Vivemos em uma era de alavancagem infinita. Com a internet, podcasts e diversas tecnologias à nossa disposição, nunca antes foi tão fácil espalhar conteúdo, compartilhar ideias e, ao mesmo tempo, acessar recursos de várias partes do mundo.

Essa conectividade global revolucionou a forma como vivemos e trabalhamos, permitindo que nossas ações se multipliquem e alcancem milhares de pessoas.

A mesma realidade se aplica ao agronegócio, onde o potencial de transformação tecnológica ainda está longe de ser totalmente explorado.

O compartilhamento de informações, insights e realidades desse setor, que muitas vezes ainda parecem pouco disseminados, pode trazer uma revolução na forma como encaramos a produção de alimentos, o manejo de recursos e a sustentabilidade. Com a implementação correta de tecnologias, o agronegócio pode atingir um novo patamar de eficiência e inovação.

Um exemplo claro é o uso da inteligência artificial no agronegócio e seu imenso potencial para melhorar as tomadas de decisão.

No passado, a grande maioria das decisões dos produtores era baseada em feeling ou em lembranças do que aconteceu no passado recente. Muitos dados gerados nas fazendas não eram devidamente registrados e catalogados, e, quando o eram, não eram processados de forma a oferecer uma base sólida para decisões.

Isso, no entanto, não era culpa dos produtores ou da indústria. Na verdade, o acúmulo e processamento desses dados antes da inteligência artificial eram pouco amigáveis e não traziam benefícios claros, pois não havia uma maneira eficaz de comparar essas informações ao longo do tempo.

Uma fazenda é composta por uma quantidade relevante de hectares, animais, funcionários, maquinários e está suscetível a variações climáticas, no solo, pragas e doenças. Os produtores precisam diariamente tomar decisões de manejo e, até então, possuíam pouca informação de diferentes pontos da fazenda, seja de cada talhão, currais, piquetes, entre outros.

Além disso, a produtividade agropecuária depende da efetividade dessas operações dentro da porteira e também da volatilidade de mercado, influenciada principalmente pelo câmbio, preço de venda das commodities e dos combustíveis.

São muitas variáveis e riscos envolvidos que hoje são transformadas em uma enorme quantidade de dados. Há muita informação disponível, mas como analisá-la com tempo e efetividade?

Na era do Big Data, o processamento humano de dados torna-se cada vez mais difícil. É aqui que a IA surge para melhorar a tomada de decisão, transformando dados brutos em insights acionáveis.

Dados da 27ª edição da Global CEO Survey da PwC (2024), que ouviu líderes do agronegócio em mais de 100 países, revelaram que 71% dos CEOs consideram que a utilização de Inteligência Artificial vai aumentar a eficiência do trabalho no setor. Com o aumento da adesão na agropecuária, o mercado global de IA nesse setor deve crescer de US$1,7 bilhão em 2023 para US$4,7 bilhões até 2028, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 23,1%, segundo a MarketsandMarkets.

Hoje, o cenário está mudando radicalmente. O processo de arquivamento e, principalmente, o processamento de dados tornaram-se muito mais acessíveis e eficientes graças ao avanço dos hardwares e gadgets conectados.

O agronegócio agora pode não apenas armazenar e organizar melhor seus dados, mas também cruzá-los com informações públicas, como previsões climáticas, cotações de mercado e dados históricos, para embasar de forma mais robusta as decisões de gestão.

O poder de olhar para o passado, cruzar essas decisões com os acontecimentos e analisar o que deu certo ou não traz uma vantagem competitiva significativa para os produtores.

Esse poder de manipular os dados — saber exatamente quais insumos foram utilizados, a que preço foram adquiridos e como isso impactou a rentabilidade — é o verdadeiro diferencial que a inteligência artificial está trazendo ao agronegócio.

Com essa capacidade de análise e comparação, os produtores têm em mãos uma ferramenta poderosa para otimizar suas operações, melhorar a gestão de suas propriedades e, de forma geral, aumentar sua eficiência.

Além disso, a inteligência artificial generativa, que pode ser comparada a uma rede neural que reúne o conhecimento dos melhores profissionais de cada área do mundo, nos oferece uma visão otimista do futuro.

A facilidade com que a informação e o conteúdo são compartilhados hoje nos oferece uma ferramenta poderosa, que, quando usada corretamente, pode enriquecer a “caixa de ferramentas” dos seres humanos, aumentando a criatividade e o pensamento crítico.

No entanto, com esse poder de disseminação surge uma nova complexidade. O impacto das decisões que tomamos hoje é muito maior e mais profundo do que costumava ser.

Antes, nossas escolhas influenciavam apenas nosso círculo imediato — família, amigos e colegas de trabalho. Agora, com a capacidade de alcançar audiências globais em questão de segundos, o peso das nossas decisões aumentou consideravelmente.

Cada ação tomada, cada conteúdo compartilhado, pode influenciar a vida de milhares de pessoas, direta ou indiretamente. Isso faz com que as decisões sejam não apenas mais importantes, mas também mais difíceis.

A responsabilidade de quem cria, compartilha e decide tornou-se mais complexa, pois as consequências de cada ato se espalham de maneira muito mais ampla e rápida do que no passado.

A era digital nos deu um poder incrível, mas com ele veio a necessidade de uma reflexão mais profunda. Como nossas decisões podem impactar o mundo?

Como podemos garantir que o que espalhamos, seja em forma de conteúdo ou ações, tenha um impacto positivo em vez de negativo? Tomar decisões em um mundo tão conectado requer equilíbrio, cuidado e, acima de tudo, responsabilidade.

O futuro nos oferece infinitas oportunidades de crescimento, inovação e conexão, mas também exige que estejamos atentos às implicações de cada escolha que fazemos.

Afinal, em um mundo onde cada ação tem o potencial de alcançar milhares de pessoas, o impacto das nossas decisões nunca foi tão significativo — especialmente no agronegócio, onde a união entre o tradicional e o tecnológico pode definir o futuro da produção de alimentos e do manejo sustentável.

Fernando Rodrigues é fundador e managing partner da Rural Ventures.