Se tudo o que vem sendo sinalizado pelo governo federal na área da logística efetivamente virar realidade, o agronegócio tende a contabilizar redução de custos e ganho de eficiência.

Duas notícias circularam neste início de 2025 relacionadas a investimentos em rodovias e ferrovias.

Uma delas, foi a confirmação na semana passada, de um pacote de 15 leilões com foco na concessão de rodovias. Segundo o Ministério dos Transportes, serão R$161 bilhões em investimentos na infraestrutura e 8.449 quilômetros de rodovias beneficiadas.

Na lista estão diversos trechos que interessam e muito ao agronegócio. Só em Mato Grosso, líder nacional em soja e milho, um único lote contempla seis trechos de rodovias.

A primeira data do calendário, por exemplo, é o leilão da BR-364, no trecho que conecta o Noroeste de Mato Grosso a Porto Velho, em Rondônia.

“Esse é um pleito antigo do agro, é muito importante porque, há um bom tempo, lá trafegam milhares de caminhões durante o pico da safra. Ela atravessa muitas cidades, muitos municípios e apresenta problemas”, explicou Elisângela Lopes, assessora técnica da área de logística da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em entrevista ao AgFeed.

Ela diz que, por isso, é necessário fazer uma manutenção permanente, o que seria viabilizado pela concessão.

A rota é um exemplo de transporte “intermodal” porque leva a produção de grãos do Noroeste de Mato Grosso pela rodovia até a via de escoamento pelo Rio Madeira. Lá estão portos importantes como o de Itacoatiara, construído ainda na década de 1980 pelo grupo Amaggi.

“Essa intermodalidade resulta num custo de transporte menor”, destacou Elisângela. “O corredor intermodal traz uma vantagem de redução de custo entre 20% e 30%”.

O setor agro também aguarda com expectativa o leilão de um trecho da BR-163 em direção ao Pará, conectando Mato Grosso com os portos de Miritituba e Santarém. Esse estaria no pacote de concessões previstas para março que tem também outras estradas de Mato Grosso.

Os números impressionam, porém ainda há muitas incertezas sobre o sucesso dos leilões e sobre o prazo efetivo que cada projeto vai demorar para ser concluído. Depende da complexidade de cada trecho, da necessidade ou não de construir pontes ou desvios, por exemplo.

Na visão da especialista da CNA, tanto projetos de rodovias quanto de ferrovias podem levar anos, em alguns casos 5, 10 ou até 20 anos, “é sempre caso a caso”.

De qualquer forma, a expectativa é de ajudem na difícil missão do Brasil de ampliar as condições de infraestrutura e logística para dar conta do avanço da produção agropecuária.

Embora as rotas para o Arco Norte sejam as mais cruciais, o pacote de concessões também traz projetos importantes para outros segmentos, como a “Rota da Celulose”, em Mato Grosso do Sul, e as rodovias gaúchas que foram bastante castigadas pelas enchentes no ano passado.

Lopes disse que a CNA vê com bons olhos o anúncio do pacote de concessões, mas deve ficar muito atenta em relação ao modelo que será praticado. “A gente preza pelo modelo de menor tarifa e com uma ampla gama de investimentos que façam com que essas vias de fato melhorem”.

Há um cálculo feito pela entidade, que está em fase de atualização, indicando que a tarifa não pode ultrapassar R$ 10 a cada 100km. “Talvez esse número seja atualizado para R$12”. Ela diz que valores acima disso acabam refletindo num custo de transporte maior.

O setor torce para que o calendário realmente seja cumprido – algumas datas de leilões ainda não estão definidas – e para que as empresas efetivamente se interessem pelos trechos ofertas. Lopes explica que já houve casos no passado onde o fluxo de veículos e as condições das rodovias não ficam economicamente atrativos para as empresas, e o leilão fica “deserto”

Plano para ferrovias

A segunda notícia mais comentada quando o assunto é logística, nesse início de ano, é o “spoiler” dado por integrantes do governo sobre o Plano Nacional de Ferrovias, que deverá ser lançado agora, em fevereiro.

A expectativa é que o plano envolva pelo menos R$ 100 bilhões em investimentos. O Ministério dos Transportes citou 5 empreendimentos que já estariam certos no plano que, em meados de janeiro, ainda estava sofrendo ajustes.

Para o agronegócio, três deles interessam em especial: a Ferrogrão, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA), o prolongamento da Ferrovia Norte-Sul, que seria estendida até o porto de Vila do Conde (PA) e o chamado Corredor Leste-Oeste, que consiste na junção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico).

A Fiol sai de Ilhéus (BA), tem um trecho já concedido e outro em construção como obra pública. Falta o terceiro trecho. A Fico está sendo executada pela Vale, como contrapartida à prorrogação de seus contratos no setor, e será estendida posteriormente até Lucas do Rio Verde (MT).

Os outros dois projetos dados como certos são o Anel Ferroviário do Sudeste ligando Vitória (ES) e Itaboraí (RJ) e a Transnordestina, que poderia se conectar a Ferrovia Norte-sul, em Estreito (MA).

Elisângela Lopes destaca que os projetos são importantes na busca de uma maior diversificação dos modais de transporte no Brasil. Segundo ela, hoje cerca de 60% das cargas no Brasil ainda utilizam ferrovia, portanto, há oportunidade para avançar em ferrovias e hidrovias.

“A Ferrogrão é o mais importante para o agro, já que em Mato Grosso as previsões para 2035 indicam uma produção de 144 milhões de toneladas de grãos”, afirmou Lopes.

O setor espera que o leilão saia ainda este ano. Também é importante, segundo Elisângela, a divulgação de um estudo sobre a Ferrogrão que já estaria pronto e que foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal. O caso está no STF em função dos constantes questionamentos sobre riscos ambientais.

O agro brasileiro, segundo Elisângela, da CNA, responde por apenas 19% de tudo o que é movimentado nas rodovias. “Ainda é muito pouco, tem que aumentar a participação de maneira a reduzir os custos do transporte de uma matriz predominantemente rodoviária”.

Para o diretor executivo do Movimento Pró Logística, Edeon Vaz, as obras rodoviárias são importantes e o setor vem acompanhando de perto as discussões, mas o que mais deve impactar o agronegócio é o plano das ferrovias.

Dentro os projetos, ele destaca a Ferrogrão, que vai permitir o acesso à Miritituba – hoje rodoviário – pelos trilhos. “Nesse caso o impacto é direto, calculamos em torno de 30% de redução no custo do frete”.

Outro destaque é o sistema Fico-Fiol, na visão dele, “que por enquanto liga Agua Boa (MT) a Ilheus(BA). Ele admite que esse será um processo mais demorado e está otimista que a Ferrogrão seja viabilizada “até antes desse”.