O segundo trimestre de 2023 não trouxe bons resultados para grandes empresas globais do setor de fertilizantes, que enfrentaram a combinação de vendas mais lentas e preços mais baixos na comparação com o ano passado.
A norte-americana Mosaic reportou ao mercado, na terça-feira, um lucro líquido de US$ 369 milhões no segundo trimestre deste ano, o que representou queda de mais de 64% em relação ao mesmo período de 2022.
Na quarta-feira foi a vez da canadense Nutrien divulgar seu balanço, também com redução expressiva. No segundo trimestre a empresa registrou um lucro líquido de US$ 448 milhões, resultado 88% menor na comparação anual.
Na norueguesa Yara, houve inclusive uma reversão - do lucro de US$ 667 milhões do ano anterior para um prejuízo de US$ 298 milhões neste ano, números que foram reportados recentemente.
A queda nos lucros da Nutrien e da Mosaic refletiu preços mais baixos e vendas mais lentas no período.
Na Mosaic, as vendas líquidas diminuíram 36,8% na mesma base comparativa, e chegaram aos US$ 3,39 bilhões. O mesmo cenário foi visto na concorrente.
"Os resultados da Nutrien foram afetados pela volatilidade sem precedentes nos mercados globais de insumos agrícolas nos últimos 18 meses", disse em comunicado oficial o CEO da Nutrien, Ken Seitz.
O desempenho fez a empresa colocar o pé no freio. No balanço, a Nutrien revisou para baixo sua projeção para Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) e para o lucro líquido no ano de 2023 para US$ 5,5 bilhões e para US$ 6,7 bilhões, respectivamente. Antes, a empresa projetava US$ 6,5 bilhões e US$ 8 bilhões.
Apesar disso, as empresas mostram expectativa de uma retomada no mercado. O Brasil é citado tanto no balanço da Nutrien quanto da Mosaic, com perspectivas otimistas.
No caso da Mosaic, o comunicado destaca que o mercado brasileiro responde por quase um quarto de todas as vendas de fertilizantes da empresa. "A Mosaic está bem posicionada para capitalizar a recuperação do mercado de fertilizantes, que está bem encaminhada”, diz o texto.
A operação brasileira da companhia, a Mosaic Fertilizantes, registrou receita de US$ 1,4 bilhão no segundo trimestre, um número 39,1% menor frente ao mesmo período do ano passado.
A Mosaic também comentou que vê no Brasil uma relação de troca de fertilizantes por soja mais atrativa ao produtor, o que pode levar a uma recuperação nas entregas de produtos em 2023.
O cenário de atraso na compra de fertilizantes foi destacado pelas duas empresas, algo que vem sendo reforçado por grandes players brasileiros do agro.
No início dessa semana, o CEO da BrasilAgro, André Guillaumon, disse em conversa com o AgFeed que a empresa está 60 dias atrasada na compra de insumos em relação às médias históricas da mesma.
A Mosaic cita em seu balanço que continua focada em investimentos de alto retorno como a construção da nova instalação de mistura e distribuição de Palmeirante, no estado de Tocantins.
A companhia anunciou em fevereiro deste ano investimentos na ordem de US$ 400 milhões nessa fábrica, que entrará em operação em 2025. A expectativa da empresa é uma produção extra de 500 mil toneladas por ano por lá no primeiro ano.
Já a Nutrien vê a demanda de soja brasileira robusta no restante do ano, e prevê um aumento entre 2% e 3% na área plantada para a safra 2023/24.
"Acreditamos que os produtores brasileiros tenham comprado uma proporção menor do que o normal de insumos para esta época do ano, o que deve sustentar uma forte demanda antes da temporada de plantio da primavera, que começa em setembro", destacou o comunicado da companhia.
A Nutrien avaliou que a queda dos preços globais de potássio vista no trimestre, causada principalmente por incertezas vindas da China, deve ser revertida por uma demanda liderada pelo Brasil.
“A menor demanda de clientes na Ásia foi parcialmente compensada pelo aumento dos volumes de vendas da Canpotex para o Brasil”, destacou a Nutrien.
Em entrevista recente ao AgFeed, o presidente da Yara, Marcelo Altieri, também mostrou otimismo com a recuperação das entregas de adubos no Brasil, com previsão de que o mercado alcance 45 milhões de toneladas em 20233.
Recuperação no mercado brasileiro
Dados divulgados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) esta semana mostram que recuperação projetada nos balanços das grandes empresas, de certa forma, já começou a ocorrer.
As entregas de fertilizantes no mercado brasileiro em maio de 2023 foram de 3,96 milhões de toneladas, o que representou um aumento de 21,9% em relação ao mesmo mês de 2022.
Até abril, as entregas vinham ficando abaixo do ano anterior.
No acumulado de janeiro a maio, foram 14,84 milhões de toneladas de adubos o que já sinaliza um crescimento de 1,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Já a produção brasileira de fertilizantes segue mostrando queda na comparação anual, o que ainda reflete os altos estoques das indústrias. No acumulado de janeiro a maio, foram produzidas 2,71 milhões de toneladas, com redução de 16,8% em relação ao mesmo período de 2022.
As importações subiram 2,7% em maio se comparadas ao mesmo mês de 2022, mas no acumulado do ano ainda registram leve queda, de 2,3%. Foram importadas 14,09 milhões de toneladas de fertilizantes de janeiro a maio.