Se para alguns setores do agro o período é de crise e de compras restritas, para a recicladora de embalagens Campo Limpo, a situação é bem diferente.
A empresa, que tem 25 indústrias de defensivos agrícolas como sócias, atingiu pela primeira vez o patamar de “meio bilhão de reais” em receita neste ano de 2025, um avanço de 15% em relação a 2024.
Em entrevista ao AgFeed, o CEO da Campo Limpo, Marcelo Okamura, explicou que o aumento de área plantada segue ocorrendo, especialmente em estados como Mato Grosso, Tocantins e Rondônia, em função da conversão de pastagens em lavouras, o que acaba aquecendo a demanda por defensivos e, consequentemente, pelas embalagens que a empresa produz.
O trabalho da Campo Limpo foi uma evolução de um sistema que começou com a criação do Inpev (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias), em 2001, quando as embalagens de defensivos agrícolas passaram a ser recolhidas, uma medida com foco ambiental para evitar resíduos no campo e também como incentivo para a reciclagem.
Sete anos depois, as fabricantes de defensivos acabaram optando por criar uma empresa de reciclagem, que receberia os materiais para produzir embalagens novas.
Segundo Okamura, a Campo Limpo está contabilizando este ano uma produção de 15 a 16 milhões de embalagens equivalentes a 20 litros, 50 milhões de tampas e 15 a 17 mil toneladas de resinas.
“Nós tivemos um crescimento importante na produção de embalagens, de 12% a 15%. A nossa produção de tampas também cresceu bastante, mais de 25%, e nas resinas foi 30%”, disse.
O CEO da Campo Limpo explica que muitas das fabricantes de defensivos vêm registrando queda na receita, mas isso jamais foi atrelado a uma redução dos volumes de produto comercializado. O faturamento menor foi provado pelos preços mais baixos. Portanto, para quem fabrica a embalagem, a demanda só aumentou.
“Em termos de volume, o mercado brasileiro é crescente. Para o ano que vem, temos uma projeção de que ele vai crescer acima de 6,5% em volume”, afirmou.
A previsão de crescimento da Campo Limpo é maior que a estimativa de mercado. A expectativa é avançar 12% em volume e, no mínimo, 10% em receita, segundo o CEO.
O sistema Campo Limpo, que engloba o Inpev, é uma empresa sem fins lucrativos. Já a Campo Limpo S/A tem fins lucrativos.
O executivo explica que parte do resultado líquido é usado pelas 25 indústrias sócias para abater cursos da logística reversa. Uma outra parte é reinvestida na própria empresa, que tem três negócios diferentes: embalagens, tampas e resinas.
“Nós não pegamos, por exemplo, financiamentos externos, portanto 100% do crescimento da Campo Limpo, do sistema todo, é feito com recurso próprio”, explicou.
O volume de embalagens usadas recebidas via Inpev aumentou 12% em 2025, na comparação com o ano passado. Atualmente, a lei na maioria dos estados é rigorosa para que os produtores rurais entreguem o material já usado nos postos de recolhimento.
No caso de pequenos produtores, o sistema também oferece um serviço itinerante, quando caminhões passam em cada região para facilitar a entrega.
“O mercado de embalagens, nos últimos 5 anos, ele cresceu quase 80%. Há 5 anos ficou muito parado em torno de 50 mil toneladas, que era o que voltava do mercado. Esse ano, nós vamos fechar com quase 70 mil toneladas. No ano que vem, nós estamos programando receber mais de 80 mil toneladas”, ressaltou.
A Campo Limpo calcula que já esteja recebendo cerca de 90% das embalagens de defensivos que são usadas no campo. A parte que ainda não chega, geralmente, está relacionada a operações clandestinas de reciclagem, segundo Okamura.
Algumas embalagens produzidas pela empresa já utilizam 100% de resina reciclada. Há alguns anos, o mais comum era ter ao menos 15% de resina virgem. Hoje, a maior parte é feita com 95% de matéria-prima reciclada.
Novos investimentos
Os volumes maiores fizeram a indústria atingir 100% da capacidade, por isso o plano agora é fazer investimentos que incluem, por exemplo, a instalação de uma nova “sopradora”, modelo de máquina que transforma o molde de plástico reciclado numa embalagem de defensivo.
Em 2025, Okamura diz que já foram investidos cerca de R$ 20 milhões. Nos próximos três anos, o plano prevê aportes de R$ 140 milhões.
“No ano que vem, nós vamos fazer investimentos na produção de resinas e vamos também na produção de embalagens”, disse.
O aumento previsto está entre 4 e 6 mil toneladas, no período de três anos, o que seria, 20 milhões de embalagens equivalentes.
O AgFeed apurou que uma outra promessa de crescimento para a Campo Limpo é a possibilidade de passar a reciclar também as embalagens de fertilizantes especiais. A empresa já está conversando com a Abisolo, que representa o segmento, para que no ano que vem, possivelmente, inicie o trabalho pelo estado de São Paulo. Por enquanto, a recicladora está restrita a embalagens de defensivos agrícolas, sejam eles químicos ou biológicos.
O modelo brasileiro já vem sendo replicado em outros quatro países. Segundo Okamura, “a primeira embalagem produzida a partir de resina reciclada para o mercado de defensivo agrícola foi produzida no Brasil, portanto, é uma patente brasileira”.
Ele contou que foi procurado, recentemente, por lideranças da Tailândia, interessadas em conhecer o sistema brasileiro para implementar algo semelhante no país.
Resumo
- A Campo Limpo, recicladora de embalagens de defensivos agrícolas, atingiu faturamento recorde de R$ 500 milhões em 2025, com alta de 15% sobre 2024
- Impulsionada pela expansão da área plantada, a empresa projeta crescer ao menos 10% em receita e 12% em volume em 2026, acima da média do mercado
- Com capacidade plena, a companhia prevê investir R$ 140 milhões em três anos para ampliar a produção de resinas e embalagens com alto teor de material reciclado