A área potencial tratada com defensivos e tecnologias de proteção de cultivos no Brasil atingiu 1,414 bilhão de hectares na safra 2024/2025, encerrada em 30 de junho, alta de 12% sobre o total de 1,263 bilhão de hectares do período anterior. O levantamento FarmTrak Soja, da Kynetec Brasil, antecipado ao AgFeed, inclui várias aplicações de produtos em uma área de cultivo da cultura.

Os produtores rurais desembolsaram US$ 9,448 bilhões no período, queda de 4,3% sobre os US$ 9,871 bilhões do ciclo 2023/2024. Segundo o especialista em pesquisas da Kynetec Brasil, Cristiano Limberger, a desvalorização do dólar e a “erosão” de preços de alguns produtos foram dois fatores principais para o menor custo dos sojicultores.

Conforme o executivo, a redução do faturamento do setor de defensivos na soja veio associada, principalmente, à combinação entre a desvalorização do real frente ao dólar, de 7,7% na safra, e a retração média de 8% nos preços e custos dos produtos.

“Tem um impacto importante cambial e também o de alguns segmentos que houve erosão de preços, principalmente herbicidas, com a adequação de preços, mesmo em Real”, afirmou Limberger. No segmento de herbicidas, o especialista cita a queda nos glifosatos, cujos preços “estão se readequando” aos padrões históricos.

Entre as três principais classes de defensivos, a de fungicidas é a mais premium, que tem produtos com patente e mais inovações. Inseticidas estão no segundo nível e herbicidas é o mercado mais generalista, o que ajudou na queda dos preços.

“A gente tem moléculas muito antigas e as principais do mercado já perderam patente há um bom tempo. Então, herbicidas é o segmento, digamos, mais sujeito a impactos de precificação e mesmo de concorrência com as empresas chinesas que estão entrando com força, o que traz um custo mais atrativo ao produtor”.

Em relação à área aplicada, o crescimento ocorre por causa de maiores utilização e demanda por tecnologia no campo. Para a safra 2025/2026, Limberger projeta um cenário ainda de crescimento na área e manutenção ou leve redução nos preços ante o período anterior.

Segundo o especialista em pesquisas da Kynetec Brasil, a demanda por mais tecnologia ocorre pela pressão de pragas e doenças, manejo de plantas daninhas cada vez mais complexo.

“No painel a gente faz algumas perguntas para o produtor pensando na próxima safra, principalmente em relação à área, ao uso de produtos, de tecnologias e se a área vai continuar crescendo. Aí se discute se vai ser 1%, 2%, enfim, ou até um pouco mais”, disse “Temos grandes grupos, investimento e demanda diante da representatividade do Brasil no cenário global de soja”.

Em relação aos preços, o cenário segue atrelado ao câmbio, que aponta certa estabilidade nos preços em dólar, com algum espaço para ajustes dos valores em Reais.

“Existe espaço para reduzir em alguns casos, como dos produtos mais premium, mas a tendência realmente é de um cenário mais de manutenção ou de pequena queda de valores”, explicou o executivo.

Setores

O levantamento da Kynetec mostra que entre os produtos mais demandados na safra 2024/2025, os fungicidas foliares se mantiveram na ponta e a participação cresceu de 38% para 40%. As vendas no segmento avançaram 3% para US$ 3,819 bilhões. Segundo Limberger, nesse segmento as transações mais robustas envolveram fungicidas “premium”, com 64% de participação.

O segmento de inseticidas foliares representou 23,6% do total de vendas ou US$ 2,23 bilhões em 2024/2025, um decréscimo de 9%. De acordo com Limberger, a pressão da mosca branca na safra 2023/2024, quando a estiagem foi maior, não foi tão intensa no período passado, mais chuvoso, o que colaborou com a queda nos custos.

Herbicidas, historicamente a terceira categoria em comercialização entre os defensivos agrícolas da soja, mantiveram a posição mas também apresentaram declínio em desempenho econômico e na participação nas vendas totais. O setor respondeu por 23%, ou US$ 2,18 bilhões, dos negócios, frente a 25%, ou US$ 2,4 bilhões, da temporada 2023/2024.

Dados do FarmTrak Soja apontam ainda que produtos específicos para tratamento de sementes responderam por 6% das vendas, ou US$ 558 milhões, e os nematicidas atingiram US$ 250 milhões, 2,6% do mercado total. Esse subsegmento, avalia Limberger, segue em crescimento safra após safra em valor e adesão, que passou de 31% para 36% da área cultivada em 2024/25.

“Existe um espaço importante para crescimento, principalmente no Sul e em cima bionematicidas, alternativa com custo interessante para o produtor. O nematicida, com certeza, vai continuar crescendo seja pela maior adoção, que ainda é parcial, seja pelo impacto do dano da praga, seja por eventos mercadológicos, como essa oferta dos biológicos e o tratamento já nas sementes uma prática que vem crescendo”

Em relação às biotecnologias em 2024-25, destaque para o crescimento na área plantada com variedades com tolerância a lagartas ou "Bt" de segunda geração, que ocuparam 24% da área total de soja, ante 11% da safra passada. “As empresas ofertaram as tecnologias de segunda geração, já que a patente da primeira geração caiu e há uma plataforma mais robusta.”

De acordo com a Kynetec, a área cultivada de soja nas regiões pesquisadas pela consultoria foi de 46,3 milhões de hectares, alta de 5,2% comparada à do levantamento FarmTrak da safra 2023/2024.

Ainda conforme o FarmTrak Soja 2024-25, Mato Grosso continua o principal estado produtor da oleaginosa, com 28% da área cultivada, seguido por Rio Grande do Sul (14,3%), Paraná (12,7%) e Goiás (11%).

“Os estados agrupados “Bamatopipa” (Bahia, Maranhão, Tocantins, Piauí e Pará) representaram mais de 15% do plantio. Formam hoje a principal fronteira de expansão da sojicultura, com crescimento de 9%, um indicador situado bem acima da média de outras regiões”, conclui Cristiano Limberger.

O FarmTrak Soja 2024/2025 resultou de mais de 3,7 mil entrevistas realizadas com agricultores das principais regiões produtoras de soja do país.

Resumo

  • Levantamento FarmTrak Soja, da Kynetec Brasil, indica que área potencial tratada de soja atingiu 1,414 bilhão de hectares na safra 2024/2025
  • O total é 12% superior aos 1,263 bilhão de hectares do período anterior, mas produtores rurais desembolsaram 4,3% menos com insumos
  • Desvalorização do dólar e a “erosão” de preços de alguns produtos foram dois fatores principais para o menor custo dos sojicultores

Cristiano Limberger, especialista em pesquisas da Kynetec Brasil