Cristiano Pinchetti terá trabalho mais do que dobrado este ano. O executivo brasileiro, recém-promovido a head internacional e CEO para a América Latina e Europa da Indigo Ag - que concentra as operações fora dos Estados Unidos - detalhou, em entrevista ao AgFeed, suas principais missões no curto prazo dentro da companhia.
A primeira delas é acessar todos os mercados possíveis para a Indigo no Velho Continente. A segunda é iniciar, de fato, as operações com mercado de carbono no Brasil.
Além disso, Pinchetti será o responsável pela abertura de novas regiões para os produtos da agtech americana,que foi considerada a mais valiosa do mundo, sendo a que em menos tempo atingiu o status de unicórnio e atingindo, em setembro de 2021, um valor de mercado estimado em US$ 3,5 bilhões. Mas foi ambiciosa demais, decepcionou investidores e, dois anos depois, havia despencado para US$ 200 milhões.
De lá para cá, reorganizou seus negócios, enxugou suas operações para os braços de sustentabilidade - a empresa foi pioneira na "colheita" de uma safra mundia de créditos de carbono agrícolas em escala - e o de produtos biológicos, seu principal foco de negócios.
Pinchetti vê a Europa como uma espécie de nova fronteira para a companhia. Aquele mercado está, nas suas palavras, no mesmo estágio do brasileiro há quatro anos. “Estamos presentes nos mercados da Turquia e temos negócios na Alemanha, além do Centro e Leste europeu. Mas o plano é ampliar isso e acessar todos os mercados relevantes por lá”, disse.
Já no Brasil, onde até ser promovido, em abril, ocupava o posto de CEO, Pinchetti quer transformar em negócio de fato as operações de crédito de carbono. Com esse mercado regulado no ano passado no País, a Indigo Ag buscou na divisão estadunidense, onde já negociou 640 mil créditos, o modelo a ser implantado localmente.
“O mercado brasileiro aqueceu, o movimento recente é muito interessante e, além de mantermos as conversas, nos últimos seis meses temos sido procurados por players em diferentes estágios para trabalhar com a Indigo”, disse.
“A operação demanda muita preparação e a expectativa é de se tornar realidade no nosso próximo ano fiscal, a partir de julho”, completou o executivo, que admitiu já ter compradores para os possíveis créditos a serem emitidos.
Já o mercado de biológicos, que sustenta, até agora, as operações brasileiras, vai de vento em popa para a agtech, segundo o executivo. Os 300 mil hectares com biológicos da companhia em 2019 se transformarão em mais de 4 milhões de hectares na safra 2024/2025, alta de 40% na área e de 25% na receita sobre 2023/2024.
Para 2025/2026, a meta é crescer mais 25% em área e em faturamento e superar 5 milhões de hectares. “É um crescimento bastante factível dado que já tivemos uma safra melhor, com menos problemas climáticos e consolidamos nossos clientes”, explicou Pinchetti.
Ecoando os temores do mercado, o executivo considera o crédito restrito pela alta nos juros e a quantidade de recuperações judiciais como limitadores para o crescimento da companhia.
“O cenário de crédito segue estressado e o grande acúmulo de alavancagem tem trazido muitas recuperações judiciais, que não vão acabar tão cedo”, disse.
“Mas isso já está no preço, sabemos que o agricultor vai plantar e, assim como crescemos em 2023 e 2024, com o mercado estressado, tudo indica que teremos um ano mais positivo do que negativo”, completou Pinchetti.
Além de mais duas dezenas de produtos, a Indigo Ag pretende fazer ao menos um lançamento por ano no Brasil. Para 2025, será o primeiro biofungicida endofítico.
Essa categoria de produtos tem como característica permanecer na planta desde a aplicação até a colheita, sem estar sujeita à ações externas que tragam a perda de efetividade.
Outras duas decisões da Indigo Ag para o Brasil passam pelo congelamento nas captações de mercado ao menos até 2026 e também em não ter uma fábrica própria por aqui. Para Pinchetti, a operação que levantou R$ 450 milhões por meio de um Fiagro foi suficiente para capitalizar a empresa nos 18 meses do vencimento dos papéis.
“Enquanto tiver com essa operação, não há necessidade de outra. Quando houver o vencimento, faremos mais alguma”, afirmou.
De acordo com o head internacional e CEO para a América Latina e Europa da Indigo Ag, o modelo de produção no Brasil, com a formulação dos biológicos em parceria com outras indústrias, é o ideal e deve ser ampliado.
“A capacidade fabril de biológicos é grande, há uma ociosidade e não é espaço para entrar com ativos fixos. Estudamos, inclusive, mais parcerias de longo prazo para produção”.
Por fim, a companhia espera ampliar, na cana-de-açúcar, seu leque de clientes, hoje restrito às três principais culturas - algodão, milho e soja - além de arroz e trigo.
Para Pinchetti, o setor canavieiro tem exigido cada vez mais do mercado de biológicos e “se mostrou super promissor para a Indigo nos testes de campo”.
Resumo
- Cristiano Pinchetti, novo CEO da Indigo Ag para América Latina e Europa, quer ampliar a presença da empresa na Europa e iniciar de fato as operações com crédito de carbono no Brasil
- A área com produtos biológicos no Brasil deve ultrapassar 5 milhões de hectares em 2025/2026
- A empresa diz que está capitalizada, congelou novas captações até 2026 e manterá a produção terceirizada no Brasil