O agronegócio roda sobre caminhões. Para transportar toda a produção brasileira, segundo estudos da Embrapa Territorial, anualmente são movimentados mais de 43 milhões de fretes, a imensa maioria deles por meio rodoviário.
Na startup Freto, plataforma que liga caminhoneiros com donos de cargas, mais da metade das 3 mil cargas diárias tem origem no setor. Assim, o agro deve ser o impulsionador do crescimento da empresa, que tem mais de 180 mil caminhoneiros cadastrados e, segundo o CEO Thomas Gautier, já movimentou R$ 12,6 bilhões em cargas desde sua fundação, em 2018.
Gautier está na estrada. Ele busca mais R$ 50 milhões em uma segunda rodada de captação com investidores. Na primeira, em 2021, a Freto conseguiu levantar R$ 22,5 milhões. “Queremos investir mais na parte comercial, em marketing. Até agora, investimos praticamente só no produto”, diz.
A empresa foi concebida por Gautier quando ele ainda trabalhava na holding francesa Edenred, que controla a empresa de logística Repom, além da bandeira de benefícios Ticket.
“Estávamos buscando uma startup de logística para investir, mas nenhuma se encaixava no que queríamos. Pareciam mais ‘Páginas Amarelas’ digitais, só com anúncios”, conta Gautier.
Ele então propôs à empresa que criassem uma logtech do zero. E assim nasceu a Freto. Em 2021, com a primeira rodada de investimentos, a Freto deixou de ser controlada pela Edenred, que permaneceu como sócia por meio de seu braço de Venture Capital.
No caminho, embarcaram na estrutura societária da empresa investidores como a família Stumpf e os Corrêa da Silva, fundadoras da empresa de meios de pagamento GetNet, hoje controlada pelo Santander.
Outro objetivo do empresário, a ser viabilizado com a possível chegada de novos capitais, é a expansão dos negócios da Freto para o exterior. “Acredito que há muitas oportunidades na América Latina, e nós sabemos que há demanda por este tipo de serviço”, afirma Gautier.
Ele não descarta que a esse caminho, que deve ser percorrido em médio e longo prazos, possa ser percorrido por meio de aquisições de outras empresas.
Gautier afirma que o diferencial da Freto está na segurança que oferece nas duas pontas do transporte de cargas. “Só pode acessar o aplicativo quem realmente trabalha como caminhoneiro, com toda a documentação exigida na atividade. E para quem faz o transporte, nós garantimos que a carga existe, e que o preço contratado na plataforma é o que ele vai receber efetivamente, sem pegadinhas”.
Segundo Gautier, por conta de toda esta governança, o índice de roubo de cargas registrado por usuários da Freto é menor que a média de mercado.
No lado financeiro, a Freto deve atingir o equilíbrio entre receitas e despesas nos próximos meses. “Temos um bom caso para os investidores. Queremos levantar este dinheiro para divulgar mais a empresa, mas também para continuar inovando. Inclusive queremos digitalizar todo o processo de contratação”.
Clube da Estrada
Outro “braço” da Freto que deve receber investimentos é o Clube da Estrada, uma espécie de ponto de descanso para os caminhoneiros.
O Clube tem oito unidades em seis estados, sendo dois em São Paulo, dois em Mato Grosso, um no Paraná, um em Minas Gerais e um em Rondônia.
“Nós recebemos cerca de 15 mil pessoas por mês. É um lugar para acolher os caminhoneiros, e não só aqueles que usam a Freto”, diz Gautier.
Nos locais, os motoristas têm acesso a áreas de descanso e lazer, e serviços de medicina preventiva, como medida de pressão arterial, por exemplo.
O CEO da Freto afirma que está nos planos abrir mais unidades do Clube da Estrada. “É um serviço que dá retorno, pois os profissionais acabam tendo às vezes seu primeiro contato com a Freto. E já temos também patrocinadores”, diz Gautier.
O empresário, que começou sua vida profissional na França ensinando futebol para as crianças da pequena cidade de Saint-Brice, onde nasceu, afirma que o Clube terá um cuidado especial. “O objetivo é impactar 2 milhões de pessoas com esse serviço”.