Nos últimos meses, a nova gestão da gigante sucroenergética Raízen tem feito um grande esforço para reorganizar as combalidas finanças da companhia.

Vendas de ativos, suspensão de atividades em plantas, operações de reestruturação de dívida e cortes de despesas (inclusive com demissões) têm se sucedido no cotidiano da empresa.

A divulgação do seu balanço referente ao primeiro trimestre do ano safra 2025/2026, na noite desta quarta-feira, 13 de agosto, mostra, entretanto, que tudo que já foi realizado ainda é pouco perto do que é necessário.

Seguindo uma ladainha que tem insistido em se repetir há vários trimestres, mais uma vez o relatório da Raízen trouxe uma profusão de indicadores negativos, amplificados por condições negativas no campo climático e agrícola.

O sumário executivo do demonstrativo dá o tom do desafio que vem pela frente. A receita líquida do período(R$ 54,2 bilhões) é 6,1% inferior ao do mesmo trimestre em 2024. O lucro bruto (R$ 2,09 bilhões), 20% menor.

Já o prejuízo líquido soma 1,8 bilhão, quadro bem diferente do lucro líquido de R$ 1 bilhão apurado um ano atrás. Caíram, consequentemente, Ebitda ajustado e investimentos, na mesma proporção (-23%).

O Ebitda ajustado LTM (indicando a soma dos doze últimos meses) recuou 19%, para R$ 10,9 bilhões.

A alta veio apenas onde menos se desejava: o endividamento, que saltou quase 56%, de R$ 31 bi em junho de 2024 para R$ 49 bi em junho de 2025.

Assim, a relação dívida/Ebitda LTM praticamente duplicou, de 2,3 para 4,5 vezes.

Em um balanço como esse, a mensagem da administração tenta ressaltar a resiliência e a necessidade de persistir na estratégia que vem sendo adotada.

“Iniciamos um novo ciclo nesta safra, sustentado em quatro pilares: simplificação do portfólio, foco no core business, eficiência operacional e fortalecimento da estrutura de capital”, diz o texto que abre o documento.

“Ao longo deste primeiro trimestre, evoluímos de forma consistente na execução dessa estratégia”, prossegue, lembrando fatos como a venda da usinda de Leme e a suspensão de atividades na histórica Santa Elisa, ou a alienação de plantas de geração distribuída.

A gestão da companhia lembra que o trimestre, na área que chama de EAB (Etanol, Açúcar e Bioenergia), foi bastante impactado por condições climáticas desfavoráveis, que reduziram a oferta de cana e, portanto, a produção nas unidades da empresa.

Com isso, a moagem caiu em mais de 20%, o que significou 21,5% menos açúcar e 26,7% menos etanol produzidos.

Curiosamente, houve entrega 40% maior de etanol de segunda geração (E2G), justamente uma das áreas em que a Raízen anunciou revisão, para baixo, do plano de investimentos. Isso, em função do “aumento da produção na planta Bonfim e início das operações nas plantas Univalem e Barra”.

O capítulo do endividamento mereceu atenção especial no balanço. Na mensagem inicial, a companhia afirma que segue “fortalecendo o perfil do endividamento e preservando uma posição de caixa sólida”.

Mais adiante, a Raízen informa que essa substituição atingiu R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro de curto prazo — principalmente ligadas a operações de convênios com fornecedores (risco sacado) — “por instrumentos de dívida mais eficientes e de prazos mais longos”.

De fato, um dos aspectos positivos notados nos indicadores é o do prazo médio ponderado de endividamento, que passou de 6 anos para 8,2 anos.

“Encerramos o trimestre com R$ 15,7 bilhões em caixa, além de aproximadamente R$ 5,5 bilhões (US$ 1,0 bilhão) em linhas comprometidas disponíveis de crédito rotativo (RCF)”, aponta o documento.

A empresa lembra que ainda não aparece no balanço uma captação de R$ 5,9 bilhões, feita em julho, incluindo a emissão de US$ 750 milhões em títulos com prazo de 7 anos e que espera receber cerca de R$ 2,6 bilhões relativos a desinvestimentos já anunciados.

Além disso, a Raízen avalia, segundo o documento, uma injeção de capital, “que poderá envolver os atuais ou novos acionistas”, com o objetivo de fortalecer a estrutura de capital e acelerar a desalavancagem.

Assim, quem sabe, o próximo trimestre pode ser mais animador para a empresa e investidores.

Resumo

  • A receita líquida do período(R$ 54,2 bilhões) foi 6,1% inferior ao do mesmo trimestre em 2024. Já o prejuízo líquido somou 1,8 bilhão
  • Endividamento saltou quase 56%, de R$ 31 bi em junho de 2024 para R$ 49 bi em junho de 2025. Alavancagem quase dobrou em 12 meses
  • Empresa afirma que alta da dívida reflete estratégia de substituição de linhas de curto prazo por outras mais longas e em condições melhores