O biochar é um fertilizante orgânico, produzido ancestralmente pelos povos amazônicos a partir da queima de resíduos de plantas. Tem sido estudado há décadas, mas poucas iniciativas conseguiram avançar para a viabilização de sua produção em escala.

A startup franco-brasileira NetZero, criada em 2021, é uma delas e acaba de dar um grande passo para ampliar de forma significativa seu projeto de popularizar o adubo, que um de seus fundadores, o brasileiro Pedro Figueiredo, classifica como “quase um milagre”.

Graças a suas características físicas e químicas, esse “carvão esponjoso” ajuda na retenção de umidade e de carbono no solo, além de proporcionar ganhos de produtividade médios de 25%, segundo a empresa.

Nesta quarta-fera, 17 de setembro, o cofundador e diretor geral da NetZero, o francês Olivier Reinaud, anunciou nesta quarta-feira, 27 de março, que a startup recebeu um aporte de 18 milhões de euros (cerca de R$ 100 milhões) do fundo de investimentos de impacto STOA, criado a partir de recursos do governo francês e da Agência Francesa para o Desenvolvimento (AFD).

“A maioria dos recursos virá para ampliar nossas operações no Brasil”, afirmou Reinaud, em entrevista ao AgFeed. “Além da construção de novas plantas, vamos reforçar as equipes nas áreas de negócios e de pesquisa e desenvolvimento e, assim, preparar a escalabilidade do biochar”.

A NetZero tem uma planta em operação no município de Lajinha, na região cafeeira do Sul de Minas Gerais. Fruto de um investimento de R$ 20 milhões, foi erguida em um terreno cedido pela Coocafé e atenderá a 360 associados da cooperativa.

Uma segunda já está sendo construída em Brejetuba (ES), também em região de produção de café. Com a injeção de recursos, Reinaud afirma que a empresa espera lançar mais três novas plantas ainda este ano e outras duas em 2025.

Todas elas usarão resíduos das lavouras cafeeiras na produção do biochar. Até o momento, a cultura tem sido o principal foco da empresa, em função da sua adequação à tecnologia desenvolvida pela NetZero.

Reinaud afirma que os investimentos recebidos nesta rodada e em outras realizada no ano passado – que teve entre os investidores gigantes como a fabricante de automóveis Stelantis e a indústria de cosméticos L’oreal e atingiu 11 milhões de euros (cerca de R$ 55 milhões) – serão utilizados também na diversificação para outras culturas, com prioridade para a cana-de-açúcar.

Esse é um dos desafios da área de desenvolvimento da empresa. Outro é tornar mais rápido o processo de implantação das unidades de produção. Hoje, segundo ele, a construção de uma fábrica de biochar dura em média de seis a oito meses.

“Queremos ter um sistema mais rápido e escalável, com o objetivo de baixar esse prazo para menos de quatro meses”, diz.

Segundo Reinaud, as duas rodadas de investimento, com a participação de grandes grupos e investidores como o Stoa, “indicam que o mercado já entendeu que que o biochar é uma solução viável e tem maturidade para escalar”.

O aporte na NetZero é o primeiro do fundo francês em um projeto relacionado ao sequestro de carbono. Até agora, o foco do Stoa era em projetos de infraestrutura. No Brasil, o fundo já tem investimentos em operações de energia fotovoltaica e eólica no Rio Grande do Norte e é um dos acionistas da concessionária da Linha 6 do metrô de São Paulo.