As perspectivas da SLC Agrícola para a safra 2023/24 sacudiram os papéis da companhia nesta sexta-feira, dia 27 de setembro. As ações fecharam o dia cotadas a R$ 18,66, um avanço de 5,84% em relação ao pregão anterior.
O movimento tem relação com um fato relevante divulgado pela companhia gaúcha na noite de quarta-feira, dia 26 de setembro.
No documento, a companhia trouxe seu guidance para o ciclo que está começando, trazendo boas notícias: no novo ano-safra, espera plantar mais, com melhor produtividade e menor custo.
A SLC prevê um aumento de 11,4% na área plantada nessa safra, chegando a 736,9 mil hectares, expansão que está associada a uma redução de 5,2% no custo médio total orçado para esse ciclo em comparação com o anterior.
A companhia espera um crescimento de área de 18,7% na soja, chegando a 379.780 hectares, com queda de 8,3% no custo por hectare e ganho de potencial produtivo de 0,6%.
No milho safrinha, a expansão de área na temporada deve chegar a 25,0%, recuo de 7,8% nos custos e uma leve queda de 0,6% na produtividade.
Já a área plantada do algodão deve crescer 2,5% no ciclo. Os movimentos, porém, são conflitantes: a área do algodão de segunda safra deve avançar 19,5%, enquanto que a do algodão da primeira safra deve recuar 10,6%.
De qualquer forma, o custo deve diminuir nos dois ciclos, recuando 2,5% (2ª safra) e 2,0% (1ª safra). E a produtividade também deve aumentar nos dois períodos, avançando 2,5% e 2,3%, respectivamente.
De acordo com a SLC, o aumento da área plantada é um reflexo de vários anúncios recentes feitos pela companhia, todos de olho no aumento de área plantada na temporada atual. Ao todo, somando as adições, são quase 45 mil hectares a mais em relação ao ciclo anterior.
Em abril passado, a companhia anunciou que vai ampliar sua parceria com o grupo Soares Penido, com a adição de 18.700 hectares à Fazenda Pioneira, em Querência (MT).
Na propriedade, fruto de uma joint-venture mantida em parceria com a família Penido há mais de uma década, desde 2013, a SLC já produzia soja e milho, e informou, na ocasião, que a ideia era expandir a produção também para o cultivo de milho, algodão e pecuária, no sistema ILP.
Meses depois, em julho, a companhia anunciou uma nova JV também em Querência, desta vez em parceria com a Agropecuária Rica, razão social de uma das cinco fazendas do Grupo RZK, controlado pelo empresário José Ricardo Rezek.
A propriedade tem uma área de 11.282 hectares, com potencial total de 21.837 hectares considerando a segunda safra, segundo informou a SLC na ocasião.
Nessa propriedade, a SLC anunciou que iria produzir, já na safra 2024/25, soja e milho safrinha, com possibilidade de incluir algodão, “pois a fazenda é de área madura e o solo possui bom nível de fertilidade”, segundo informou a companhia na ocasião.
Por fim, em agosto, a companhia da família Logemnan anunciou que havia arrendado uma fazenda de 14,6 mil hectares no Piauí, que será anexada à Fazenda Parnaguá, em Santa Filomena, com a intenção de produzir soja e algodão de 1ª safra.
O que pensam os analistas
Mas o otimismo da companhia (agora também dos investidores) pode ser compartilhado também por outros produtores?
Para o consultor Antonio Prado Neto, da Prado Agronegócio, é preciso lembrar que a SLC está no topo da pirâmide do agronegócio brasileiro e seus movimentos nem sempre representam a realidade do resto da cadeia.
"Eles compraram insumos em uma época interessante, no início do ano; em fevereiro compraram fertilizantes de potassio; mais pra frente, compraram todo o nitrogenado, o fósforo. É um movimento muito diferente, porque eles tem uma estratégia de longo prazo muito definida. Não importa o momento", afirma.
O consultor da Prado Agronegócio diz que há dois tipos principais de perfis de agricultores, um grupo mais estruturado e outro mais "emocional", em suas palavras.
