No compasso final da safra 2024/25, a SLC Agrícola encontrou um trimestre de contrastes, com queda nos lucros, mas já projeta a próxima temporada com mais área cultivada e insumos praticamente garantidos.
Com vendas de soja e milho disparando, mas o algodão pesando no resultado, a companhia divulgou seus resultados finais da “safra cheia”, tão citada pelos executivos da empresa há pelo menos um ano.
A SLC Agrícola encerrou o segundo trimestre de 2025 com um lucro líquido de R$ 139,8 milhões, uma queda de 56,5% em um ano.
Ao mesmo tempo, viu sua receita subir 37,8% na mesma comparação, e bater R$ 1,86 bilhão de abril a junho. A companhia divulgou seu balanço na noite desta quarta-feira, 13 de agosto.
No acumulado do semestre, os dois indicadores sobem: o lucro líquido somou R$ 650 milhões, alta de 18,2% e a receita líquida chega a R$ 4,1 bilhão, avanço de 26,7%.
O Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) foi de R$ 556 milhões no trimestre (alta de 115% em um ano) e já soma R$ 1,5 bilhão no ano até junho (alta de 55%).
O resultado líquido final veio em linha com o esperado pelo mercado. Considerando o trimestre, o Itaú BBA projetava um lucro líquido de R$ 116 milhões, um pouco abaixo do número final, e o Citi, R$ 137 milhões, praticamente o mesmo apresentado.
As duas instituições financeiras já esperavam o trimestre que a empresa apresentou, com volumes maiores. Gabriel Barra, do Citi, escreveu que o avanço “refletiria os maiores rendimentos da safra 2024/25, uma vez que a safra anterior foi afetada negativamente pelo fenômeno climático El Niño”.
Ambos os bancos projetavam uma receita líquida de R$ 1,8 bilhão, em linha com o apresentado.
Mas se a receita subiu, por que o lucro caiu? A SLC explica que a queda se deve principalmente ao algodão.
Problemas climáticos, como uma seca na Bahia, atrasaram a colheita e reduziram a quantidade de algodão contabilizada no balanço, o que puxou o lucro para baixo. O desempenho da soja ajudou a compensar parte dessa queda, mas não foi suficiente para evitar a redução do resultado final.
No ajuste contábil do lucro, causado pela variação no valor dos produtos agrícolas, a empresa registrou uma perda de R$ 452,5 milhões devido à menor área contabilizada de algodão. No ano passado, esse indicador foi positivo em R$ 556,8 milhões.
Destrinchando a receita, o balanço da SLC mostra que a soja foi a grande estrela do trimestre, com R$ 952 milhões em vendas, considerando tanto o grão quanto a semente.
No mesmo trimestre do ano passado, a receita com a oleaginosa foi de R$ 458,7 milhões, menos da metade do visto este ano.
O milho vendido pela SLC também veio duas vezes maior em um ano e somou R$ 49,5 milhões no segundo trimestre.
O algodão em pluma, que havia sido o destaque há um ano, teve queda de 12% na arrecadação, somando R$ 677,8 milhões.
A SLC ainda vendeu R$ 53 milhões em rebanho bovino, uma alta de 72%. Outras culturas e o caroço de algodão completaram o resultado.
Em quantidades absolutas, a SLC vendeu 517 mil toneladas de soja, o dobro do mesmo trimestre do ano passado. No milho foram 61 mil toneladas, alta de 88% em um ano, e no algodão em pluma foram 76,3 mil toneladas, uma baixa de 6% de um ano para o outro. No gado, foram 8,3 mil cabeças, uma alta de 17,8% em um ano.
Para além do resultado trimestral, o balanço mostra alguns números do fechamento da safra 2024/25. Em uma call com jornalistas realizada na noite desta quarta-feira, o CEO da empresa, Aurélio Pavinato, reforçou que a produtividade foi um ponto importante da safra que se encerrou.
Na soja, a produtividade foi de 3,9 toneladas por hectare, em linha com o orçamento e 21,3% acima da temporada anterior. No milho, 8,2 toneladas por hectare e um avanço de 16,7% em um ano.
No algodão, uma disparidade: "No início do plantio atrasou a chuva, plantamos a soja mais tarde e, por consequência, atrasamos o algodão de segunda safra. Na sequência, entre abril, maio e junho, as chuvas vieram, o que trouxe uma produtividade nesse algodão de segunda safra de 2,8 toneladas por hectare, enquanto a primeira, com mais seca, ficou em 1,8 tonelada por hectare”, explicou Pavinato.
A companhia encerrou junho com uma dívida líquida de praticamente R$ 6 bilhões, um avanço de 66% em um ano. Pavinato ressaltou que o avanço é consequência dos investimentos dos últimos dois anos. “Expandimos a área, compramos terra e isso gerou um aumento na dívida”.
Projeções para a próxima safra
A SLC inicia a nova temporada, 2025/26 já de cara com mais áreas. No primeiro dia de julho a companhia assumiu a posse da Sierentz Agro, e saltará em 12,9% sua área para a temporada, em 830 mil hectares.
Mesmo com o aumento de área, o CEO da empresa acredita que é possível manter os patamares elevados de produtividade registrados na temporada 2024/25. “As fazendas que incorporamos já produzem patamares similares na soja e milho. A lógica é trabalhar a linha do orçamento dentro da mesma tendência”, afirmou.
A empresa também já garantiu praticamente todos seus insumos para a temporada. Nos fertilizantes, Pavinato citou que a empresa já comprou 100% do potássio, 95% dos fosfatados e 60% dos nitrogenados. Além disso, já adquiriu 91% dos defensivos.
O CEO comemorou que a empresa “aproveitou os vales de preço” na compra dos insumos. “Fomos muito felizes nas decisões de compra, porque o mercado de fertilizantes oscilou muito ao longo do ano. O que falta comprar é a ureia, que só será usada no ano que vem para a segunda safra”, disse.
“Os defensivos estão praticamente fechados, estamos negociando as últimas compras de biológicos”, acrescentou.
A empresa também já avançou na fixação de preços e de vendas para a temporada 2025/26. No balanço, a SLC informou que já fez o hedge de 41% da soja, com 24% das vendas travadas a um câmbio de R$ 6,08, e de 25% no algodão em pluma, com 16,7% da venda atrelada a um câmbio de R$ 6,71.
Resumo
- SLC Agrícola lucrou R$ 139,8 milhões no segundo trimestre, queda de 56,5% em um ano, influenciado pelo algodão, que sofreu com a seca na Bahia
- A receita avançou 37,8% e atingiu R$ 1,86 bilhão no trimestre, com a empresa dobrando as vendas de soja e milho
- Para a temporada 2025/26, a companhia já comprou grande parte dos insumos, projetando uma área de 830 mil hectares