A pecuária brasileira cresce, mas os desafios não são poucos para nós produtores rurais. A luta diária começa pelo clima, passa pela gestão, mas tem como uma das principais preocupações a oscilação nos preços.
Como pecuarista que sou, devo confessar a vocês que já há algumas semanas venho muito preocupada. No interior de São Paulo a seca chegou a “amarelar” o pasto, cenário que permanece até hoje, praticamente sem chuva, e aquele produtor que não estava preparado, com suplementação alimentar para o gado, viu seus ganhos sumirem aos poucos.
Ao mesmo tempo, enquanto a cotação do boi gordo (Cepea/B3) chegou perto dos R$ 245 por arroba em janeiro, nós vimos em junho o preço cair para R$ 220 por arroba. As exportações de carne bovina vinham crescendo ao longo dos meses, mas infelizmente o preço pago ao pecuarista não acompanhava.
As últimas semanas, porém, mostram que ventos melhores começam a soprar. A arroba já passou um pouco dos R$ 230 em São Paulo e há quem diga que negócios pontuais saíram a R$ 240 (na minha fazenda não foi, infelizmente).
Acredito que o recorde atingido nas exportações de carne bovina em julho seja um dos fatores positivos nesta conta. O Brasil embarcou mais de 290 mil toneladas, um aumento de 42%m conforme cálculos da Abrafrigo. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o faturamento atingiu US$ 1,14 bilhão, avançando 34%.
Estamos agora atentos à entrada no mercado de um volume significativo de bois terminados nos confinamentos, o que pode pressionar os preços, com maior oferta. Mas contamos também com a leve melhora no consumo interno de carne para equilibrar o mercado.
Enquanto isso, a pecuária segue com seus outros desafios, como a busca da regularização ambiental para alguns produtores.
Quero compartilhar aqui uma boa notícia neste aspecto. O governo do estado do Pará fez um lançamento na sexta-feira, durante a exposição agropecuária de Marabá. Trata-se do Sirflor, Sistema de Restauração Florestal, plataforma que está sendo liderada pela ACRIPARÁ, Associação dos Criadores do estado do Pará, permitindo que pecuaristas que estavam impedidos de fornecer gado aos frigoríficos possam aos poucos retomar a comercialização.
A expectativa dos produtores da região é de outras plataformas com o mesmo objetivo venham a ser criadas, a exemplo desta que está sendo ancorada na entidade.
O Pará tem o segundo maior rebanho do País, com 25 milhões de cabeças. É o maior exportador de gado vivo e tem papel fundamental no fornecimento de bezerros para outros estados, além de contar com 34 frigoríficos.
Desde 2009, em função de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre produtores, frigoríficos e o Ministério Público Federal, algumas propriedades foram identificadas como não alinhadas a regras que proibiam, por exemplo, o desmatamento após 2008.
Agora, estes produtores conseguem se comprometer em “separar” a área irregular, trabalhar pela recuperação da vegetação nestes locais e, enquanto isso, já ficarem aptas a voltar a vender animais. Trata-se de um plano para requalificação comercial dos produtores, um exemplo a ser seguido pelos estados e diferentes elos da cadeia. É de interesse de todos nós que o Brasil seja cada vez mais referência não apenas em competitividade da pecuária, mas também em sustentabilidade.