de geração para geração.

É o caso do Grupo Matsumoto. O patriarca da família, Paulo Matsumoto, migrou para Goiás em 1988, ao comprar uma área de 600 hectares.

Hoje, seu filho, Paulo César Schlatter Matsumoto, comanda a empresa que tem cerca de 20 mil hectares de área, a maior parte em três fazendas no Mato Grosso do Sul, onde cultiva soja, milho, algodão, e é referência nacional em bem-estar animal na pecuária bovina de corte.

O AgFeed visitou a Fazenda Confiança, localizada em Chapadão do Sul, na divisa entre Mato Grosso do Sul e Goiás. Lá, Paulo César afirma que o grupo ainda está em crescimento, mas em uma situação privilegiada: sem se alavancar buscando crédito para financiar essa expansão.

“Ainda estamos no que chamo de ‘expansão horizontal’. Vamos comprar novas áreas, até para continuar a diversificação que já temos hoje”, diz o diretor de Agronegócios do Grupo Matsumoto.

A família fala pouco sobre os números do grupo, como faturamento e investimentos. Mas segundo Paulo César, a adoção de tecnologias de precisão e máquinas de última geração permitem resultados que ficam bem acima da média nacional em produtividade.

Em algumas áreas de suas fazendas, os Matsumoto chegaram a registrar produtividade de 100 sacas de soja por hectare na safra 2024/2025. Na média geral, a produtividade foi de 80 sacas por hectare.

Segundo João Braga, líder Comercial de Licenciamento da Corteva para Brasil e Paraguai em soja e algodão, a média nacional está próxima de 65 sacas de 60 kg por hectare.

Braga estava presente na visita à Fazenda Confiança, já que o Grupo Matsumoto é um dos principais clientes da Uniggel, multiplicadora de sementes que tem parceria com a Corteva no atendimento aos produtores rurais do Centro-Oeste.

Apesar do volume de investimentos e dos custos envolvidos na produção em larga escala, Paulo César afirma que o Grupo Matsumoto evita recorrer ao crédito bancário.

“Hoje, não fazemos mais financiamento, nem para o custeio. Preferimos utilizar caixa próprio, e vamos seguir assim. Os juros de hoje são impraticáveis. Não é possível ter retorno pagando até 20% ao ano em um empréstimo bancário”, conta o produtor.

Ele conta que muitos grupos com portes semelhantes ao Matsumoto têm conseguido adotar a prática.

“Sabemos que muitas empresas que têm essa condição acabam se limitando a pegar o crédito com juros subsidiados que estão disponíveis para custeio. Estamos bem capitalizados, então usamos recursos próprios para o restante dos custos de produção”, diz Paulo César.

O Plano Safra 2025/2026 do governo federal tem um orçamento de R$ 516 bilhões para grandes empresas do agronegócio e para produtores de porte médio, via Pronamp.

Paulo Matsumoto, que iniciou os negócios da família, afirma que não está mais no dia a dia da administração do Grupo. Mas acompanha de perto a evolução do setor e ressalta que o cenário econômico atual não é o mais favorável para o agronegócio.

Mesmo assim, a família já prepara a terceira geração para assumir o Grupo Matsumoto. O filho mais velho de Paulo César, Alberto, já trabalha nas fazendas da família.

Segundo o patriarca, a intenção é preparar o neto para assumir algumas áreas da família. “Nós temos uma área arrendada no Mato Grosso e, para os próximos anos, o plano é voltar a atuar diretamente nessas terras, com o meu neto assumindo os negócios por lá”, afirma Paulo Matsumoto.

Pecuária

Paulo César afirma que a criação de gado é a atividade mais recente desenvolvida pelo Grupo Matsumoto. “Dizemos que ela é nova, mas já tem 15 anos. Hoje, temos um plantel de aproximadamente 6 mil cabeças de gado”.

Os Matsumoto atuam na cria, recria e engorda do gado e são fornecedores da JBS. O grupo inclusive já foi reconhecido em um prêmio organizado pela gigante global para as fazendas com melhores práticas de criação.

“Hoje, dentro dos negócios da empresa, claro que os grãos têm maior participação nas nossas receitas. Mas posso dizer que a pecuária ganha cada vez mais relevância, e vamos investir mais na atividade”, diz Paulo César.

Resumo

  • Empresa agropecuária sul-mato-grossense, prestes a completar 40 anos, anuncia expansão baseada em recursos próprios
  • O plano inclui abertura de novas áreas produtivas e aquisição de propriedades ou ativos estratégicos
  • A estratégia reforça crescimento sustentável e independência financeira no longo prazo, fugindo dos juros altos do crédito rural

Três gerações da familia Matsumoto: sucessão planejada