Na relação entre as big techs, companhias com operações que demandam grandes quantidades de energia, e o mercado de créditos de carbono, a Microsoft, de Bill Gates, parece estar na dianteira.

Depois de anunciar no ano passado uma das maiores transações envolvendo créditos provenientes da remoção de carbono da atmosfera, assumiu, nesta terça-feira, 27 de maio, o compromisso de comprar 60 mil créditos de carbono do solo provenientes da Indigo Ag.

Os créditos virão da quarta “safra de carbono” da startup e expandem a aquisição inicial de 40 mil créditos feita em junho passado.

A Microsoft, assim como todas as big techs, investem há tempos em projetos que visam compensar o consumo de energia de seus grandes polos de processamento de dados. Com o avanço das tecnologias de inteligência artificial, o tema ganhou ainda mais força.

Em junho do ano passado, a companhia fundada por Bill Gates anunciou que desembolsaria US$ 1 bilhão para a compra de 8 milhões de crédito de carbono que serão investidos na estratégia de reflorestamento e restauração do Timberland Investment Group (TIG), do BTG Pactual, que tem a Conservation International como parceira.

Segundo comunicado do TIG, os créditos serão entregues até 2043 por meio de um projeto de US$ 1 bilhão realizado pelo grupo na América Latina. Na transação com a Microsoft, os créditos virão da conservação, restauração e plantio de propriedades desmatadas e degradadas em regiões selecionadas da América Latina, incluindo o Cerrado brasileiro.

O BTG Pactual é hoje, através de suas empresas, um dos maiores detentores de ativos de timber (madeira) e florestais do mundo. O site da TIG informa que são US$ 7,3 bilhões em ativos e compromissos e quase 1,1 milhão de hectares sob gestão nos EUA e na América Latina, com 38 milhões de árvores plantadas em 2024.

Além dos créditos de carbono, a Microsoft tem apostado em outras iniciativas de conservação. A companhia hoje compra “créditos de água” da startup argentina Kilimo. No modelo de negócio da agtech, ela fornece uma plataforma que ajuda os produtores rurais a gerenciarem o uso da água e energia, em troca de uma compensação financeira por essa economia. Quem paga é uma empresa como a Microsoft.

Em um projeto que as duas empresas possuem no Chile, o impacto estimado é de uma economia de 1,5 milhão de metros cúbicos de água em três anos, quantidade suficiente para encher 600 piscinas olímpicas.

Do lado da Indigo, a empresa espera canalizar dezenas de milhões de dólares com compradores privados dessa nova “safra de carbono” obtida com a redução de emissões e o squestro do caarbono no solo em projetos de agricultura regenerativa. A ideia é utilizar o recurso para apoiar agricultores nos Estados Unidos.

O Brasil entrou na equação da Indigo recentemente. Em entrevista concedida ao AgFeed em maio deste ano, o novo CEO da América Latina e Europa da Indigo Ag, Cristiano Pinchetti, detalhou que uma de suas metas é iniciar as operações com mercado de carbono no Brasil.

Com esse mercado regulado no ano passado no País, a Indigo Ag buscou na divisão estadunidense, onde já negociou 640 mil créditos, o modelo a ser implantado localmente.

"O mercado brasileiro aqueceu, o movimento recente é muito interessante e, além de mantermos as conversas, nos últimos seis meses temos sido procurados por players em diferentes estágios para trabalhar com a Indigo", disse.

No modelo de negócio da Indigo, a receita vem de duas formas: da venda de créditos de carbono e da comercialização de insumos biológicos.

No Brasil, os 300 mil hectares com biológicos da companhia em 2019 se transformarão em mais de 4 milhões de hectares na safra 2024/2025, alta de 40% na área e de 25% na receita sobre 2023/2024.

Para 2025/2026, a meta é crescer mais 25% em área e em faturamento e superar 5 milhões de hectares. "É um crescimento bastante factível dado que já tivemos uma safra melhor, com menos problemas climáticos e consolidamos nossos clientes", explicou Pinchetti. Globalmente, são 8 milhões de hectares utilizando produtos da Indigo.

Considerando todas as safras de carbono, a Indigo acredita que já gerou quase uma megatonelada de impacto climático, evitando o escoamento de 64 bilhões de galões de água superficial.

“Quando a Microsoft, reconhecida como um dos principais impulsionadores do mercado de carbono, investe nos créditos da Indigo, confirma sua confiança na nossa ciência, equipe e tecnologia,” disse Dean Banks, CEO da Indigo Ag, também em nota.

“O trabalho da Indigo para desenvolver propriedades agrícolas mais resilientes e proteger bacias hidrográficas nos EUA gera benefícios climáticos mensuráveis, além de melhorar a saúde do solo e da água e criar novas oportunidades de desenvolvimento econômico em comunidades rurais,” completou Brian Marrs, Diretor Sênior de Energia e Remoção de Carbono da Microsoft. Outros compradores dos créditos recentemente emitidos pela Indigo incluem a empresa de software HubSpot.

Resumo

  • Microsoft comprará 60 mil créditos de carbono da Indigo Ag, ampliando sua aposta em compensação de emissões
  • No passado, big tech já havia comprado 8 milhões de créditos de carbono do TIG, do BTG Pactual
  • A Indigo Ag combina venda de créditos de carbono e biológicos agrícolas como modelo de negócio, com planos de crescer no Brasil nas duas vertentes