Com décadas de experiência no agronegócio, Frederico Humberg sabia que não poderia competir com as gigantes do setor exportador de grãos ao fundar, em 2016, a Agribrasil. Nascida como mais uma trading 100% brasileira, a companhia priorizou as operações baseada no modelo de exportação de milho.

Afinal de contas, a produção do cereal cresce ano a ano no País e as concorrentes estrangeiras, principalmente as do grupo ABCD - formado pelas processadoras e exportadoras globais ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus -, criaram um modelo operacional baseado no escoamento de soja, principal cultura brasileira.

“É uma briga um pouco mais justa, porque nenhum dos concorrentes trabalha com milho fora do Brasil ou tem fábrica no Brasil. Então, nós competimos com as grandes casas” disse Humberg, CEO da Agribrasil, ao AgFeed.

O marco da mudança da trading contratante de logística para a terceira maior exportadora de grãos com capital 100% nacional foi a aquisição de parte do Terminal Portuário de Santa Catarina (TESC), em São Francisco do Sul (SC), em 2021.

Além dos investimentos de R$ 600 milhões feitos pelos antigos operadores, outros R$ 250 milhões foram realizados desde então no TESC, que conta com três berços para atracamento de navios, um deles reservado para escoamento de grãos.

No acumulado de um ano, o volume movimentado chega a 6,1 milhões de toneladas, ante uma capacidade máxima de 7,5 milhões de toneladas. O próximo passo, segundo Humberg, é ampliar um dos berços para receber navios maiores.

“A gente está já no processo de licenciamento ambiental, aprovação com as agências e na Secretaria Nacional de Portos. Com isso, devemos ir para pelo até 9 milhões de toneladas de capacidade”, afirmou Humberg. Ele espera ter as autorizações em dois meses e, a partir daí, fazer o plano de um novo investimento.

Esse projeto é considerado “menor” pelo CEO da Agribrasil. Com o cenário de supersafras de milho e de alta na oferta e na exportação do cereal, Humberg considera viável dobrar o terminal para movimentar até 14 milhões de toneladas anualmente. Mas o que é inviável são investimentos com os juros atuais beirando os 15% ao ano.

“É difícil para o empresário tomar uma decisão de crescimento, de novos investimentos, em um cenário de juros tão altos”.

As incertezas e o freio aos investimentos, aliás, começaram em 2021, para a Agribrasil, assim como para todas as companhias brasileiras de todos os setores que imaginaram captar para crescer por meio de uma oferta pública de ações (IPO) na B3.

“Nós somos uma empresa órfã do IPO, que fez todo o processo e até nos listamos em agosto de 2021, mas sem oferta. Desde então, infelizmente, no Brasil não teve nenhum IPO de nenhuma empresa”, lembra o empresário. “É uma pena, porque não trouxe capital fresco e não teve uma injeção de equity na empresa para o crescimento”.

Com endividamento baixo, uma relação dívida versus Ebitda de apenas 0,8 vezes para a Agribrasil e de 2,7 vezes para o TESC, e com a oferta cada vez maior de grãos para exportação e por outros modais, Humberg avalia que é “possível contrair nova dívida para sustentar o crescimento”, mesmo no atual cenário.

Um aporte poderia vir de investidores estrangeiros e o empresário avalia que o humor da comunidade externa tem sido bom com o cenário brasileiro em comparação com outros países.

“Depois da guerra entre Rússia e Ucrânia, temos visto um interesse maior por outros locais, até por falta de opção, e temos sentido que o mercado investidor nos BRICS, também por falta de opção, começou a olhar o Brasil novamente e, pelo menos no início, tem tido bastante conversas”.

Os planos de crescimento, de acordo com o CEO da Agribrasil, passam por replicar o modelo “milheiro” de sucesso da companhia e do TESC, em, por exemplo, regiões como a do Arco Norte, corredor de exportação brasileiro com maior avanço nos últimos anos.

Além de ser prioritariamente exportador de milho, o modelo foca na integração entre a trading e o porto próprio em áreas de competição com grandes operações.

“Somos a única empresa na área de competição com Paranaguá e São Francisco do Sul capaz de ter um navio imediatamente atendido, o que garante uma margem combinada, não-recorrente, de 7% entre as duas operações, maior que a do setor”, explicou.

Desde o início do transporte de grãos pelo TESC foram registrados resultados financeiros e logísticos consecutivos. No primeiro trimestre de 2025, a receita líquida somou R$ 1,361 bilhão, alta de 302% em relação aos R$ 341,3 milhões do primeiro trimestre de 2024 e o volume operacionalizado de grãos cresceu 75%, para 1,016 milhão de toneladas.

O lucro líquido da Agribrasil foi R$ 2,9 milhões no trimestre inicial de 2025, revertendo o prejuízo de R$ 3,1 milhões registrado em igual período de 2024.

O intervalo entre janeiro e março é considerado de baixa para a companhia, já que as exportações de milho são maiores após a safrinha, ou seja, a partir do segundo semestre de cada ano.

Com a possibilidade de reaquecimento na exportação de soja, que vem em ritmo menor que o esperado devido aos preços baixos, e com a maior safrinha de milho da história do Brasil sendo colhida, Humberg já projeta gargalos para o escoamento de grãos no Porto de Paranaguá, o que ampliaria a oferta para o TESC.

Oferta, aliás, que não deve parar de crescer no Brasil, ao contrário da de soja, segundo Humberg.

“A gente projeta uma exportação de milho em 50 milhões de toneladas e a soja atinge um patamar muito alto, de 100 milhões de toneladas exportadas. Quer dizer, o milho ainda é só a metade da soja”, disse. “Acredito que o grande crescimento para o Brasil, em termos de volumétricos, ainda seja do milho”.

Para efeito de comparação, se o Brasil tivesse a produtividade norte-americana, teria o dobro da oferta, ou seja, mais de 130 milhões a 140 milhões de toneladas de milho, ou 100 milhões de toneladas extras do cereal para a exportação.

“Então, a gente acredita que o milho é quem vai completar, encher toda essa logística que está sendo investida”, concluiu Humberg.

O cenário, segundo ele, é mais positivo para a estratégia da trading e do terminal “milheiros” e ainda desafiador para a companhia deixar de ser “órfã do IPO” e retomar os investimentos.

Resumo

  • Trading já movimenta 6,1 milhões de toneladas no TESC e pretende elevar capacidade do terminal portuário para 14 milhões de toneladas
  • Fundador e CEO, Frederico Humberg diz que busca soluções para driblar juros e obter capital para novos investimentos
  • Plano do empresário é replicar modelo de exportação de milho com porto próprio no Arco Norte