"Há grandes produtores, na Bahia, por exemplo, que têm uma estrutura de governança maior. As pessoas gerem o negócio pelo racional, não pela emoção, têm uma visão de médio e longo prazo. Nesse caso, não interessa se a soja está a 10 dólares, por exemplo, eles vão plantar", afirma.
A outra metade é a dos agricultores "emocionais", na definição de Prado.
“Quando chegou março, tava o pior dos mundos, porque o agricultor pouco travou a soja dele, viu que perdeu dinheiro, porque a soja foi a quase 100 reais e alguns lugares foi abaixo de 100 reais. Então, ele não fechou, não travou, não pagou as contas e não pagou antecipado – e quando ele viu que ia poder plantar na safra seguinte, ele foi atrás e, obviamente, pagou um pouco mais pelo fertilizante, pelos defensivos”, diz.
“Até dias atrás, não tinha 30% da soja travada. Isso quer dizer que a maioria dos produtores não travou o custo.”
Para o analista Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras&Mercado, a SLC e outros grupos devem ter uma (boa) ajuda do clima no ciclo, que influi no aumento de produtividade esperado.
"A produtividade, eles não decidem. Dependem de clima e estamos esperando que, na maior parte dos estados, produtores tenham produtividade melhor em 2024/2025 que 2023/2024, quando tivemos problema em várias regiões. Naturalmente a tendência de recuperação, de uma produção recorde, é principalmente vinda das produtividades, por causa do clima”, afirma.
Olhando sob uma perspectiva mais macro, Gutierrez Roque, da Safras&Mercado, diz ver uma tendência de custos parecidos ou levemente abaixo em relação ao ano passado, a depender do Estado, por preços melhores de fertilizantes e outros insumos.
“Agora, pode acontecer sim uma redução de custos via redução de investimentos na lavoura, principalmente porque viemos de dois anos de preços mais fracos. Se a rentabilidade da SLC caiu, imagina a de produtores menores. A gente não vê um grande corte de investimentos em nível nacional. A gente vê mais uma parada na expansão, talvez não aumentando tanto o investimento, mas nada que coloque em xeque a produção”,
Prado, da Prado Agronegócio, também avalia que o clima deve mesmo ajudar a companhia – e a agricultura do País em geral. “Apesar dessa seca toda agora, da falta de chuva, as projeções indicam que quando começar a chover, e deve ser no início de outubro, essa chuva se regulariza”, afirma.
“Diferente do que aconteceu no ano passado, quando a SLC teve que replantar áreas, teve que trocar milho por algodão em cima da hora porque ficou muito curta a janela para plantarem milho, este ano tende a ser bom de produtividade e chuva”, emenda Prado.
“Eles fizeram uma boa compra, reduziram o custo em relação ao ano passado, fecharam bons volumes da sua soja, 40%, 45%, o que trava o custo fixo de insumo fixo deles e estão apostando numa safra boa por conta do clima”, afirma.
Para Gutierrez Roque, o clima não é o único vetor que explica esse passo à frente da SLC em relação a outros grupos e produtores. "Tem um ponto importante: a SLC tem uma gestão de risco muito ativa, como mercado futuro, opções, de uma forma bastante assertiva", afirma.
As ferramentas de contratos futuros e opções estão hoje mais inseridas no campo, lembra Gutierrez Roque, mas ainda assim continuam não muito difundidas entre os agricultores, o que os deixa em uma posição desigual em comparação a um grande grupo como a SLC.
Prado, da Prado Agronegócio, tem opinião semelhante. "Hoje as ferramentas de travamento de mercado são muito democráticas, democratizou-se muito, se consegue fazer com empresas, com traders, o travamento de grãos", afirma.
Ainda assim, ele atenta para o fato de que uma grande companhia tem acesso a outros mecanismos distantes do produtor normal.
"Claro que uma companhia como SLC pode ter acesso a uma linha de crédito melhor, está na bolsa e tem outra matriz de financiamento. Ela não depende, por exemplo, do Plano Safra, que só liberou recurso em julho e o produtor ficou esperando esse recurso."