O Brasil está ampliando o número de países que consomem nossos produtos, atualmente já são 220, mas os especialistas acreditam que o problema é outro.

Com 38% das exportações do agro concentradas no Complexo Soja, o desafio do setor é saber porque ainda há tantas dificuldades para pequenos produtores acessarem o mercado externo.

Uma análise feita pela Agroconsult atualizou o indicador conhecido como Índice de Diversificação Setorial (GSDI), que revela qual o nível de concentração da pauta exportadora dos países, em uma escala de zero a 1.

Quanto mais próximo de 1 estiver o indicador, mais diversificada é a lista de produtos exportados. Já a proximidade do zero revela que os embarques estão mais concentrados em poucos itens.

Foram escolhidas as quatro nações que mais exportam produtos agrícolas, além da Uniao Europeia, como bloco. E o resultado: o Brasil teve o pior desempenho, ficou com nota 0,23, o que revela uma baixa diversificação.

O melhor entre os cinco foi Uniao Europeia com 0,56, seguida dos Estados Unidos, com 0,54.

O motivo da menor diversificação no Brasil é a ampla participação da soja e derivados (18%) e do complexo carnes, que corresponde a 16% das exportações agropecuárias. Em seguida com índices próximos a 10% estão itens como produtos florestais, setor sucroalcoleiro, entre outros.

Para Pedro Rodrigues, assessor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a mudança neste cenário depende do maior acesso de pequenos e médios produtores ao mercado externo, mas a entidade recebe relatos com frequências de barreiras e dificuldades que impedem este movimento.

"Embora o Brasil seja grande exportador e quase a metade da receita das exportações venha do agro, falta diversificar esta pauta, há muito espaço de crescimento para produtos como mel, frutas, tilápia, por exemplo”, afirma a sócia da Agroconsult Débora Simões.

Pedro Rodrigues lembra também que a estrutura de custo dos produtores rurais é muito atrelada ao dólar, principalmente em função dos fertilizantes, que tem matéria-prima importada. O acesso ao mercado externo, desta forma, ajuda a mitigar os riscos.

"Não é que o morango um dia vai chegar na importância que tem a soja na exportação", explica o assessor da CNA. "Claro que não existe demanda para isso e nem é um produto com este tipo de perfil, mas para este produtor é muito importante  ter acesso a uma outra fonte de renda que não seja só o mercado nacional, criando uma receita que também esteja relacionada ao dólar”.

Neste cenário, a CNA contratou a Agroconsult para fazer uma pesquisa junto aos produtores rurais. O objetivo é ter um diagnóstico, de forma estruturada, sobre quais são os maiores desafios e classificá-los sobre quais são mais urgentes, considerando o critério de quais geram maior impacto ao produtor.

Os questionários já começaram a ser aplicados e o prazo para a coleta de dados termina no dia 3 de setembro. Qualquer produtor, mesmo que nunca tenha exportado diretamente, pode participar. A pesquisa está disponível neste link.

A pesquisa vai buscar informações sobre 36 desafios que estão distribuídos em cinco grupos: questão tributária, problemas logísticos, trâmites aduaneiros, promoção e informação sobre os mercados, e compliance, que seriam as exigências aplicadas às diferentes cadeias.

A expectativa é apresentar o diagnóstico em outubro deste ano. Na visão da CNA, com dados estruturados será mais fácil buscar apoio para combater estes problemas.

"Depois disso vamos montar um plano de ação que, com certeza, também vai resultar em propostas a serem apresentadas não apenas ao setor privado mas também ao governo”, disse Rodrigues.

Débora Simões, da Agroconsult, reforça que é importante que os produtores que não exportam também participem. “Assim vamos saber porque este acesso ainda não ocorre e também ver casos em que ele está indiretamente ligado ao mercado internacional, mas ainda não tem essa percepção”.