Campinas (SP) - O empresário Paulo Fachin gosta de falar que é um desenvolvedor de projetos. Se especializou em montar negócios, maturá-los, sair e começar outros. Há 30 anos, migrou do Paraná para o Maranhão, entrou na distribuição de insumos, produção, trading e fundou a Agrex, uma das grandes companhias do setor de distribuição de insumos no País.
Em 2013, vendeu 80% da Agrex para a Mitsubishi Corporation e, em 2019, os outros 20% para a companhia de origem japonesa.
“No meio do caminho, sempre desenvolvi a produção agrícola e agora estou mais dedicado ao negócio novo”, disse Fachin em entrevista ao AgFeed durante o Congresso Conecta Agro, em Campinas (SP).
Além de 10 mil hectares “já maturados” e arrendados a outros produtores, Fachin voltará a plantar.
Seu novo negócio é uma propriedade rural entre os municípios maranhenses de Barra do Corda e Fernando Falcão. São 13 mil hectares, onde pretende cultivar arroz, soja e milho, nessa ordem, a partir do ano que vem, na safra 2026/2027.
“Começaremos com arroz para abrir a área, depois virá a soja e, depois que a terra estiver mais corrigida, começaremos a plantar milho. Soja para exportação, arroz para mercado interno e milho pode ser para um ou outro, o que precificar de melhor”, afirmou Fachin.
Oportunidades para o milho precificar melhor no mercado interno pipocam naquela fronteira agrícola. O empresário lembra que o cereal poderá, por exemplo, abastecer, no futuro, usinas de etanol que estão sendo construídas no Maranhão e no Piauí.
Os investimentos somam R$ 50 milhões e o desenvolvimento começará do zero, “um greenfield”, disse ele. As obras começaram em janeiro e incluem desde o licenciamento ambiental e toda a infraestrutura para chegar na fazenda, até a construção de balanças, silos e escritórios.
Mesmo sem a opção de duas safras por ano, já que o cultivo será só no sequeiro em um primeiro momento, a demanda pelos grãos e os preços das terras com o ciclo de baixa das commodities justificam parte do investimento.
“Dois anos atrás vendi uma fazenda que tinha, fiquei olhando e esperando o mercado se acomodar um pouco. Os preços caíram bastante, enxerguei a oportunidade de investir novamente e, por isso, voltei”, explicou Fachin.
A logística de escoamento da região também foi fundamental para a escolha, já que a propriedade fica a 450 quilômetros de distância do Porto de Itaqui, um dos principais do Arco Norte.
“Preferi lá porque já conheço bem, tem muito potencial de desenvolvimento e logística muito boa. São poucas áreas no Brasil onde você está a 400 quilômetros, 500 quilômetros do porto”, afirmou.
Segundo Fachin, na região onde está, a diferença entre estar mais longe ou mais perto do porto chega a R$ 10 por saca de soja, o que é fundamental para garantir um novo investimento como o dele
“Quando vou posicionar alguma fazenda, o quesito mais importante é saber onde vou escoar o grão. Você consegue melhorar o solo, a estrutura da propriedade, mas a localização estratégica, não”.
Juros impraticáveis
Apesar do cenário positivo para a compra da nova propriedade e os investimentos iniciais, a escalada dos juros preocupa o empresário. Segundo ele, para a correção inicial de solo, a alternativa foi “pinçar linhas atrativas” de crédito junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Investimentos futuros e os que não necessitam de aportes urgentes serão postergados ao máximo, “porque os juros estão impraticáveis nesse momento”.
Durante debate com agentes de mercado no evento em Campinas, o “desenvolvedor de projetos” Fachin deu o recado sobre como ser resiliente nos investimentos e o motivo de seguir, há três décadas, cultivando em terras maranhenses.
“Os juros elevados para investimentos de longo prazo são um grande desafio, mas vale mais um mal negócio que você conhece bem do que um bom negócio que não conhece”, disse.
“Precisa apertar o cinto, olhar para propriedade com eficiência, gestão de custos, porque esse ciclo vai passar e quem estiver bem poderá surfar”, concluiu.
Resumo
- Fundador da Agrex, depois vendida para a Mitsubishi Corporation, Paulo Fachin investe R$ 50 milhões em uma nova fazenda no Maranhão
- Projeto é "greenfield", saindo do zero para o cultivo de 13 mil hectares com arroz e, depois, soja e milho a partir da safra 2026/2027
- A escolha da área foi estratégica pela proximidade com o Porto de Itaqui, visando escoamento eficiente