Já não bastasse o prejuízo líquido de R$ 2,3 bilhões e a dívida que ultrapassou R$ 50 bilhões no segundo trimestre do ano safra-2025/26 da Raízen, a joint-venture entre a Cosan e a Shell tem mais questões a resolver.
Na noite de terça-feira, 9 de dezembro, a companhia informou aos acionistas que a B3, administradora da Bolsa brasileira, pediu à Raízen a divulgação de procedimentos e cronogramas para fazer com que sua ação seja reenquadrada no valor mínimo exigido pelo mercado.
A B3 tem algumas metodologias para barrar ações que custam menos de um real, as chamadas penny stocks. Alcançar preço superior a R$ 1 é um dos requisitos para que um papel possa se enquadrar em índices de mercado como o Ibovespa.
De acordo com a B3, uma ação passa a ser considerada uma penny stock depois que seu valor médio durante um período de três meses (a cada rebalanceamento do Ibovespa) seja inferior a R$ 1.
Quando está abaixo desse patamar, poucos centavos permitem que ela dispare, ao mesmo tempo que fica mais fácil a esse papel despencar, tornando a ação muito volátil e, assim, mais suscetível a movimentos especulativos.
A ação da Raízen é negociada abaixo dessa faixa desde o dia 6 de outubro, reflexo de uma sequência de balanços ruins, dívidas elevadas e uma frustração dos analistas de bancos e corretoras que acompanham a empresa.
A Raízen informou que está avaliando as alternativas e “adotará as medidas necessárias para promover tal reenquadramento dentro do prazo estipulado”, que termina em 29 de maio do ano que vem, ao mesmo tempo que continuará “levando em consideração a evolução da execução do seu plano de negócios”.
A companhia não vive seus melhores dias, é verdade, e enquanto promove uma grande reestruturação de portfólio, pessoal e operação, tem publicado balanços que mostram esse desafio.
No último trimestre, além do prejuízo e da elevação da dívida líquida para um patamar acima dos R$ 50 bilhões, a empresa ainda informou que operacionalmente, a plantação e colheita de cana tem trazido números abaixo do ano anterior.
Como se já não bastasse os indicadores no vermelho, os números apresentados vêm abaixo do que projetam os analistas.
O analista do banco Citi, Gabriel Barra, esperava, no último trimestre, um prejuízo líquido de R$ 450 milhões e uma receita de R$ 62 bilhões.
O faturamento da Raizen ficou, entretanto, em R$ 59 bilhões no trimestre, uma retração de 17,8% em um ano, e o prejuízo veio quase cinco vezes maior.
E o que pode trazer dias melhores para a empresa e, consequentemente, para suas ações negociadas na Bolsa? Gabriel Barra cita no relatório do banco que até observa esforços para melhora na alavancagem e na estrutura de capital, com destaque para redução de despesas e as vendas de usinas, mas o que deve animar o mercado ainda está por vir.
"As ações mais relevantes devem vir da venda da operação de Mobilidade Argentina e do possível aumento de capital, que está sendo avaliado”, disse. A operação da Raízen na Argentina tem alguns interessados, segundo especulações do mercado.
A coluna Pipeline, do jornal Valor Econômico, cita, em matéria publicada ao final de outubro que o BTG Pactual estava coordenando essa oferta e que cinco grandes grupos figuravam entre os possíveis compradores: as famílias Werthein, Sielecki e a empresa de energia CGC, que formou consórcio com a trading holandesa Vitol, além da americana RM Parks e a trading suíça Mercuria.
Já o aumento de capital seria feito através da entrada de um novo sócio na Raízen. A Bloomberg noticiou há alguns meses que a Mitsubishi seria uma das interessadas.
Até a Petrobras entrou na dança da boataria ao ser apontada como uma possível nova investidora, mas negou a intenção no início de agosto.
Enquanto as alternativas não se concretizam, a ação sofre na Bolsa. Desde o início de 2025, o papel RAIZ4 tem queda de mais de 60%.
Desde que abriu seu capital, em agosto de 2021, a ação da companhia saiu de R$ 7,10 para o patamar atual, próximo de R$ 0,84, uma baixa de 88%.
A falta de notícias positivas tem feito novas instituições financeiras avaliar negativamente a companhia. Só nos últimos 15 dias, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou seu rating corporativo e o UBS BB passou a recomendar a venda das ações, com um preço-alvo caindo 36%.
Resumo
- Pressionada por prejuízo bilionário, dívida acima de R$ 50 bilhões e desempenho operacional fraco, a Raízen entrou no radar da B3 por negociar abaixo de R$ 1 desde outubro e agora precisa apresentar como pretende reenquadrar o papel até maio de 2026
- A sequência de balanços fracos reforçou a fuga de analistas, enquanto alternativas como venda da operação na Argentina e possível aumento de capital ainda não saíram do papel
- A ação RAIZ4 acumula queda superior a 60% em 2025 e desabou 88% desde o IPO; rebaixamentos como o da Moody’s e a recomendação de venda do UBS BB ampliam a pressão sobre a companhia