No mercado da raça Nelore, é momento de aquecer os negócios. Mesmo em meio ao tarifaço promovido pelos Estados Unidos contra o Brasil, a os criadores apostam na convergência entre novos mercados, novos investidores e a continuidade de melhorias genéticas.
Pelo menos esse foi o clima que marcou o jantar de posse da nova diretoria da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), na noite de segunda-feira, dia 14 de julho, em São Paulo. Victor Paulo Silva Miranda foi reconduzido à presidência para um segundo mandato que vai até 2027.
“Estamos vivendo um momento mágico e impensável para a raça Nelore”, disse Miranda em uma entrevista a jornalistas depois da cerimônia, realizada no tradicional restaurante paulistano A Figueira Rubaiyat, nos bairro dos Jardins.
Além do presidente reconduzido, a nova diretoria conta com três vice-presidentes: o deputado federal Arthur Lira, ex-presidente da Câmara dos Deuptados, Felipe Picciani e Paulo de Castro Marques.
Em sua primeira gestão, iniciada em 2023, o foco do presidente Miranda foi “reorganizar a casa”, segundo o próprio disse em seu discurso da primeira posse.
Ao relembrar o primeiro biênio no comando da associação, Miranda citou que houve avanço no número de eventos, com 140 leilões no ano passado, um caixa que está 271% maior e até recordes batidos nas negociações de bois.
No final do ano passado, por exemplo, a vaca Nelore Carina FIV do Gado foi avaliada em R$ 24 milhões em um leilão no final de 2024, tornando-se a mais valiosa do mundo. “Isso mostra que retorno financeiro da raça é sólido, garantido. E está entrando muito investidor, muita gente de fora do agro colocando dinheiro no Nelore”, disse Miranda.
Na nova gestão, a ideia é ir além da pista de julgamento. “Temos o dever de desenvolver o mercado de carne vermelha Nelore, que hoje já chega a mais de 180 países. A raça é 80% do rebanho comercial nacional. Produzimos proteína vermelha de qualidade, em quantidade e com preço baixo”, afirmou.
Já na largada, o presidente terá de lidar com um imbróglio internacional: os Estados Unidos, um dos maiores importadores de carne bovina, anunciaram uma tarifa de 50% para os produtos vendidos do Brasil, o que de cara deve impactar alguns setores do agro, incluindo o da pecuária.
Miranda, no entanto, minimizou os impactos da recente guerra comercial e, além de outros destinos, aposta no elemento preço para o Brasil sair ileso dessa briga.
“Enquanto uma tonelada da nossa carne custa US$ 6 mil, lá fora o preço é acima de US$ 10 mil. Mesmo sem os americanos, temos Europa, China e Indonésia ampliando compras. Essa demanda só vai crescer”, disse.
O presidente da ACNB considera que a demanda global por carne está aumentando e que, diante disso, resta ao Brasil produzir com qualidade e quantidade, na mesma proporção em que conquista novos mercados.
Em relação aos americanos, país que ele considera “um grande parceiro”, acredita em uma superação da crise política já no curto-prazo.
“Os Estados Unidos estão diminuindo o rebanho, ao mesmo tempo em que a Europa não tem condição de aumentar sua produção. Então, o único país que tem força de trabalho, tem capacidade para produzir, é o Brasil”, disse.
“Eles (EUA) terão que comprar a proteína de alguém. Acho que isso vai se acomodar a curto-prazo, e não deve afetar tanto o mercado interno quanto o externo, nem a exportação”, acrescentou.
Na cotação do boi, o tarifaço começou a ser sentido. Em meio a exportações interrompidas e uma incerteza em relação às novas discussões, a cotação da arroba do boi gordo acumula baixa de cerca de 5% nos últimos sete dias, segundo dados do Cepea/Esalq. Há uma semana, a arroba negociada em São Paulo era cotada a R$ 310 e agora, a R$ 299.
Miranda, da ACNB, não vê motivos concretos para essa depreciação, avaliando a venda de carne para outros países do globo. “Tudo é um ciclo. Com bastante abate começa a faltar bezerro, o que acarreta na retenção de fêmeas e valoriza o preço do boi gordo. Acho que há uma grande oportunidade para o pecuarista recomprar essas fêmeas e reforçar seu plantel. Os EUA vão diminuir esse rebanho cada vez mais. É um caminho sem volta, vamos exportar cada vez mais”.
Mais negócios e novos investidores no radar
O novo biênio da ACNB deverá ser marcado por mais leilões, e com dinâmicas novas para os eventos.
Miranda avalia que a nova gestão terá uma agenda de aproximar o campo da Faria Lima, inclusive trazendo leilões para o centro financeiro de São Paulo.
“Vários investidores que não são pecuaristas estão investindo na raça. O Paulo Horto [diretor-presidente do programa Leilões], no momento em que termina um leilão já discute conosco como vamos superá-lo e, no ano seguinte, há um crescimento de 50%”, cita.
Voltando ao exemplo da vaca de R$ 24 milhões, Miranda afirma que esse é um investimento que se paga muito rápido e por isso o mercado financeiro começou a olhar para os bois com mais atenção. Nessa equação, cita que a associação entra para dar “credibilidade ao mercado”.
Para atender esses novos investidores e novos mercados, outro aspecto levantado por Miranda é a parte genética. Segundo ele, já existem animais de 18 meses pesando mais de 24 arrobas e zero dentes (expressão que se refere a um animal que ainda não trocou seus dentes de leite por dentes permanentes) e com uma lâmina de gordura de 6 a 8 milímetros, patamar exigido pelos importadores.
“O mercado vai ficando exigente. É como tomar vinho, pois uma vez que você toma um vinho bom você não quer voltar para o pior, igual na carne nelore”, disse.
Resumo
- Reeleito presidente da ACNB, Victor Miranda diz que, mesmo com tarifaço, é possível ampliar exportações brasileiras de carnes
- Ele acredita que a demanda global por carne e a escassez de rebanho em outros países manterão o mercado aquecido
- Nova gestão da entidade quer atrair investidores do mercado financeiro, levando leilões de elite para o centro econômico de São Paulo