Uma carteira de crédito de cerca de R$ 30 bilhões no setor parece ser só o começo da ambição que o BTG Pactual tem no agronegócio.

Durante um painel realizado no evento AgroFórum, promovido pelo banco nesta quarta-feira, 13 de agosto, André Esteves, sócio sênior e chairman do BTG Pactual, conversou com Mansueto Almeida, economista-chefe da instituição, e, entre análises sobre o complexo cenário macroeconômico nacional, deixou escapar sua visão sobre possíveis novos passos no setor.

O agro foi tema de apenas duas perguntas durante a conversa de cerca de uma hora. Foi o suficiente, entretanto, para Esteves voltar a mencionar sua empolgação com o setor e dar alguns spoilers do que vem por aí.

“O setor, até anos atrás, sofria um preconceito negativo, ligado a uma atividade mais rudimentar, simplória e básica. Acho que o Brasil tem liderado uma revolução tecnológica sem precedentes no setor”, disse.

“Já tive o prazer, a convite dos Maggi, de ver uma colheita de algodão, e você vê aquelas máquinas gigantescas sofisticadas colhendo, processando a quente, com toda uma logística até chegar no silo no mesmo momento em que há uma fertilização da terra baseada numa previsão de tempo feita por metro quadrado numa fazenda de 70 mil hectares”, acrescentou Esteves, empolgado.

Segundo o próprio Mansueto Almeida, o BTG tem hoje uma carteira de crédito de R$ 30 bilhões no setor, mas ao indagar Esteves sobre sua visão no agro, ouviu do chairman que ele vê uma vocação para ir além.

Considerando o setor bancário como o “óleo da engrenagem da economia brasileira”, esteves citou que o BTG pode facilitar a vida de todo o setor: investimentos, M&As, abrindo capital ou “simplesmente ajudando a escoar a produção”.

Esteves relembrou que, em abril deste ano, o banco participou do consórcio que, junto a LDC, Amaggi e Cargill, arrematou o direito de arrendamento de terminais portuários no Porto de Paranaguá (PR).

O BTG Pactual Commodities ficou com a área portuária PAR14 em Paranaguá, com oferta de outorga de R$225 milhões.

“Nós do BTG sempre fomos curiosos com o papel das tradings. São nossos amigos, clientes e contrapartes, mas sempre achamos que podíamos fazer esse trabalho de uma maneira mais completa, com mais clientes, mais produtos, mais cobertura comercial e acesso a onde nós construímos”, disse Esteves.

O sócio ainda referenciou o govenrador do Paraná, Ratinho Júnior, que esteve no evento em um painel com governadores mais cedo, dizendo que foi ele que convenceu o banco a participar desta licitação.

“Há outras que podem vir por aí. Vamos prover estrutura para o mundo agro produzir e vender através da gente”, disse André Esteves.

Do lado conceitual desse movimento, Esteves citou que, há pouco tempo, almoçou com o presidente global da Cargill, Brian Sikes, e que, durante o encontro, foi mostrado um estudo que dizia que, nos próximos 20 anos, 80% da demanda de alimentos que vai crescer pelo mundo será preenchida pela oferta brasileira.

“Isso significa muita coisa: temos mercados assegurados e relevância política. Hoje já somos o maior provedor de segurança alimentar para o Oriente Médio e China. Somos o maior produtor de proteínas do mundo e maior exportador de várias commodities. Não temos que ter vergonha alguma disso, e sim se encher de orgulho dessa capacidade”, afirmou André Esteves.

O BTG Pactual hoje é dono da trading de grãos Engelhart (ECTP), companhia que atua no comércio de produtos agrícolas, metais e energia, com escritórios na América do Norte, Europa, África e Ásia.

O balanço referente a 2024 da ECTP Brasil mostra uma receita líquida de R$ 14,75 bilhões, ante R$ 15,60 bilhões em 2023 (queda de 5,5%), e um lucro líquido de R$ 428,8 milhões, acima dos R$ 127,2 milhões do ano anterior.

Apesar de não entrar no detalhe das quantidades, o balanço cita que a operação é focada em soja, milho, farelo e óleo de soja, açúcar e fertilizantes. “Atualmente, nossas principais atividades para este grupo de commodities são comercialização com a compra direta com produtores e cooperativas, seguida de venda doméstica ou para o exterior via nosso fluxo de exportação”, diz o documento.

Para ajudar essa “missão” que o BTG parece traçar, Esteves ainda cobrou no painel uma melhor postura da diplomacia brasileira. Segundo ele, há uma grande oportunidade de melhorar a imagem do agro brasileiro no exterior, principalmente para deixar de associar o setor ao desmatamento.

“Estou decepcionado com nossa diplomacia, pois estamos aquém nesse tema. Esperava mais da diplomacia para vender o agro lá fora, como deve ser vendido: altamente tecnológico, que não tem subsídio relevante e que cresce com próprias pernas pela competitividade natural”, acrescentou o chairman do BTG Pactual.

Resumo

  • BTG Pactual tem R$ 30 bilhões em crédito no agro e quer ampliar atuação em fusões, IPOs e logística com presença maior em tradings e portos
  • Banco participou de consórcio que pagou R$ 225 milhões por terminal em Paranaguá junto de LDC, Amaggi e Cargill para expandir o escoamento de commodities
  • Trading do banco, Engelhart teve receita de R$ 14,75 bilhões e lucro de R$ 428,8 milhões em 2024