O ano começa com projeções otimistas para indústria de proteína animal no Brasil, que prevê aumentar a produção e as exportações de carne de frango, suínos e ovos em 2024, na comparação com o ano anterior.

O fantasma da gripe aviária – que não chegou em granjas comerciais no Brasil – chegou a assustar, mas na prática se traduziu em oportunidades no mercado internacional, à medida que outros países afetados acabaram ampliando as compras do produto brasileiro.

"Em 2023 tivemos um ano um pouco diferente. A gripe aviária e a inflação dos alimentos fizeram com que vários países baixassem suas tarifas para que o Brasil tivesse mais competitividade", explicou ao AgFeed Ricardo Santin, presidente da ABPA, associação que representa o setor.

A entidade prevê que o Brasil tenha exportado em 2023 um volume 6,8% maior de carne de frango, comparado ao ano anterior. Os dados consolidados do ano serão divulgados somente na próxima semana.

Para 2024, a expectativa é de que este crescimento desacelere, ficando em 3,9%. Cenário semelhante está sendo previsto para as exportações de carne suína. O avanço em 2023 deve ficar em 8,9% em volume, mas para 2024 a ABPA espera um crescimento menor, de 6,6%.

"Esse processo agora deve se regular naturalmente e refletir numa diminuição. Por exemplo, países que antes estavam com tarifa zero, podem voltar a praticar 20%, isso então vai ter reflexo comercial, por isso preferimos prever um crescimento um pouco menor", justificou o presidente da ABPA.

Santin ressaltou, no entanto, que essa expectativa pode mudar "se houver muitos acontecimentos de influenza aviaria, em vários lugares do mundo, temos visto ela voltando forte no Hemisfério Norte".

Em receita, as exportações de carne de frango devem totalizar valor próximo a US$ 10 bilhões em 2023, o que representa queda em relação ao ano anterior. Para 2024, Santin disse que espera um crescimento também financeiro, mas evitou fazer projeções.

A ABPA também destaca o crescimento do Brasil em market share na carne de frango, globalmente, passando de 35% em 2022 para 38% em 2023.

“Em 2024 acreditamos que 4 em cada 10 frangos vendidos mundialmente sairão do Brasil", afirmou Santin.

A prioridade do setor é seguir em alerta, com medidas preventivas, que sigam evitando o registro de gripe aviária em granjas comerciais do Brasil. Em paralelo, o setor privado e o governo, ainda negociam com diferentes países a revisão dos acordos sanitários para que, caso haja registro em algum estado, apenas os produtos daquela região específica sejam barrados.

Segundo a ABPA, mais de 100 mercados já modificaram seus certificados e aceitam a chamada “regionalização" – uma garantia que de que não haveria uma interrupção total das exportações, em caso de gripe aviária. Mas alguns mercados, como África do Sul e México, por exemplo, seguem exigindo que o País inteiro seja livre da doença para continuar importando a carne de frango.

A produção brasileira de carne de frango deve crescer um pouco mais em 2024. A alta esperada é de 3,7%, ante 2,6% registrado em 2023. O Brasil deve produzir mais de 15,35 milhões de toneladas este ano.

Na carne suína, a China seguiu como maior comprador do Brasil em 2023, mas teve redução em relação ao ano anterior. Para 2024, a expectativa é de que os chineses apresentem um maior consumo do produto.

A produção brasileira de carne suína deve crescer 1% em 2024, ultrapassando 5,1 milhões de toneladas, segundo a entidade, desacelerando em relação aos 2,3% de crescimento registrado em 2023. O consumo per capita e a disponibilidade devem ficar estáveis.

Sem medo do etanol de milho

Um fator chave para o desempenho das empresas de aves e suínos é preço do milho, essencial para a ração de aves e suínos.

Na safra 2023/2024, a expectativa é de uma redução na produção de milho em função da queda na área plantada na safrinha, prejudicada pelo clima na região Centro-Oeste. Neste cenário, analistas vêm apontando tendência de leve alta para os preços do milho que também sofrem a influência de uma demanda crescente das usinas de etanol feito a base do cereal, com a construção de novas plantas pelo País.

"A demanda do etanol representa 1,5 milhão de toneladas a mais por ano, não é nada que coloque em risco nosso abastecimento. O Brasil teve um excedente de mais de 45 milhões de toneladas no ano passado", afirmou Ricardo Santin.

Ele ressaltou que, apesar dos problemas na atual safra, o Brasil deve produzir 120 milhões de toneladas e haverá um aumento da produção nos países vizinhos.

"Se necessário, poderemos comprar milho da Argentina, que vai produzir 50 milhões de toneladas, ou dos Estados Unidos, o Paraguai também terá uma grande safra, ou seja, não vai faltar milho”, garantiu o dirigente.

Como o Brasil exportou mais de 50 milhões de toneladas de milho em 2023, a expectativa da ABPA é, no próximo ano "fazer o milho ficar aqui”, com menor disponibilidade para o mercado externo.

Demanda aquecida por ovos

O volume de ovos exportado pelo Brasil ainda é pequeno e representa 1% da produção total, estimada em 52,5 bilhões de unidades em 2023.
Ainda assim, as vendas no exterior cresceram 170% em volume e 187% em receita em 2023, tendo o Japão como principal mercado, seguido de Taiwan, país que abriu temporariamente as compras do Brasil.

Para 2024, a expectativa é de que o crescimento da produção acelere para 6,5%, ante apenas 1% no último ano. O mesmo percentual de aumento é esperado para o consumo per capital, projetado para chegar a 242 ovos por habitante ano em 2024. Segundo a ABPA, as exportações devem ficar estáveis.