Com faturamento de quase R$ 40 bilhões por ano, a brasileira Weg é uma das três maiores fabricantes globais de motores elétricos e vem apresentando crescimento consistente nos últimos anos, inclusive pela oferta de novos equipamentos eletroeletrônicos.
Os maiores clientes da empresa estão em setores como mineração e papel e celulose, mas já havia negócios com agroindústrias, em função de seus motores e sistemas de automação.
O mundo “rural”, porém, começa a representar novas oportunidades de vendas para a empresa de origem catarinense.
Durante um evento em Pedra Preta (MT), a 1600km da sede da empresa, que fica em Jaraguá do Sul (SC), o AgFeed conheceu o filho de um dos fundadores da Weg, Harry Schmelzer Neto, que hoje é diretor de negócios Solar & Bess (sistema de armazenamento de energia de bateria, na sigla em inglês).
Era um encontro com mais de 100 produtores rurais, com foco no algodão, promovido pela Girassol Agrícola.
“A gente não ia muito em feiras (do agro) para falar de solar justamente porque o mercado estava crescendo muito, nem precisava buscar novos nichos. Mas eu tive esse convite, me falaram que o algodão, as algodoeiras, usam muita energia. Então viemos divulgar novas opções de geração de energia e backup”, contou ele, em entrevista ao AgFeed.
A área liderada por Harry Neto já responde por cerca de 10% do faturamento da Weg, embora a empresa não divulgue números detalhados.
Em energia solar, a Weg já atua há mais de 10 anos, mas o segmento de baterias é uma espécie de complemento neste pilar de soluções.
“Com a bateria a gente consegue realmente atacar com força sistemas onde não tem rede (elétrica, tradicional). Porque sem a bateria até dá pra fazer um solar com diesel, que são sistemas que a gente chama de micro-redes, botar um solar junto e trabalhar os dois. Mas com a bateria eu não preciso do diesel. Então a gente consegue ter uma independência financeira para o produtor rural”, explicou.
O executivo diz o que agronegócio “passou a prestar mais atenção” à energia solar e ao complemento das baterias.
Ele lembra que mesmo onde há rede elétrica, no caso de Mato Grosso, por exemplo, a tarifa de energia é muito cara. “Colocar energia solar sai mais barato e é renovável, você não está queimando diesel”.
O maior uso de energia solar, defende Neto, pode ser usado dentro dos projetos de sustentabilidade que vem crescendo no agro, inclusive no agro.
O diretor da Weg diz que as vendas de produtos de energia solar vêm crescendo em média 40% ao ano, desde 2018, até o ano passado.
Para 2025, ele projeta maior estabilidade nos negócios de energia solar, em função das taxas de juros mais elevadas no País. Ainda assim, prevê um mercado mais aquecido para as baterias
“Como o solar cresceu muito, deu uma saturada, o próprio solar cria necessidade de bateria. Então agora a gente acredita que o crescimento da bateria vai ser em ritmo bem maior nesse momento”, afirmou.
Nas baterias, também há expectativa de mais vendas para o agronegócio dentro do que a Weg chama de offgrid, que é para substituir o gerador. Harry Neto também acredita em maior potencial no agro junto aos clientes que não têm energia disponível.
Em outra frente, ele relata uma demanda nas cidades para que as distribuidoras consigam equilibrar o que entra na rede por energia solar
“Entra solar das 11h às 1h quando, em qualquer lugar do mundo é o sol mais forte. E nesse período não é a maior demanda. Então a bateria vem para armazenar, é usada para o que a gente chama de time shift, para trocar um momento de uso de energia”.
Atualmente, ele calcula que apenas 10% dos clientes de energia solar estejam ligados ao agronegócio. A expectativa é crescer no segmento, principalmente porque o custo ficou mais acessível, segundo Neto.
“O solar vem caindo de preço ano a ano, então está cada vez mais viável. E agora a bateria também caiu de preço por causa dos carros elétricos”.
Na visão dele, os produtores ainda não estão fazendo esta conta, das vantagens de substituir o diesel com energia solar e baterias.
“Eu acredito que o pessoal não está calculando porque o payback está muito atrativo. E nesse conceito ESG dá para vender o meu algodão que usa energia limpa”.
Em função disso, o diretor da Weg contou ao AgFeed que, dentro de sua diretoria, acaba de criar uma “seção agro”, com times especializados para atender esses clientes.
“A gente deixava na mão do canal normal, porque a Weg já vendia muito motor para o agro”, disse ele, reforçando que não havia uma prioridade para oferecer a solução de energia solar. A partir de agora o plano é ampliar a presença da Weg em eventos e feiras do agronegócio.
A estratégia pode ajudar a empresa em um momento especialmente delicado. A Weg tem os Estados Unidos como um mercado importante para seus produtos e também depende de diferentes matérias-primas importadas.
Desde o início do ano as ações da empresa já caíram cerca de 30% e, se considerado apenas o mês julho (com o anúncio do tarifaço de Trump) a queda é superior a 8%. Porém, desde a semana passada os papeis começaram uma reação, de quase 3%, coincidindo com a inclusão de seus produtos entre as exceções sobre as quais não incidirão tarifas adicionais de até 50%.
Segundo um relatório recente do BTG Pactual, a taxação da exportação dos motores elétricos do Brasil para os EUA representava o maior risco para a companhia. Isso porque uma eventual tarifa poderia implicar em um custo adicional de R$ 809 milhões por ano para a Weg.
Resumo
- A Weg, tradicional fabricante de motores elétricos, está investindo no agronegócio com soluções de energia solar e sistemas de baterias
- A empresa criou uma “seção agro” para atuar diretamente no setor rural. A meta é atender produtores rurais que buscam independência energética e redução de custos
- A aposta no agro pode ajudar a Weg a mitigar riscos em mercados internacionais