Dentro de campo, um golaço do Bayer Leverkusen, time de futebol da primeira divisão alemã. Dentro do campo, os velhos fantasmas de sempre, apesar dos esforços dos dirigentes em acertar a defesa antes de partir para o ataque.

Assim se resume a divulgação do balanço do segundo trimestre de 2025 para a gigante química alemã Bayer, feito na manhã desta quarta-feira, 6 de agosto. Do lado positivo dos números, chamou a atenção o impacto financeiro da venda do atacante Florian Virtz pela equipe controlada pela companhia - o inglês Liverpool pagou o equivalente a US$ 154 milhões para tê-lo em seu time.

Mas no que trata dos negócios tradicionais da multinacional alemã, tem sido difícil comemorar, em uma rotina que se arrasta já alguns anos. O passivo da Monsanto continua atrapalhando o desempenho da Bayer passados sete anos da compra da empresa americana pelos alemães.

Entre abril e junho deste ano, Bayer registrou um prejuízo líquido de 199 milhões de euros, bastante superior ao resultado, já negativo, de 34 milhões de euros aferido no mesmo período do ano passado.

O grande destaque ficou por conta de novas provisões envolvendo o herbicida Roundup, principal produto da Monsanto. Nos últimos meses, a Bayer sofreu novos revéses em processos envolvendo o produto, alvo de disputas na Justiça americana há anos.

Dessa forma, a companhia teve de fazer, ao longo do segundo trimestre, uma provisão adicional de 1,2 bilhão de euros para questões envolvendo o glifosato e de aproximadamente 530 milhões de euros para disputas envolvendo PCBs, outro produto que era vendido pela Monsanto no passado.

Assim, a companhia reservou, para o ano, 1,7 bilhão de euros em provisões para as disputas judiciais nos Estados Unidos e reforçou que pretende conter os prejuízos que os processos têm trazido à companhia nos últimos anos.

“Afirmamos nosso objetivo de conter significativamente o risco de litígios até o final de 2026”, disse o CEO da Bayer, Bill Anderson, na semana passada.

“Além disso, recentemente retiramos milhares de casos da mesa por meio de acordos confidenciais com uma média de baixo custo por caso no litígio do glifosato."

Na área de Crop Science, as vendas caíram 3,9% em termos nominais, passando de 4,981 bilhões de euros há um ano para 4,788 bilhões de euros agora – ainda que, em números com ajuste cambial e de portfólio, tenham subido 2,2%.

Houve crescimento das vendas de sementes de milho, que cresceram 29,5%, devido a aumentos globais de preços e expansão de área plantada.

Em contrapartida, houve uma queda generalizada registradas na linha de produtos químicos, como inseticidas (-13,1%) e fungicidas (-5,7%), e também em sementes, com resultados mais fracos em sementes de algodão (-25,5%) e de soja (-18,1%).

Os efeitos negativos são principalmente decorrentes da suspensão do herbicida dicamba nos Estados Unidos e da expiração do registro do produto Movento na Europa, diz a Bayer.

Já as vendas de herbicidas sem glifosato apresentaram leve crescimento, de 1,4%, sob efeito de mais volumes na América Latina e na região que concentra Europa, Oriente Médio e África.

No segundo trimestre, o ebtida antes de itens especiais cresceu 32%, chegando a 693 milhões de euros, ante 524 milhões de euros no mesmo período do ano, sob efeito de mais vendas de sementes de milho e custos mais baixos.

Já o ebit ficou negativo em 414 milhões de euros, ante número também negativo de 229 milhões de euros no mesmo período do ano, impactado negativamente pela necessidade de provisões para as disputas na Justiça envolvendo o Roundup.

Considerando todo o primeiro semestre de 2025, as vendas de Crop Science caíram 1,2% em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a US$ 12,3 bilhões de euros.

A companhia elevou, no entanto, sua projeção de vendas geral (considerando Crop Science e demais áreas) ao longo de 2025 e agora espera que elas cheguem a uma faixa entre 46 e 48 bilhões de euros – a projeção anterior era de uma faixa que ia de 45 a 47 bilhões de euros.

As vendas da Bayer como um todo recuaram 3,6% no segundo trimestre em termos nominais, atingindo 10,739 bilhões de euros. No primeiro semestre como um todo, a retração foi de 1,7%, também em valores nominais, com o resultado de vendas atingindo 24,4 bilhões de euros.

A companhia também informou, segundo informações da agência de notícias Reuters, que já demitiu 12 mil funcionários desde o início do Dynamic Shared Ownership (DSO), processo implantado no começo de 2024 e que busca reduzir hierarquias e cargos.

A companhia fechou o segundo trimestre de 2025 com 89,5 mil funcionários ao redor do mundo, 7% a menos do que há um ano, quando empregava 96,5 mil pessoas.

A ideia da Bayer é economizar 2 bilhões de euros em despesas até 2026 e, somente neste ano, a companhia projeta uma economia de 800 milhões de euros.

À frente dessa reestruturação está Bill Anderson, o CEO da Bayer, que ganhou um voto de confiança da companhia no mês passado ao ter seu contrato renovado por mais três anos, indo até 2029. Anderson assumiu a Bayer em 2023 e seu contrato ia até 2026.

"Sei que o horizonte de tempo estendido suscita questionamentos sobre como a Bayer estará no final da década. Essas são perguntas válidas e importantes, que levamos muito a sério”, disse Anderson a investidores nesta quarta-feira.

“Neste momento, vocês entenderão que nosso foco está no maior trabalho que a empresa enfrenta – entregar o ano, construir nossos pipelines, resolver litígios, melhorar a lucratividade da Crop Science, tornar toda a Equipe Bayer mais enxuta e rápida, com o máximo impacto na missão".

"Posso garantir que sairemos desse trabalho com uma visão de como a Bayer pode melhor cumprir sua missão para o restante desta década e além", prometeu.

Apesar das promessas de Anderson, os investidores parecem não ter recebido bem os resultados da companhia, que é listada na Bolsa de Frankfurt, na Alemanha.

A percepção de que os lucros com a venda do jovem craque Virtz maquiaram uma perda maior desagradou o mercado e às 10h (de Brasília) desta quarta-feira, as ações da Bayer registravam queda de 6,29%, cotadas a 26 euros.

Resumo

  • Bayer teve prejuízo líquido de 199 milhões de euros no trimestre, pressionada por provisões judiciais ligadas ao Roundup e produtos da antiga Monsanto
  • Vendas da divisão Crop Science caíram 3,9% nominalmente, com alta em sementes de milho (+29,5%) e queda em químicos e sementes como soja (-18,1%) e algodão (-25,5%)
  • Empresa demitiu 12 mil pessoas desde o início de seu processo de reestruturação e mantém meta de economizar 2 bi de euros até 2026